I Care... a Lot

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A noite foi difícil. A tempestade parecia não querer ir embora. Nem os errantes. O grupo gastou seus últimos recursos de energia segurando a porta. E não só a porta. Como uma família unida, uns seguravam os outros. Além da mão de Daryl na sua, Harlie sentiu pelo menos mais duas pessoas a segurando, sem saber quem eram.

O grupo só conseguiu dormir perto do amanhecer, quando as coisas ficaram mais calmas. A maioria se acumulou perto da porta. Alguns, em cantos mais afastados. Sasha era quem estava mais longe de todos. Ela realmente estava mal. E não parecia querer apoio...

Harlie estava dormindo dentro de um dos estábulos, com a portinhola quebrada, afastada do grupo. Mas não significava que seu sono estava tranquilo. Pelo contrário, estava tendo um dos piores pesadelos de sua vida. Ela sonhou com um beco escuro e úmido, sendo parcialmente iluminados por algumas luzes neon que piscavam. Era como se estivesse revivendo alguns períodos da adolescência, até aí, nada demais.

Mas ela começou a ver corpos dentro do beco. E não apenas corpos... eram corpos de pessoas que ela conhecia. Todos cobertos de sangue e pendurados na parede. Quanto mais Harlie tentava se afastar, parecia que mais os corpos a perseguiam. Ela viu os integrantes do primeiro grupo, Isabel, James e Old Slim, viu Gareth e outros membros do Terminus, e viu seus amigos mais recentes. Primeiro foram Glenn e Maggie, pendurados um de frente para o outro. Depois, Tara e Michonne, penduradas uma do lado da outra. O beco era infinito...

E mais para frente, ela viu Beth. Foi quando ela parou de correr, e ficou frente a frente com o corpo da Greene. O medo e o desespero se transformaram em tristeza.

—Eu sinto muito... – Harlie disse, tentando alcançar a mão de Beth. Porém, antes que ela sequer encostasse na garota morta, uma voz familiar e horripilante ecoou pelo beco.

—Foi você que causou essa merda toda. – Aquela voz disse, arrogante como sempre.

Harlie olhou para os lados e o viu no começo do beco. Era apenas uma silhueta mal iluminada, mas ela o poderia reconhecer até no escuro.

—Eu não fiz isso, pai. – Harlie respondeu, andando até a silhueta dele. – A culpa não foi minha e você sabe.

—Mentira! Você causou a morte deles... assim como causou a morte da sua mãe. – Ele respondeu, rodeando Harlie, causando uma sensação de pânico dentro dela. – Você poderia ter encontrado uma cura. Mas deixou ela morrer como se ela fosse um pedaço de bosta!

—Eu não matei a mãe! Ela estava doente, estava muito avançado. Tudo o que eu fiz foi tentar ajudar! – Harlie respondeu, enérgica.

—Ah, sim. Como ajudou a Beth? – Ele perguntou. Harlie olhou para trás, procurando o corpo da Greene. Mas não apenas o dela, como todos os outros haviam desaparecido. – Já reparou que toda vez que você tenta ajudar alguém, eles acabam morrendo?

—Não é verdade... – Harlie respondeu, mais como um sussurro para si mesma. Ela estava prestes a chorar. – Alguns ali ainda estão vivos.

—Por enquanto. Mais cedo ou mais tarde, você vai causar a morte deles também. – Ele respondeu. – De um jeito maravilhosamente fodido! E se eu fosse você, tomaria cuidado com um certo arqueiro.

—Mas ele não está... – Harlie olhou para trás novamente... e teve outra surpresa. – Aqui.

Agora havia um único corpo no chão do beco. Daryl estava... morto. Completamente ensanguentado, como os outros. Harlie não conseguiu aguentar mais. Ela caiu de joelhos no chão, aos prantos. Não era possível que tinha causado a morte dele. Não ele...

Harlie acordou com um susto, completamente suada e ofegante. De todos os pesadelos que tinha regularmente, aquele foi o mais horrível. Sentiu-se aliviada por ainda estar no celeiro. Mas aquele pesadelo tinha mexido muito com ela. Aquele era um dos raros momentos em que não queria estar sozinha.

𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒 𝐀𝐍𝐃 𝐃𝐄𝐌𝐎𝐍𝐒 | daryl dixonOnde histórias criam vida. Descubra agora