𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒 𝐀𝐍𝐃 𝐃𝐄𝐌𝐎𝐍𝐒 | daryl dixon

Let Me See You Stripped

Harlie viu os primeiros raios de sol surgirem através de uma linha amarelada no horizonte. Ela já estava acordada há alguns minutos. Teria sido a primeira vez que acordava antes de Daryl, em todas as vezes em que dormiram juntos. Sem fazer barulho, ela se vestiu, pegou uma faca e dois cigarros do maço do caçador e saiu do trailer. Agora, estava sentada no capô, sentindo a fria brisa da manhã, acompanhada dos últimos vestígios do orvalho da madrugada.

Ela mantinha um cigarro atrás da orelha, enquanto fumava o outro. Havia quem dizia que o primeiro cigarro do dia, no período da manhã, era o melhor de todos. Harlie achava que o autor dessa frase costumava passar os dias completamente chapado.

Era como ela estava se sentindo naquele momento. Completamente chapada. Pois bem, estar chapada, pelo menos naquele momento, era melhor que encarar a realidade. O trailer estava estacionado exatamente ao lado de sua antiga casa. Por mais que ela tentasse, não conseguia olhar e não lembrar de todas as coisas horríveis que lhe aconteceram enquanto morava ali. E sua atual casa, a comunidade de Alexandria, também não estava com uma reputação muito melhor. Assim que voltasse, iria ter que lidar com os esqueletos em seu armário por lá.

A começar por Jessie. Elas nem tinham se falado direito, mal se olharam, desde que Harlie assassinou Pete. Não tiveram a oportunidade de se esclarecerem uma para a outra. A terminiana tentava não se sentir mal por ter feito aquilo, pois sabia que se não tivesse feito, o embuste ainda estaria lá, abusando da esposa e dos filhos... e de quem mais estivesse pelo caminho. Contudo, ela ainda não tinha perguntado como Jessie estava se sentindo com tudo aquilo. E, sinceramente, Harlie não tinha certeza se ela estaria furiosa ou aliviada.

Segundo, o que foi aquele olhar estranho do filho mais velho de Jessie, antes de ela deixar a comunidade? Alguma coisa lhe dizia que aquele garoto iria causar umas certas dores de cabeça no futuro. Aquela era a primeira vez que Harlie imaginava a si mesma dando umas bofetadas em um garoto com quase a metade de sua idade. Ela reprimiu uma risada irônica, pensando no quanto aquilo era errado.

Ela havia acabado de fumar o cigarro quando ouviu um barulho atrás de si. As bugigangas balançando e o grunhido característico não escondiam que era um errante tentando passar pela corda. Harlie se virou, sentando-se no outro lado do trailer, de frente para o errante. Aparentemente não era uma ameaça muito grande, ela podia dar conta sozinha. Porém, tinha que ser rápido, antes que o barulho atraísse mais deles.

Após cravar a faca na cabeça do errante, ela voltou a sentar no capô, fumando o outro cigarro. Ela estava com o mapa nas mãos, procurando rotas para outros lugares. Ainda tinham dois dias de viagem, não poderiam ficar os dois dias em Winchester. Já que a busca por armas tinha sido pouco produtiva, ela considerou que os dois pudessem dar uma olhada em cidades vizinhas, no caminho para casa.

Jogando a bituca longe e guardando as anotações no bolso traseiro da calça, ela desceu do capô e voltou para dentro. Dando uma olhada para os fundos do trailer, ela encontrou o arqueiro ainda adormecido. Ela sorriu de lábios, entretida com a visão. Fazia tempo que Daryl não dormia tanto, ainda mais tão tranquilamente quanto agora. É, acho que a noite foi boa não só para mim... Harlie pensou sozinha.

Contudo, mesmo que ela estivesse aproveitando a vista, ela sabia que ele iria acordar mais cedo ou mais tarde. E quando acordasse, estaria com fome.

A terminiana vasculhou os armários do trailer, em busca de algo que não fosse latas de sopa de letrinhas, para preparar o café da manhã. Ela não era exatamente conhecida por ser um prodígio da cozinha, esse posto era de Carol. Na verdade, o que Harlie fazia na cozinha não podia ser considerado comida "normal". Além dela possuir aquele infeliz distúrbio alimentar, preferindo comidas rápidas a pratos complicados para satisfazer suas crises. Geralmente, quando ela estava determinada em aprender a fazer algo, ela lia um livro ou pesquisava na internet. Contudo, cozinhar nunca foi algo que ela teve interesse em aprender.