Capítulo Cinco

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Entre brincadeiras e comentários que fizeram a Alicia quase explodir de tanto rir, nos últimos minutinhos que faltavam antes do segundo período, pude contar sobre como Ben Parker foi parar ao meu lado e ser a minha dupla num teste avaliativo, ainda mais sendo de Química Orgânica! Contei também sobre ele não ter feito absolutamente nada além de ficar me olhando de soslaio, e depois sair sem ao menos me agradecer por tê-lo ajudado na nota. Fiquei me sentindo a maior tapada do mundo, mas a Alicia disse para eu não ficar dessa forma, afinal de contas eu não podia prever que tudo sucederia da maneira como aconteceu. "Você gosta de ajudar as pessoas e tá tudo bem", ela falou com uma voz mansa que soou como uma calmaria em meio à tempestade.

Sim, eu realmente gosto de ajudar as pessoas e me doar por elas sempre que for necessário, independente de quem seja e da situação - se estiver ao meu alcance, claro - mas ainda não me acostumei com o fato de que nem todas agradecem pela mão amiga que recebem. A mamãe costuma me falar que eu não devo fazer algo por alguém e esperar que ela me retribua da mesma maneira ou como achar preferível. Mas não é que eu queira algo em troca... Não! Eu só quero que as pessoas pratiquem a empatia, sejam gentis com todo mundo e qualquer pessoa, sem distinção, e que sejam gratas por absolutamente tudo! Só quero poder ver os seres humanos agindo com bondade, entende? Não é sobre esperar algo em troca; é sobre refletir. "Poxa, se essa pessoa fez isso por mim, me ajudou nisso, por que não ajudar alguém que esteja passando pelo mesmo que eu?" As nossas feridas quando saradas e cicatrizadas são capazes de curar a ferida do outro. "E quando encontramos alguém, queremos ajudar, mas ainda estamos feridos?" O único conselho que eu posso dar é: se deem as mãos e se ajudem a curar a ferida um do outro. Se ambos podem fazer isso, se dispõem a tentar... Por que não? Uma mão lava a outra!

A aula de Literatura havia sido um pouco distinta da nossa programação normal, assim como a minha manhã de segunda-feira. Nesse bimestre nós estamos estudando e explorando o Romantismo em sua totalidade. Portanto, a senhorita Elizabeth resolveu abordar algo não muito comum nas aulas de Literatura do ensino médio: os desejos e prazeres em meio à uma guerra! Parece doideira, eu sei, mas, particularmente, achei interessante e intrigante ao mesmo tempo. Com essa temática ela abordou a Segunda Guerra Mundial, mas especificamente os campos de concentração em Auschwitz e Birkenau, falando sobre um livro, com relatos de uma sobrevivente, chamado "Os Fornos de Hitler". Ela disse que no meio da história há um capítulo onde é relatada a questão sexual dos prisioneiros, mencionando o episódio em que jovem médica prisioneira diz que o auge do prazer e de todas as sensações proporcionadas numa relação é limitada ao tocar e segurar nos seios de uma mulher - no caso dos homens, por exemplo -, não passando apenas disso além das carícias e dos beijos - quando era possível -, com algo em troca pela relação: comida! De início não entendi muito a ligação com o período romântico, pois isso me remeteu automaticamente ao Naturalismo, com o homem e a sua animalidade retratada pelos autores da época, mas depois a professora explicou que esse "lance" se enquadrava na segunda geração romântica onde os autores idealizavam as suas amadas. E certamente esse tipo de coisa deveria acontecer nos campos de concentração, tendo em vista que nem todos os prisioneiros, no geral, tinham o considerado "privilégio", e tampouco saúde, para saciar as suas necessidades hormonais.


(...)


Após uma manhã inteira, e um pouco do período da tarde, alternando entre aulas de Humanas e Naturezas, com momento de intervalo, claro, eu já estava enfiada e largada no banco do Impala 1965 Azul Welly da mamãe, com "Summer Of '69" do Bryan Adams tocando no meu Spotify, esperando as beldades virem para o estacionamento, incluindo o mal-agradecido-capitão-dos-Timberwolves aka Ben Parker, morrendo de fome e com a minha glicose quase gritando feito um alto falante dentro do meu corpo.

FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1Onde histórias criam vida. Descubra agora