Capítulo Trinta

83 5 10
                                    

BENJAMIN


Iniciei uma busca, dentro de mim, às melhores frases prontas a fim de começar a contar um pouco sobre a história da minha vida; sem sombra de dúvidas, falhei miseravelmente. No entanto, em meio à bagunça interior, encontrei duas únicas palavras: linha tênue. Como uma espécie de luz no final do túnel, elas apareceram para mim. E estavam completamente cobertas de razão, porque, no final do dia, de todos os dias desde a morte da minha mãe, a minha vida se resumia numa linha tênue; das mais diversas que se possa imaginar.

Não sei como começar a contar uma história. Sou péssimo nisso. Sempre fui. Mas, preciso tentar, ainda que seja um pequeno resumo. Devo isso às pessoas que estão ao meu redor, que se importam comigo, e passam por maus bocados por minha culpa. Sobretudo, eu mesmo. De antemão, já quero me desculpar pelo fato de ser um péssimo contador de histórias, além de tantas outras coisas nas quais também sou péssimo.

A história começa a partir da morte da minha mãe, assim como a linha tênue que me persegue até os dias de hoje, porque, antes disso, eu não precisava urgir em buscar um rumo, um sentido, pois a minha mãe era o próprio farol, a própria razão. A minha suficiência. A minha essência. Eu vivia na sua linearidade e andava de olhos fechos na via humana de mão única, sendo conduzido pela melhor guia. Assim como nos livros de História vemos a humanidade sendo dividida entre a.C. e d.C., a minha vida também foi marcada por essa divisão a qual causou um tremendo impacto sobre mim. A minha mãe possuía os sentimentos mais genuínos dentro de si e ela fazia questão de transmiti-los para mim todos os dias. Isso me completava, me realizava. Eu não precisava de muita coisa para me sentir o ser humano mais incrível de todo o planeta; bastava apenas tê-la ao meu lado e já era suficiente. Ela era a pessoa que sempre estava ali, me ajudando a confiar a mim, me fazendo sonhar e acreditar na capacidade de realizar cada um dos meus sonhos e dos meus desejos, até mesmo os mais malucos. Ela era a pessoa que me tornava alguém melhor todos os dias somente com o seu jeito de ser, com a sua presença. Por isso, depois que partiu, desaprendi a viver. Desandei na caminhada e tomei rumos os quais ela jamais me guiaria. Esqueci de quem eu era, de quem eu estava me tornando, e tornei-me um cadáver ambulante que perambulava no vazio de quem eu costumava ser.

O meu pai, coitado, sofreu muito nessa transição de filho para desconhecido. Infelizmente, o Peter também lavou os pratos sujos dessa louça podre que ninguém, além de mim, tinha culpa por ter deixado acumular, durante muito tempo. Eu fui péssimo para mim, para todos, seja dentro ou fora da minha casa. Não compreendia mais as coisas boas e tampouco as enxergava. Não sabia mais o que era amor... Amar. Algo simples tornou-se o impossível desafio da minha vida. E eu, covarde, pulei do barco antes mesmo de começar a navegar, pois, afinal de contas, qual era a garantia de que, no final, do outro lado do oceano, eu iria encontrar qualquer coisa melhor daquilo que eu tinha? Nenhuma! Portanto, decidi não me arriscar. Para quê, inclusive? Não havia mais nada a perder além de perder a mim mesmo no meio do caminho. Entretanto, quando já estava prestes a jogar (e a me jogar) tudo para o buraco, a Elena apareceu na minha vida como uma espécie de salvação e redenção. Como se fosse a última oportunidade que o destino estivesse me dando de sair do meu lamaçal e voltar a andar no meio do jardim novamente. Sem ao menos questionar, agarrei-me à sua presença feito um náufrago que anseia por um resgate. Despejei tudo o que eu havia engolido na tentativa de voltar a respirar melhor...

Mas, em meio aos meus tantos "eus", esqueci-me do "ela". E esse "ela", era alguém. Quando me dei conta, percebi que a estava sufocando. Ao invés de ajudar, prendi mais ainda... Sem ao menos me dar conta...

Quanto ao final da história?

Avisei previamente que sou um péssimo contador.


Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.



Depois da minha conversa com a Elena, matei o resto das aulas que havia naquela manhã e dirigi até um lugar distante a fim de me esvair de alguma maneira. Deitado sobre a grama, uma sensação que eu conhecia perfeitamente bateu à minha porta incessantemente: a de flutuar no vazio.

Sem forças, abri. Deixei que passasse.

Chorei, sozinho. Como já estava acostumado a ser.

A viver... A sentir-me.

Por um momento, pensei em não mais existir. Em fechar os olhos e nunca mais abri-los. Em dormir e nunca mais acordar.

"O mundo seria um lugar melhor sem a minha existência?", perguntei mentalmente.

"Provavelmente, Benjamin!", respondeu a voz dentro da minha mente.

"Por que achas isso?", rebati,

"Porque achas isso.", afirmou.

"E se eu não achasse?", perguntei mais uma vez.

"Eu também não acharia!", concluiu.

FINE LINE: Entre Uma Linha Tênue | LIVRO #1Onde histórias criam vida. Descubra agora