Prólogo

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Virgínia, 26 de janeiro de 2015.

Minhas amadas filhas,

Primeiramente, gostaria de iniciar com um pedido de desculpas às duas por estar falando através de uma carta e não cara a cara, olho no olho, coração e coração, como deveria ser. Estou sendo covarde, eu sei, mas digo isso porque não conseguiria dividir o mesmo ambiente que vocês, pois a culpa e a vergonha me enlaçam e me impedem de tomar a atitude correta. Por esse motivo, que talvez não seja justificável (principalmente para você Elena), cá estou... Escrevendo esta carta com o meu coração sendo esmagado cruelmente no meu peito.

Quando somos crianças costumamos achar, e acreditar, que para cada pessoa existe um "Felizes para sempre" como nos contos de fadas que vemos por aí. É verdade que cada pessoa tem seu alguém destinado o qual, no tempo certo, surge como a peça que faltava para completar o quebra-cabeça. Entretanto, nem sempre ele irá permanecer encaixado ali. As vezes o vento pode soprar no quebra-cabeça, desmontá-lo, desmanchá-lo, e, com isso, aquela peça tão importante acaba se perdendo no meio da ventania, indo embora para outro lugar (só Deus sabe onde será). As vezes a peça não funciona de primeira, as vezes ela não é ideal para aquele quebra-cabeça porque o seu molde não encaixa, entendem? E foi dessa maneira que aconteceu com a sua mãe e eu: da mesma forma que o molde da peça, as vezes, não serve para encaixar, eu também não servi para completar o quebra-cabeça da nossa família e tampouco do meu casamento. Sei que o erro cometido foi tão grave quanto um membro amputado, por exemplo, e a sua ferida pode demorar um longo tempo para cicatrizar, pois o processo, muitas vezes, é doloroso. Ainda que eu estime melhoras, compreendo que não terá muita valia.

Não sei quando, e se, o vento irá trazer a peça de volta para o local onde ela estava antes. Possa ser que ela volte, possa ser que não. Se não voltar, provavelmente será melhor assim. Não adianta forçar uma peça a qual não tem o molde perfeito para encaixar, certo? Ao invés de completar, iria acabar danificando.

Espero que algum dia possam me perdoar. Todavia, compreenderei perfeitamente caso não façam. E está tudo bem. Se essa for a consequência do meu erro, eu irei aprender a lidar. Não será fácil, mas ninguém nunca disse que seria.

Desejo um futuro brilhante para as duas: realização de sonhos, conquistas pessoais, muita alegria e felicidade a qual não pude proporcionar como deveria, e, também, um amor singelo e verdadeiro como todo mundo merece ter. Principalmente vocês e a mamãe.

Com todo o amor,

Greg (Papai)

FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1Onde histórias criam vida. Descubra agora