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Revisado

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Revisado.

Desde que eu me conheço por gente, eu estou no inferno desde que eu tinha seis anos. Antes disso eu não me lembro nada, é como se houvesse um apagão na minha mente, tudo o que eu carrego comigo são lembranças de uma criança que nunca soube o que era se sentir em casa, uma criança que nunca teve uma infância, uma criança atormentada pelo passado e angustiada com o futuro. Mas sem as perdas, sem os homens ruins que cruzaram na minha vida e todo o resto, eu ainda seria um passarinho em toda minha vida.

Ninguém além de mim tem ideia do que eu já passei. Por isso, não duvide quando digo que consigo lidar com qualquer coisa. Eu precisei ser forte. E eu sou. O mundo não é justo e nunca será. É como se fosse um tsunami, você precisa seguir em frente antes que ele te pegue e te afunde.

[...]

Tudo começou com um telefonema, aquele bendito telefonema que basicamente mudou a minha vida. Um caminhão e um carro haviam se colidido, causando um acidente bruto. O caminheiro havia sobrevivido, mas o que estava no carro, o meu pai, ele foi jogado para fora do carro tão longe que mal reconheci seu rosto no enterro. Em minhas memórias, seu rosto para mim é como um borrão, sem forma e sem expressão.

Minha mãe estava em prantos, a notícia havia acabado com ela em um embalo só. Eu a observava toda noite, ela ficava abandonada em algum canto casa ou voltava tarde com uma garrafa de vinho na mão. Eu não sabia o que era mais doloroso, vê-la se destruindo aos poucos ou a de não ter mais um pai.

Quando eu achei que a coisa não podia piorar, o telefonema tocou novamente. Em menos de um mês, minha mãe vendeu a casa e passamos a morar dentro de um trailer minúsculo. Eu era pequena, ingênua demais e não entendia nada, mas hoje percebo que ela fez tudo aquilo por que meu pai havia deixado incontáveis dívidas para trás e por muito tempo duvidei da sua morte acidental.

Passei quatro anos vivendo dentro daquela lata velha, indo e voltando em vários lugares, nós não tínhamos um lugar fixo. Dormíamos em um colchão tão fino quanto a de um lençol, comendo comida enlatada e fugindo de homens ruins que estava atrás do dinheiro. Por quatro anos eles não desistiram, nós perseguiam e nos ameaçavam, até que um dia eles desapareceram como nuvens no céu. 

A minha maior felicidade, depois muitos anos, foi aos meus dez anos, quando finalmente nos livramos aquele trailer imundo e passamos a morar em uma casa de verdade. Achei que aqueles dias de sofrimento estavam acabando, que eu finalmente poderia viver o resto da minha infância como criança normal, mas como eu fui ingênua...

Aos meus quatorze anos eu decidi largar o lixo, no qual as pessoas chamam de escola. De alguma forma, estando naquele lugar, eu não sentia que estava colaborando, muito pelo ao contrário, minhas notas eram baixas, me envolvia em todas as brigas e encarreguei a minha mãe de pagar mais contas. Nunca mais voltaria para escola, nunca mais perderia meu tempo. Meu sonho de um dia ter um futuro brilhante havia virando cinzas junto com todos os papéis da escola que eu havia queimado. Tudo o que me importava naquele momento era tirar a minha mãe daquela situação e ajudá-la com algo que realmente fosse útil, então comecei a procurar desesperadamente por empregos.

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