Capítulo Dez

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Depois da declaração feita pelo Benjamin e da pizza de calabresa vegana que terminamos de comer, estávamos deitados numa rede branca artesanal que mamãe havia comprado há pouco tempo na feirinha do centro. Eu estava com a minha cabeça apoiada entre o seu ombro esquerdo e o seu peito enquanto ele brincava com os meus dedos, acariciando-os. Já estava para anoitecer, o céu meio alaranjado e rosado era o indicador de que em pouquíssimo tempo o sol iria se pôr. Os únicos sons possíveis de serem ouvidos naquele momento eram o das folhas caindo, de algumas bicicletas na rua, e da respiração do Benjamin logo acima da minha cabeça. Parecia que estávamos vivendo em um mundo paralelo, onde as músicas mais românticas da Taylor Swift e do Ed Sheeran formariam a mais perfeita trilha sonora. Eu poderia ficar com ali o dia todo com aquela sensação de proteção e cuidado, com todo o carinho e ternura que ele me transmitia através daquele silêncio e com todas as borboletas que dançavam no meu estômago.

Mas, como sempre, eu PENSO DEMAIS.

O meu cérebro, infelizmente, não descansava nem mesmo em momentos como esse.

Ele não me dava uma trégua sequer.

— Ben... — Chamei-o baixinho e ele soltou um grunhido como resposta — De verdade, o que acontece depois? Ou melhor, o que acontece agora?

— O que tanto te incomoda, afinal de contas? — Respondeu-me com outra pergunta, virando o rosto para mim. Eu podia sentir a sua respiração razoavelmente perto demais do meu pescoço, o que me causava arrepios.

— Beatrice. — A minha voz saiu cortada.

— Elena, — Falou calmo — eu já te disse que entre a Beatrice e eu nunca rolou nada de verdade. Sempre foi algo casual e social, nada mais que isso.

— É que... — Suspirei, virando o meu rosto com a consciência de que ficaríamos muito próximos para uma conversa como essa — Ela gosta de você, Benjamin. E não é justo que ela chegue amanhã e nos veja juntos sem ao menos ter recebido uma explicação a respeito de tudo o que aconteceu.

— Hmmm, então quer dizer que amanhã estaremos juntinhos na hora do intervalo? — Ergueu as sobrancelhas e sorriu travesso.

— Você é um boboca mesmo, Ben Parker! — Revirei os olhos — Se achou que eu ia desfilar ao seu lado feito um troféu, pode ir tirando o seu cavalinho da chuva. — Ele riu da minha reação — Além de boboca também é um pateta? — Dei uma cotovelada de leve na sua cintura. Ele analisou o meu rosto durante alguns segundos, sorriu e beijou a minha testa. O boboca sabia como desarmar e olha que nem é o meu namorado oficialmente.

— O que te faz pensar que eu quero andar de mãos dadas com você como se fosse algum tipo de prêmio? — Acariciou o meu rosto com seu polegar direito — Se fosse antes, há um ano, por exemplo, e qualquer outra garota, sim, não vou ser hipócrita e mentir na cara dura: seria mesmo como um troféu, prêmio, ticket de ouro ou como preferir chamar. — Encarei os seus olhos castanhos e os fios de cabelo que caíam na sua testa graças a brisa suave que passava por nós — Mas, como disse... Se fosse antes. Mas não estamos vivendo no antes, estamos vivendo no depois, no agora. O Benjamin de um ano atrás não é o mesmo Benjamin de atualmente, embora muitas pessoas não notem a diferença. — "Dupla personalidade, huh", pensei — Você é a minha garota, Ele... — Os meus olhos semicerraram de forma divertida — OK! — Riu — Você é a minha quase garota. — Balancei a cabeça, sorrindo — Mas rótulos não importam para mim, embora eu sei que algo formal te agrada bastante. — Declinei a cabeça sobre seu ombro — Eu só quero poder andar de mãos dadas com você e mostrar para todo mundo a razão da felicidade a qual havia sido enterrada quando a minha mãe faleceu. — Inclinou um pouco mais a sua cabeça sobre a rede, ficando frente a frente para mim. — Você é linda, Elena! — Falou baixinho — Tão linda como a doce Caroline da canção do Neil Diamond. — Um sorriso doce se formou em meus lábios e eu me aproximei mais um pouquinho, se é que ainda era possível, me aninando ali. Estávamos à centímetros de distância e ele poderia me beijar se assim quisesse. Mas, diferentemente do que eu pensara, envolveu-me em seus braços e afagou o rosto no meu pescoço. — E não se preocupe, eu vou conversar com a Beatrice.

FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1Onde histórias criam vida. Descubra agora