Capítulo Vinte e Um

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Sabe quando estamos assistindo ao filme ou à série, e chegamos naquele momento crucial do enredo onde o personagem principal se depara com a maior decisão da sua vida a ponto de ter-se um flashback da sua história passando pelos seus olhos como um borrão cinzento em meio as possíveis lágrimas que ele estaria segurando? Pois bem, foi exatamente dessa maneira que eu me senti quando o vi em pé, na plateia, me observando dali. Tão longe, mas ao mesmo tempo tão perto... Éramos como duas almas se tocando no que tange ao intocável do instante.

Depois daquele rápido elo visual eu tentei me concentrar ao máximo a fim de concluir a peça, mas parecia impossível. Não conseguia pensar em nada ou ninguém mais além dele. Entretanto, apesar desse rebuliço emocional, e com a ajuda de Austin no palco, tudo discorreu perfeitamente. Foi épico, único, especial e inesquecível. Os aplausos, os sorrisos, as lágrimas, as emoções, me deixaram com a sensação de marco, dever cumprido. Pelo menos, de alguma forma, eu pude tocar o coração de alguém antes de concluir mais uma etapa da minha vida.

Mr. Anderson esperava-nos atrás, perto dos camarins, com um sorriso de ponta a ponta esbanjado no rosto. Quando os seus olhos pousaram sob mim e sob o Austin, que me acompanhava, logo correu em nossa direção e nos abraçou em conjunto. Murmurava congratulações sem parar feito criança quando ganha o presente almejado durante o ano.

— Vocês foram irremediavelmente incríveis e tocantes. — Falou após recuperar o fôlego. — Feitos um para o outro, assim como o Romeu e a Julieta.

— Uau, isso é...

Demais! — Austin completou. — Digo, foi um elogio e tanto Mr. Anderson.

— Não se contente, rapaz. Vocês — Apontou para mim e para Austin. — merecem. Sinceramente. Estou lisonjeado com tudo isso! Shakespeare certamente iria ficar emocionado e orgulhoso por vocês dois! — Austin sorria todo doce, bobo e feliz. Eu gostaria de estar demonstrando tamanha felicidade assim como ele, mas os meus pensamentos continuavam em outro mundo. — Você não parece tão feliz quanto o seu Romeu galanteador, Elena. — Mr. Anderson dirigiu suas palavras a mim.

— Desculpe, Mr. Anderson. Eu só estou cansada, nada mais. Não estou acostumada com palcos, plateias e afins. — Esbanjei o meu sorriso mais convincente. — Obrigada por ter me escolhido para ser a sua Julieta. Foi uma experiência singular.

— Quem faz os agradecimentos aqui sou eu, oras! — Ele riu. — Não precisa agradecer, minha querida. O prazer foi todo meu, pois como bem te disse: você foi a minha escolha perfeita! — Abracei-o gentilmente e sussurrei um "Obrigada!". — Fique à vontade para ir ao seu camarim se quiser. Tenho certeza de que irá sair para comemorar com a sua família. — Assentindo, afastei-me do grupo de pessoas e fui até o meu camarim. Fechei a porta, sentei em frente ao espelho e respirei fundo pensando nas possibilidades de como será quando eu colocar os pés para fora da escola, sabendo que o meu pai está respirando o mesmo ar que eu e eu posso encontra-lo a qualquer momento. Troquei de roupa, amarrei o cabelo num rabo de cavalo e saí rapidamente, sem ao menos me despedir direito do Austin. No caminho, Olivia me mandou uma mensagem dizendo que estavam à minha espera fora da escola, perto do estacionamento.

Chegando lá, corri para os braços da minha mãe com uma vontade imensa de chorar.

— Você foi perfeita, Elena! — Ela disse enquanto acariciava as minhas costas. — Estou tão orgulhosa que nem cabe em mim!

— Leninha, você estava tão linda... Foi tudo tão lindo... — Olivia se aproximou e me abraçou junto da mamãe. — Até o Austin estava lindo naquela roupa de Romeu. Ele interpretou muito bem, inclusive.

— É mesmo? — Virei o rosto e olhei para baixo, fungando e sorrindo. — Aposto que ele iria adorar ouvir um elogio desses da sua parte.

— Ele até que parece ser legalzinho. — Encolheu os ombros.

FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1Onde histórias criam vida. Descubra agora