𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒 𝐀𝐍𝐃 𝐃𝐄𝐌𝐎𝐍𝐒 | daryl dixon

Cliff's Edge

Não havia ninguém que conseguisse tirar Harlie de cima do corpo de Beth. A terminiana mantinha sua cabeça abaixada, com os braços em volta do corpo dela. Seu choro era alto, mesmo sendo abafado pelo cobertor. Tão alto que quando alguém tentava tocá-la para consolá-la, insultá-la, ou até tentar bater nela, ela gritava de um jeito tão ensurdecedor que a pessoa que a tocou automaticamente saía de perto.

O que Harlie acreditava ser seu futuro, agora estava ali, morto em uma cama de hospital. A nova vida que ela queria construir... teria que seguir sem Beth. As memórias que ela gostaria de criar ao lado da Greene... nunca aconteceriam. Aqueles desejos permaneceriam para sempre em sua mente, sem nunca se realizarem.

E não era simplesmente o fato de ter perdido Beth que a entristecia. Era o fato de ela ter sido uma das responsáveis por Beth ter morrido. Claro, a culpa não era completamente dela. Se Dawn não tivesse atirado... se Beth não a tivesse atingido com a tesoura... era impressionante como uma série de pequenos eventos poderia levar a uma tragédia gigantesca.

E obviamente, Harlie não seria a única a sofrer com essa perda. Ela nem tinha como saber como Maggie estava agora. Maggie foi a única que conseguiu ficar no quarto, sem que Harlie soltasse um único grito. Ela tinha que tolerar, afinal, Maggie era irmã de Beth, deveria estar sofrendo mais do que ela. Porém, apesar de ter deixado que a Greene mais velha chegasse perto dela, e do corpo consecutivamente, as duas não trocaram uma única palavra. Maggie devia estar odiando Harlie agora. Mas novamente, ela não tinha como saber. Maggie era uma das poucas que não a tentou consolar, nem insultar, nem agredir. Ela apenas ficou lá, ao lado dela.

Claro, não poderiam ficar ali para sempre. O cérebro de Beth não havia sido ferido em nenhuma das duas ocasiões, então, ela viria a se transformar logo. E Harlie não sabia se ela teria forças para terminar com aquilo.

Por fim, quando a choradeira finalmente parou, Harlie levantou a cabeça e olhou para o rosto de Beth uma última vez. Eu não a merecia... Harlie pensou. Ainda segurando uma das mãos da falecida, ela voltou seu olhar para Maggie. A fazendeira ainda chorava, porém, silenciosamente. As lágrimas caíam em seu rosto, marcado pela expressão confusa e furiosa. Harlie não disse nada. Ela esperou que Maggie quebrasse o silêncio.

—Faça de uma vez... – Maggie resmungou, sem encarar Harlie.

Harlie respirou fundo três vezes, sentindo as lágrimas voltarem a despencar de forma violenta em seu rosto. Enquanto uma de suas mãos ainda segurava a de Beth, a outra tateou por seu cinto, procurando por sua faca. Mas quando sentiu sua mão tocar o cabo da faca... não conseguiu levantá-la. Ela a segurou firme e fechou os olhos, tentando eliminar as lágrimas.

—Eu não consigo... – Harlie respondeu, quase como um sussurro ininteligível.

Um grunhido pôde ser ouvido. O inconfundível som de um grunhido de um errante. A mão que Harlie segurava começou a se mexer, e ela a soltou rapidamente. Aconteceu. Beth já não era mais Beth. E Harlie foi obrigada a tomar coragem. Com sua mão trêmula, ela levantou a faca e apontou para a cabeça da outra loira. Contudo, antes que pudesse esfaquear seu cérebro, outra coisa o atingiu.

Uma flecha passou entre Harlie e Maggie, atingindo a testa de Beth em cheio. Quando a terminiana olhou para a porta do quarto, ela o viu, com a besta ainda apontada para a falecida. Durante dois segundos, ela viu a mesma expressão magoada e furiosa em seu rosto. A mesma de quando Beth tinha sido baleada e ele matou Dawn. Pelo menos, antes do Dixon virar o rosto e continuar andando, se afastando do quarto.

Uma parte dela queria ir atrás dele. Mas o que ela diria? O que ela faria? Mesmo que indiretamente, ela havia sido responsável pela morte de uma das pessoas mais importantes para ele. Ela já demorou para conquistar parcialmente a confiança dele pela primeira vez. Depois dessa... ele jamais olharia na cara dela novamente. A não ser que fosse para matá-la, só assim havia a possibilidade.