Capítulo Trinta e Cinco

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No primeiro dia do ano, é comum traçarmos planos, metas, novas experiências; dar uma abertura àquilo que é novo. Objetivamos tudo na certeza de que tudo sairá conforme o que foi esquematizado; entretanto, esquecemos que estamos sob a direção de Alguém que nos guia pelo melhor caminho a fim de encontrarmos o que verdadeiramente precisamos, ainda que isso não seja o que estávamos buscando desde o princípio. Ao decorrer de tantos altos e baixos na minha vida até aqui, entendi que nada vem por merecimento, mas, sim, por necessidade. Necessidade de estar, ser, compartilhar, sentir, e também ter. Às vezes, as nossas necessidades podem ser atendidas pelo outro, isso é fato. Porém, precisamos estar preparados para atender às nossas próprias necessidades quando não houver mais alguém ao nosso redor. Enfrentar os medos, construir resiliência. Crescer. Evoluir. Ser. E que se for para ser, de preferência... Que seja humano. No sentido literal da sua palavra, é claro.

Depois do almoço, fui descansar no jardim antes de começar os meus preparativos para a formatura. A colação será no meio da tarde e o baile de formatura, às 20H. Precisava de um tempo a sós com os meus pensamentos no intuito de deixá-los alinhados, porque, a partir do momento em que eu colocar os pés para fora de casa em direção à escola, pela última vez, sei que estarei dando o meu primeiro passo para o recomeço que eu tanto desejei nos últimos tempos. E eu não posso recuar. Foram longos meses de vivência e sobrevivência, lutando a cada dia, em uma eterna linha tênue, tentando não desfalecer no meio do caminho. Chegar até aqui, depois de tudo o que aconteceu comigo, na minha vida, é a conquista mais vitoriosa que algum dia poderei alcançar. Apesar de, independente de, além de, eu estou aqui e isso é tudo o que importa: o meu bem-estar, a minha sanidade. Quem eu sou, e quem estou prestes a me tornar.

Ao retornar, subi para o meu quarto, coloquei o álbum Folklore da Taylor Swift para reproduzir no meu notebook e fui tomar um banho quente. Prendi o cabelo em um coque e deixei que a água escorresse sobre a minha coluna para tentar amenizar a tensão e relaxar o meu corpo. Mamãe havia comprado um sabonete orgânico de lavanda e aproveitei a ocasião para abri-lo. O seu cheiro é suave às minhas narinas, e suavidade é o que mais irei precisar na minha vida a partir de agora. Quando saí, já com as minhas roupas íntimas postas, enrolei-me na toalha e fui ao closet procurar algum vestido socialmente apresentável, mas não chamativo, para usar. Lá no fundo, pendurado num cabide, encontrei o vestido rosa claro que ganhei da Alicia no meu aniversário, justamente para usar na colação de grau esse ano. Ele é justo, liso, com uma gola ombro a ombro e de comprimento até o joelho. Simples, mas bonito. Para calçar, peguei um sapato de camurça da cor nude, fechado, com 8 cm.

"É, parece que o momento chegou", pensei comigo mesmo.

Após liberar um lento e longo suspiro, tratei de vestir-me. Podia ouvir a voz da Olivia no corredor reclamando sobre ter que usar roupas sociais em plena luz do dia e a minha mãe tratando de convencê-la que precisamos nos adequar à determinadas ocasiões, ainda que não queiramos, porque faz parte da vida, e que um dia ela também estará no meu lugar e vice-versa. Não pude deixar de rir e sorrir. Sentirei falta desses pequenos momentos familiares.

Calcei os meus sapatos e sentei em frente à minha cômoda, pensando em alguma maneira de deixar o meu cabelo menos espantoso possível. "Quando não souber o que fazer com o seu cabelo, alise-o e deixe-o um pouco ondulado nas pontas", a voz da Alicia soou na minha mente. Era algo simples, prático, e nada demorado. Consegui arrumar em menos de dez minutos, considerando o comprimento do meu cabelo. Alicia certamente estará orgulhosa de mim.

A parte da maquiagem é a que sempre relutei durante a minha adolescência, mas hoje me vejo obrigada a fazer esse sacrifício. Não sou expert no assunto como a minha melhor amiga, mas consegui fazer um bom trabalho. Destaquei um pouco as minhas sobrancelhas e, também, destaquei o meu olhar com um tom opaco, mas nada muito chamativo. Um pouco de blush rosado quase laranja nas minhas bochechas, um iluminador aqui e ali no canto dos olhos e no meu nariz, um batom nude... E pronto! Melhor do que isso não fica!

FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1Onde histórias criam vida. Descubra agora