𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒 𝐀𝐍𝐃 𝐃𝐄𝐌𝐎𝐍𝐒 | daryl dixon

Meeting Angels, Killing Demons

Daryl não suportava Harlie, isso era fato. E ela o deixou ainda pior quando se levantou de onde estava para vir confrontá-lo. Contudo, o fato de ele não a suportar não era nem pelas coisas que ela fez, ou pelo lugar de onde ela veio, a situação dele também não era muito melhor para julgá-la. Não, ele simplesmente não a suportava por não conseguir tirar da cabeça que Harlie lhe lembrava Beth. Olhar para Harlie era um lembrete constante de que ele tinha falhado com Beth.

Outro fato era que Daryl não demonstrava sentimentos facilmente. Raramente ele se importava com alguma coisa, ou com alguém. Mas a terminiana mexia com ele de um jeito inexplicável. Quando ela tomou coragem e veio confrontá-lo, e ele respondeu daquele jeito, ela saiu tentando esconder que se machucou com as palavras dele. Ele tinha esse hábito de machucar pessoas com palavras. Bem, não apenas com palavras, mas ainda não era o caso de Harlie.

Ele pensou um pouco sobre o que ela disse. Realmente, ele mal a conhecia. Ele tentou lembrar se ela realmente tinha feito algo ruim a ele. Algo justificável pelo menos. Mas não. Nada. As lembranças que Daryl tinha de Harlie eram de ela praticamente implorando para aquele desgraçado parar de abater pessoas, quando o grupo ainda estava no Terminus. De quando ela contou sua história para Rick e ele ficou escutando no fundo da igreja. De quando ela se aproximou dele pela primeira vez e o chamou para caçar com ela. E agora, quando ela veio questionar seu jeito grosseiro.

Os outros fizeram coisas ruins com eles. Ela não. De repente, toda a raiva que Daryl sentia de Harlie pareceu ter se transformado em birra de criança. Não havia motivo nenhum para toda aquela repulsa. E quanto a Beth? A Greene não tinha nada a ver com Harlie. Ele precisava parar de vincular as duas. Ele não podia tomar Harlie como um demônio. Não sem conhecê-la. Ele também não gostava de Rick no começo. Nem dos Greene, nem de Michonne. E todos eles acabaram sendo bons. Por que não ela? Sem esperar muito, o Dixon se levantou, pegou uma lata de carne (para ter algum pretexto de falar com Harlie) e foi até a porta da igreja.

*~*

Harlie se sentou no chão, encostada em um dos bancos da igreja, perto da porta. Longe da luz e longe do resto do grupo, ela tirou um tempo para si mesma. Ela estava triste e zangada. Maldito caipira! Ela pensou. As coisas que Daryl disse a ela, por mais que uma parte fosse verdade, ainda sim a deixaram magoada. Sim, ela realmente não era santa, passou por muitas coisas chatas para chegar até ali. Mas não fez tudo aquilo porque queria. E ele não tinha o direito de falar assim com ela.

Ela estava com a cabeça baixa, encostada nos joelhos. Não estava chorando, estava apenas dando um tempo. Foi quando ela sentiu algo encostando em sua coxa. Levantando a cabeça, viu que era uma lata de carne. Mais do que isso, teve uma surpresa. Daryl estava parado na outra ponta do banco, encarando-a com um olhar confuso. O que era agora?

—Coma, magrela. – Ele disse, andando dois passos em direção a ela. – Precisa ficar forte se quiser caçar comigo amanhã.

Mas o que? Aquilo estava acontecendo mesmo? Harlie franziu a testa, não acreditando naquilo.

—Achei que tinha dito que eu era encrenca. E que não queria ficar perto de mim. – Harlie respondeu, na defensiva.

Daryl voltou a levantar sua típica "barreira protetora" após ela ter dito aquilo. Será que ele não conseguia baixar a guarda nem por um segundo?

—E não quero, só vim deixar isso. – Daryl respondeu, voltando a ficar sério. – E trate de acordar cedo, porque eu não vou te esperar!

Ele estava prestes a sair de perto dela outra vez, quando ela se levantou, quase que imediatamente.

—Espere aí! – Harlie o chamou. – Você não veio até aqui só para me dar isso, veio? Não se daria o trabalho...

Daryl não respondeu. Porque, no fundo, ele sabia que ela já desconfiava de alguma coisa.