Capítulo Trinta e Dois

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Saí um pouco desnorteada do quarto do Caleb, pensando na atitude que Benjamin acabara de tomar. Seria altruísmo se não houvesse tantas dores e feridas no meio, e eu entendo. Ele está cansado de viver em meio ao dano causado pelo egoísmo nato que existe no interior do ser humano assim como eu, e pude enxergar no devaneio dos seus olhos. Estavam perdidos, mas ainda sim eram os seus olhos, ainda era o seu olhar... Ainda era ele. Em meio a tanta dor, tanta mágoa, ele ainda estava ali, suplicando por socorro, pedindo a ajuda de alguém para que pudesse tirá-lo do próprio fosso no qual se enfiou. Mas, infelizmente eu não posso ser o seu resgate. Corro grandes riscos de que, involuntariamente, ele tente me puxar para esse fosso e eu acabe cedendo. E eu não posso mais ceder; não mais. Tem me custado sair do meu próprio fosso e eu já estou quase chegando lá. Não seria justo com o meu processo até aqui, tampouco com as pessoas que estão torcendo por mim.

Se prosseguir em busca da própria luz é sinônimo de egoísmo, então eu sou a pessoa mais egoísta de todo esse planeta.

Desci as escadas rapidamente, no intuito de sair antes que Caleb pudesse me ver, mas acabei tropeçando no último degrau e a minha mochila chocou fortemente com o chão causando barulho.

— Estava pensando em sair de fininho, senhorita Rose? — Caleb estendeu a mão, oferecendo ajuda. — Isso é uma ofensa à minha doce e humilde hospitalidade.

Boboca.

— Por que você acha que eu faria algo tão cruel assim? — Debochei. Caleb revirou os olhos e riu. Segurei a sua mão e ele me puxou delicadamente. Em seguida, cruzou os braços e olhou para mim como se estivesse estudando o meu rosto.

Arqueando uma das sobrancelhas, perguntou:

— Você não acha que está esquecendo algo?

— Como o quê? — Dei de ombros enquanto limpava o joelho da minha calça. Caleb fez uma careta engraçada. — Ahhhh... — Sorri amarelo. — Bom... Eu e ele conversamos, e a melhor opção para os dois é que cada um siga o seu devido caminho. Não vale a pena continuar nesse desgaste emocional, entende? Já não tenho mais forças para isso e ele, tampouco.

— Já imaginava... — Suspirou.

— Vai ser melhor assim e você, mais do que ninguém, sabe perfeitamente disso.

Caleb ficou em silêncio, pensativo, até lançar um questionamento no ar.

— Você já contou ao Benjamin que está pretendendo enviar sua admissão de Universidade para um campus na Costa Leste do país? A formatura é daqui a alguns dias, Lena... — Os meus lábios entreabriram. — Eu sei que vocês dois não são mais namorados, mas não acha que ser honesta com ele a respeito de uma decisão que você vem tomando desde quando ainda estavam juntos, é o mínimo que poderia fazer já que os laços, pelo visto, foram cortados pela raiz? — Falou calmamente, mas as suas palavras foram tão precisas quanto um tiro no centro do alvo.

— Você fala como se eu fosse uma pessoa completamente sádica por isso. — Balancei a cabeça. — Ao invés de me colocar como a megera nessa situação, deveria olhar pelo lado onde eu quero amenizar o máximo possível a dor que ele está sentindo. — Caleb passou a mão pela nuca, nervoso.

— Sim, Lena... Você tem razão. Desculpe. Fui um idiota.

— Tudo bem, C. Ben é o seu melhor amigo, e é natural que você queira protegê-lo, cuidá-lo, ainda que seja de mim. Ademais, acho bom que faça isso. Eu não sou perfeita e ele sabe. Não me colocar em um pedestal onde eu sou o ser humano mais correto do Universo é a melhor coisa que o Benjamin pode fazer no momento. Acredite. — Sorri de lado. — Acho melhor eu ir embora...

— Eu te ofereceria uma carona, mas não quero deixar o Ben aqui sozinho.

— Não se preocupe, C. — Acariciei o seu braço. — Meu pai também se ofereceu para vir me buscar, mas prefiro caminhar um pouco para espairecer. — Antes que Caleb pudesse falar, adiantei-me. — Não se preocupe, tenho dinheiro para voltar de Uber. — Caleb me abraçou, aninhando-me no seu corpo.

— Eu vou cuidar bem dele, Lena. Prometo. — Falou baixinho.

Eu sei que vai. — Sussurrei.



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FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1Onde histórias criam vida. Descubra agora