Capítulo Oito

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Tentar compreender os sentimentos do Benjamin é o mesmo que tentar aprender hebraico ou aramaico em apenas 24 horas, ou seja: praticamente impossível! O garoto vive numa corda bamba emocional muito instável como se até mesmo uma brisa suave fosse capaz de derrubá-lo, acarretando numa queda brutal. É confuso, é complicado, podendo se tornar, também, impenetrável! Você tenta decifrar algo no seu olhar, no seu semblante, no seu jeito, nas suas palavras, mas ele é imprevisível quanto a tudo, te deixando à mercê de qualquer coisa, seja ela boa ou ruim. Quando se pensa que tá tudo bem, tudo tranquilo, que foi apenas um dia difícil para ele, "justificando" alguma atitude desagradável ou algo que tenha feito, surge o Ben com um sorriso maroto e um belo balde de água fria sendo jogado sobre as suas expectativas. E sabe o que é isso? A própria representação da vida!

Confesso que ele revirou os meus pensamentos e a minha linearidade com aquela... Com o que... Bem, com aquele relato de proteção, de cuidado, de... Sabe, é confuso demais! Eu não consigo assimilar direito, a minha cabeça dói só em cogitar pensar numa alternativa para essa questão!

Logo após aquele momento, ele percebeu o meu desconforto e mudou completamente de assunto, falando sobre o próximo jogo dos Timberwolves e de como gostaria que eu estivesse lá na arquibancada torcendo por eles e me divertindo pelo menos uma vez na vida. Ele fala com uma naturalidade tão grande que as vezes soa razoavelmente bipolar, acredite! Mas não no sentido doentio da palavra e sim por estar cambaleando nos seus sentimentos, como se de um lado fosse o que quer ele sinta em relação a mim, e de outro a sua segunda personalidade - Benjamin na Berkley.

A mamãe ligou para o meu celular um tempinho depois, mais cedo do que esperado, inclusive, a fim de que eu fosse buscá-la no trabalho. Salva pelo gongo... Ou melhor, pela Lilian! Falei para o Ben que estava indo embora e ele apenas assentiu com a cabeça, desviando o olhar, pensativo. Voltei para dentro da casa, expliquei para Will que precisava ir buscar a minha mãe no trabalho e ele foi muito gentil comigo quanto a tudo - e esse "tudo" é o Benjamin -, chamei a Olivia, me despedi do Peter e então fui com a minha irmã até o trabalho da mamãe, numa empresa de contabilidade. No caminho de volta para casa, ela notou o meu silêncio e perguntou se estava tudo de bem. Afirmei que só estava pensativa e nada mais. Ao chegarmos, joguei a minha mochila no tapete da sala e caí por cima dela, exausta, enquanto a Olivia foi para o seu quarto. Nisso, a minha mãe se aproximou de mim e aproveitou que estávamos sozinhas para conversar.

— O que se passa na sua cabecinha, hein? — Deitou ao meu lado, apoiando a cabeça nos seus antebraços. Algumas mechas do seu cabelo castanho-claro caíram pelo rosto.

— A minha cabeça está como um nó! Eu não sei nem por onde começar... — Falei baixinho.

— Comece pelo que mais está fazendo esse nó machucar.

— Bem... — Suspirei — Você sabe... — Dei de ombros.

— Seu pai? — Balancei a cabeça, confirmando — Aconteceu alguma coisa? Teve crise de ansiedade?

— Quanto a isso eu ainda estou bem, não se preocupe. — Sorri — Perguntaram a respeito dele para mim... E então veio aquele turbilhão de emoções como uma avalanche. Nada novo.

— Entendi... — Balbuciou — E quem foi que...

— Foi o irmão mais velho do Peter. — Disparei, fazendo com que os olhos da mamãe ficassem atônitos — O pai deles, Will Parker, convidou a mim e à Via para que fôssemos almoçar em sua casa. — Pausei rapidamente para analisar alguma possível reação contrária da minha mãe, mas ela permaneceu atenta — Depois do almoço Will me pediu para ir conversar com o Ben, pois ele estava preocupado com o filho e com o comportamento dele nas últimas semanas. Conversa vai, desabafo vem, o Ben me perguntou a respeito do papai e eu não tive como não o responder porque só assim ele iria entender o quanto eu compreendia os seus sentimentos em relação à perda de uma pessoa que tanto amamos. E no caso do Ben, infelizmente, ele perdeu a mãe há um ano num trágico acidente de carro.

FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1Onde histórias criam vida. Descubra agora