FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1

Capítulo Vinte e Seis

— Eletricidade e Magnetismo são ambos fenômenos que se relacionam entre si. Uma vez que o magnetismo tem a capacidade de atrair corpos, a eletricidade, por sua vez, produz um efeito magnético na medida em que está sujeita a condutores que permitem a sua movimentação...

Primeira aula do dia para mim.

O professor de Física III, Mr. Perkins, estava explicando incrivelmente bem a respeito da Introdução ao Eletromagnetismo, e eu ignorando em demasia cada palavra que saía da sua boca. Os meus olhos estavam fixos em seu rosto, como se eu estivesse prestando atenção feito uma aluna dedicada, mas a minha mente estava viajando entre as galáxias do Universo Elena. Flutuando no espaço em meio às memórias, aos flashbacks, de anos e de minutos atrás. Boiando no mais profundo silêncio como um cadáver em auto mar.

Contava os minutos para que a aula acabasse e eu pudesse sair correndo para o campo, a fim de me esconder embaixo das arquibancadas de madeira, fugir da doce tortura que é ter o Benjamin a centímetros de distância, sentado atrás de mim, onde era possível sentir a sua pesada respiração próxima à minha nuca, já que o garoto estava debruçado na mesa – propositalmente, óbvio.

O que mais ele queria? Arrancar o pouco da sanidade que me restou depois de tudo ou me provocar, me tirar do sério?

Por outro lado, havia Caleb sentado na cadeira à minha direita com seus, suponho, inúmeros pensamentos sobre mim e o Benjamin, tendo em vista que à essa altura ele já saiba da ceninha de mais cedo, e, honestamente, eu podia sentir os seus olhares de soslaio como se estivesse me analisando minuciosamente, cada movimento, cada respiração.

Sentia-me sufocada.

Fechei os olhos e tentei me concentrar na minha respiração, imaginando estar sozinha naquele momento.

— O eletromagnetismo se ocupa da relação estabelecida ent... Elena, você está bem? — Mr. Perkins cortou a sua explicação e direcionou a sua palavra a mim. — Precisa de algo?

— Oi... É... Sim, estou bem. — Sorri na tentativa de ser convincente, mas falhei miseravelmente.

— Tem certeza? — Aproximou-se. — Se não estiver sentindo-se bem, pode sair. A aula daqui há pouco vai terminar.

— Tá tudo bem, professor. De verdade, não se preocupe.

— Relaxa, prof! — Uma voz conhecida soou no fundo da sala. — Isso se chama Síndrome da Filha Abandona Pelo Papai.

Beatrice.

Era só o que me faltava.

Respirei fundo.

— Elena, não faça caso. — Benjamin sussurrou atrás de mim.

Tarde demais.

Virei-me e lá estava a Beatrice: absurdamente arrogante, com um sorriso vitorioso no rosto.

— Creio que dessa Síndrome você conhece muito bem, certo Beatrice? — Falei sarcástica.

— Está insinuando alguma coisa por acaso? — Pôs-se de pé, com os braços cruzados.

— Há algo para insinuar? — Arqueei uma das sobrancelhas.

— Garotas, por favor, sem discussões aqui. — Mr. Perkins disparou.

— Não se preocupe, Mr. Perkins. — Joguei os cadernos dentro da mochila e me levantei. — Eu não perco tempo discutindo com quem não acrescenta em nada na minha vida. Com licença. — Coloquei a mochila nas costas e saí, caminhando o mais rápido que estava ao meu alcance direção ao campo.