Certa vez me disseram que o meu coração gigante um dia iria me engolir por inteira sem que eu ao menos pudesse perceber. Lembro-me de rir e tentar imaginar situações nas quais seriam possíveis de que isso viesse acontecer – claro que não no sentido literal da palavra "engolir". Naquele instante, nenhuma me veio à mente. Tampouco alguma como essa.
Sabia que era ingênua e vulnerável, mas não ao ponto de que fosse consumida por causa disso.
Todavia....
Sim, Elena... Sim!
O famoso "Eu te avisei" está caindo perfeitamente agora.
Não era certo estarmos aqui, assim, dessa maneira. Abraçados... Sobretudo, vulneráveis. Não era saudável, não era conveniente. Eu sabia perfeitamente disso, e não ia adiantar de nada ir de contra ou lutar internamente. Seria em vão, como todos os meus esforços de afastá-lo de mim e sair andando sem olhar para trás. Não somente desse lugar, mas também de sua vida.
Só não sei como fazer....
Ainda!
O choro silencioso do Benjamin me corroía por dentro, porque era um misto de culpa e dor pelo ego ferido já esmagado à essa altura. No entanto, por mais que eu quisesse ser o seu conforto e o seu consolo no momento, por mais que o meu coração apertasse no peito, não podia e tampouco deveria; afinal de contas, necessito tanto quanto (ou até mais) ele. Pode soar egoísta como for, mas é a verdade e a realidade. E já não tenho mais forças para passar por cima do que está bem na minha frente.
— Ben, isso não tá certo... — Afastei-o cuidadosamente de mim. Os seus olhos já estavam vermelhos devido ao choro que, no meu pensamento, parecia ser incessante. — Não é saudável... Não posso mais...
— Elena...
— Eu não posso mais, Ben. — A minha voz saiu um pouco sufocada. — Eu não tenho mais... Eu não consigo... — Ele franziu o cenho, confuso. — Não dá mais, não dá.
— Elena, eu não entendo... — Ele tentou tocar a maçã do meu rosto, mas esquivei-me devagar. — O que foi?
— Você não percebe? Eu já não tenho mais nada para oferecer. Cheguei no meu limite e já tudo se esvaiu. — Inclinei os ombros, comprimindo o choro na garganta. — Não tenho mais condições de estar ao seu lado, não tenho mais forças... — Benjamin abriu a boca para falar, mas prossegui em disparada. — Eu preciso me curar! — Os seus olhos brilharam, e não era de felicidade.
— Eu te causei tanto dano assim? — Murmurou.
— O quê? Não... — Respondi cansada. — Não, Benjamin! Não! — Suspirei. — Você me magoou, sim, me machucou agindo pelas minhas costas com algo extremamente delicado, mas não é o culpado por tudo isso. — Desviou o olhar. — Eu era como uma granada que a qualquer momento estava prestes a explodir, e você, infelizmente, acabou sendo o meu dano colateral. — Peguei a minha mochila. — Sinto muito.
— Posso não ter sido o culpado, como diz você, mas foi por minha causa que você chegou ao seu limite, porque fui eu quem trouxe o seu pai de volta para a cidade. — Disse com pesar. — Eu, Elena. Ninguém mais além de mim.
— Olha... — Mordi os lábios. — De nada vai adiantar que fique se culpando e utilizando essa culpa como um martírio. De nada vai adiantar que remoa o que já aconteceu. De nada, Benjamin. De nada. Então por favor, não faça isso. Você vai se machucar mais ainda. — Levantei-me. — Assim como eu, você também precisa se curar, tratar as suas feridas, sarar as suas dores, sozinho. Por conta própria. — Ele passou a mão nos cabelos, impaciente. — Eu não sou o melhor para ti, como havia me dito antes, sabe por quê? O melhor para nós não vai ser alguém além de nós mesmos! Na verdade, não digo "melhor", mas, sim, suficiente. É o mais coerente no momento. — Pausei. — Não posso ser suficiente para você porque tampouco sou para mim; como poderia oferecer-te algo que não tenho por completo?
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FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1
RomanceAlgumas pessoas dizem que os melhores relacionamentos, sejam eles amorosos ou amigáveis, nascem a partir de momentos difíceis. Com Ben e Elena não foi diferente: eles se encontraram exatamente no meio da linha tênue entre o amor e a saudade. ♡