Capítulo Dezesseis

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Durante esses anos longe do papai, houve uma música do John Mayer que sempre falou por mim o que eu não conseguia colocar em palavras, na maioria das vezes, quando o seu nome era mencionado: "Daughters". O refrão diz para os pais serem bons com as suas filhas, pois elas amarão como ele. Liricamente é lindo, porém nem sempre é verídico. Pelo menos no meu caso.

Quando Benjamin disse que "um tal de Gregory Lee" havia o contatado, um zilhão de flashbacks veio como avalanche na minha mente. A ideia de, possivelmente, reencontrar o meu pai depois de tudo o que aconteceu, era completamente assustadora. O medo não era por vê-lo, mas sim pelo que eu poderia sentir no instante em que os meus olhos pousassem sob ele.

Demorei uns minutinhos até sair do choque e finalmente falar.

— O que ele disse no e-mail?

— Você quer ler? — Perguntou baixinho e eu fiz que sim com a cabeça. Ben tirou o celular do bolso, desbloqueou, abriu o app do e-mail que logo mostrou a caixa de entrada. Em seguida, ele clicou no mais recente. Quando abriu, ele me entregou o aparelho e eu passei a ler.


Olá, rapaz! Estou te escrevendo esse e-mail porque, coincidentemente, um colega meu de trabalho viu em um dos anúncios no seu Facebook e de imediato ligou para mim falando a respeito. Não sei de onde és ou porquê me puseste nessa página, mas presumo eu que tenha a ver com as minhas filhas, Elena e Olivia Marie Rose? Se sim, por favor, peço que me envie um retorno.

PS.: Segue uma foto minha com as minhas filhas, apenas para validar a minha identidade.

Att,

Gregory Lee.


Após ler o pequeno e-mail, algumas lágrimas se formaram no cantinho do meu olho ao ver a nossa foto: eu, papai e Olivia num clube de piscina quando éramos mais novas, antes de acontecer tudo o que, porventura, veio a acontecer.

Entreguei o celular para Benjamin e sentei-me na ponta de rede, apoiando os cotovelos na perna e mãos sob o rosto.

— Tá tudo bem, amor? — Suspirei fundo. — Quer que eu entre e pegue um copo d'água? — Neguei.

— O que você acha que eu devo fazer, Ben? — Olhei para ele de soslaio.

— Agora, eu acho que você deveria conversar com a sua mãe a respeito disso, principalmente pelo que possa vir a acontecer... — Meu cenho franziu. — Você sabe...

— Acha mesmo que o meu pai iria sair do buraco onde está enfiado apenas para ver a mim e a Olivia? — Balancei a cabeça. — Eu o conheço perfeitamente, Ben.

— Você conhecia, Elena. — Ele me corrigiu. — Já se passou muito tempo desde que ele foi embora. Hoje ele pode ser uma pessoa completamente diferente daquela que você costumava conhecer e conviver. — Pausou. — Também pode não ser. — Deu de ombros. — Nunca se sabe. Você deveria tentar, afinal de contas... Ainda tem algo a mais a perder? — Desviei o meu olhar. — Olha, eu vou para casa agora. Amanhã nos vemos na escola, tá bom? — Deu um beijo no meu rosto. — Converse com a sua mãe e se abra com ela, não somente a respeito disso mas também a respeito do que você tem sentido. Eu gosto de te ajudar, gosto de te ouvir, porém essa parte já não cabe mais a mim. É entre vocês duas. Quando estiver pronta, e se quiser, eu posso te mandar o contato de e-mail do seu pai para fazer conforme achar melhor.

— Tudo bem. — Sorri de lado. — Avisa quando chegar, tá bom? — Abracei-o bem forte e em seguida ele levantou, saindo com a sua bicicleta. Ao vê-lo dobrando a rua, calcei as minhas sandálias e voltei para dentro de casa. Quando abri a porta, mamãe estava sozinha no sofá. — Cadê a Olivia? — Perguntei enquanto me aproximava e sentava ao seu lado.

— Está lá em cima no Face Time com o Peter.

— Ah... — Cruzei os braços e encostei-me nas almofadas.

— Tá tudo bem, filha? Aconteceu alguma coisa com o Ben?

— Tá tudo bem, estamos bem. — Ela sorriu. — Mas sim... Aconteceu uma coisa e é sobre ela que eu quero conversar com você. — Mamãe virou-se para mim, endireitando a coluna.

— Ok...

— Então... — Cocei a nuca. — No dia em que Benjamin me pediu em namoro, ele também me disse que gostaria de fazer algo por mim. — Mamãe gesticulou para que eu pudesse prosseguir. — Ele... Como eu posso falar... — Ri nervosa. Mamãe segurou uma das minhas mãos e acariciou-a. — Bom, ele disse que iria tentar encontrar o papai.

— Oh! — A sua reação foi de surpresa. — E...? — Indagou.

— Para resumir a história, ele conseguiu contatá-lo. Na verdade, papai quem o contatou, mas depois eu explico melhor como aconteceu. — Ela assentiu, ficando em silêncio durante alguns segundos.

— O que você quer fazer, Elena?

— Como assim?

— Você quer falar com ele? — Os meus lábios entreabriram. — Não vou me impor quanto a isso, caso tenha pensado. A vida é sua, e o pai é seu. Isso é entre vocês dois.

— M-Mas... Mas... E quanto a Olivia? O que eu vou dizer para ela?

— Vamos com calma, tá bem? Primeiro você tenta falar com ele de alguma maneira... Por e-mail parece bom.

— E depois?

— Depois você irá saber o que e como fazer. A resposta está no seu coração, Elena, e eu tenho certeza de que irá tomar a melhor decisão, tanto para você quanto para a sua irmã. Acima de qualquer coisa, lembre-se dela também. Ela merece isso, não acha? — Levantou-se, deu um beijo na minha testa e subiu, deixando-me imersa aos meus pensamentos.


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Primeiramente, eu gostaria de agradecer pelas mais de MIL leiturinhas!!!!!! Caramba, muito obrigada. Muito obrigada mesmo! A história só está crescendo graças a vocês que têm lido, votado e comentado. Aos que, por algum motivo não tem feito isso... Por favor, façam! Ajuda na visibilidade da história quando pelo menos deixam o seu voto.

Em segundo, passei uma semana sem conseguir escrever e postar porque além do meu bloqueio literário, estava com alguns problemas pessoais. Desde já, peço desculpas pelo capítulo pequeno e fora do dia previsto. Se tudo sair bem, amanhã tem outro capítulo para compensar. 

FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1Onde histórias criam vida. Descubra agora