Family Issues

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Uma tonelada de lembranças invadiu a cabeça de Harlie ao avistar a entrada da cidade de Winchester. Anos atrás tinha sido uma bela e atrativa cidade colonial. Agora, não passava de uma cidade fantasma. As várias lojas, lanchonetes, mercados e lugares sociais estavam tomados pelo vazio e esquecimento. O único barulho ouvido nas ruas era o som do vento e os grunhidos de três ou quatro errantes vagando pelas ruas.

Porém, para Harlie, nem em seus bons dias aquele lugar lhe parecia bonito. O sofrimento de toda sua adolescência fora suficiente para transformar aquele lugar em um verdadeiro inferno. Na mente dela, a cidade sempre foi como estava agora.

— Vamos procurar por remédios primeiro. Sei de pelo menos umas cinco farmácias na cidade toda. — Harlie disse, sem tirar os olhos da rua.

Daryl assentiu enquanto ela explicava o caminho para a farmácia mais próxima. Não foi difícil para o caçador perceber que o semblante da terminiana havia mudado, desde que eles chegaram à cidade. Ela estava mais reservada, mais lúgubre, mais triste...

Ele não gostava de vê-la com aquela expressão. Era como se uma agonia exorbitante lhe invadisse. Ao contrário da risada dela, que era algo agradavelmente viciante, a expressão de tristeza em seu rosto era uma coisa que ele não queria ver nem em sua imaginação. E a pior parte era que ela vinha mantendo essa expressão no rosto por um período considerável de tempo...

Claro, ele via o quanto ela se esforçava para não parecer tão vulnerável. E, realmente, não era. Mas quanto mais ela lutava contra o sofrimento, mais doía. E ele sabia que ela não iria sentar e chorar. Mesmo sendo o que ela estivesse precisando fazer agora...

Ele estacionou o trailer na frente de uma das farmácias indicadas por ela e os dois desembarcaram com sacolas vazias, que seriam preenchidas por medicamentos. Eles tiveram que dar conta de alguns errantes que estavam muito próximos da farmácia e do trailer, mas nada que desse muito trabalho.

Dentro da farmácia não tinha muito o que levar. Quase todas as prateleiras estavam vazias. Com certeza alguém já havia passado por ali. Tudo bem, eles não esperavam que todos os lugares fossem estar intactos. E tinha mais lugares para checarem. Por fim, saíram apenas com alguns frascos de antibióticos e antitérmicos.

A segunda farmácia estava um pouco mais cheia. Contudo, além dos remédios, Harlie conseguiu algumas coisinhas a mais. As prateleiras de produtos íntimos estavam bastante repletas. Ela estava em um relacionamento agora, mesmo no meio de um apocalipse, precisava se cuidar para não ter nenhuma surpresa. Então, ela não pode sair sem uma bela e grande caixa de camisinhas.

— Você disse que tem um hospital por aqui. Vale a pena irmos até lá? — Daryl perguntou, quando deixaram a segunda farmácia. — Vamos achar mais desses remédios.

— Tem sim, só que é pequeno. Mas a ideia foi boa, casca grossa. Pode ser que tenha sobrado alguns instrumentos cirúrgicos, e isso está em falta em Alexandria. ­— Harlie respondeu, adentrando o trailer.

Durante o caminho para o hospital, Daryl começou a prestar atenção em Harlie outra vez. Ela estava usando a busca para se distrair das lembranças que aquele lugar lhe transmitia. Ele percebeu o quanto ela ficou tensa quando passaram pela frente de uma escola secundária. E as coisas pioraram quando Harlie começou a demonstrar sinais de enjoo. Ela sempre enjoava quando estava tendo uma crise de pânico.

Aquela deveria ser a escola onde ela estudava. Onde o pai dela era professor e onde ela era alvo de agressões dos alunos mais velhos. Daryl sabia mais do que ninguém que os traumas da infância eram os piores de todos, e muitas vezes, permaneciam com as pessoas pelo resto da vida. Não era a primeira vez que ele pensava em dar um murro de direita bem dado na cara do pai dela, e com certeza não seria a última.

𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒 𝐀𝐍𝐃 𝐃𝐄𝐌𝐎𝐍𝐒 | daryl dixonOnde histórias criam vida. Descubra agora