A claridade da manhã começava a entrar pelas janelas da casa lentamente, com um suave sol das seis. O grupo inteiro descansava, com um ar de segurança que não sentiam há muito tempo. Não que já tivessem chegado a uma conclusão sobre aquele lugar, mas tinham que admitir que dormir sob um teto decente, cheio de comida e com energia era melhor do que o que quer que estivessem vivendo fora daqueles portões.
Daryl foi o primeiro a abrir os olhos. O som de um ronco poderoso ainda ecoava do outro lado da sala, e ele estava com muita vontade de atirar uma flecha na testa da "betoneira ambulante". Mas não o fez, pois rapidamente se distraiu com outra coisa.
Harlie dormia tranquilamente no canto ao seu lado, com uma mecha do cabelo loiro caída pelo rosto. Uma visão clichê, para dizer assim. Pois as pessoas não dormem como se estivessem em um comercial. Tecnicamente, era para ela estar descabelada e destrambelhada por dentro do cobertor. Mas ela parecia que não tinha movido um único músculo durante a noite toda.
Daryl agradeceu internamente por isso. Ele arrumou seu canto naquele lugar especialmente para poder dormir ao lado dela e acordá-la caso algo estivesse errado. Como na noite da tempestade, onde ele permaneceu acordado e a viu em um sono agitado, quase em pânico. E quando ela contou que estava tendo um pesadelo... ele se sentiu mal por não ter feito nada antes.
Tudo bem, era só um pesadelo, nada de muito grave. Mas ele lembrou de tudo o que ela havia contado sobre a família dela, os abusos sofridos nas mãos de terceiros, que continuavam sem parar, sem que ninguém se importasse... quase igual a o que ele mesmo passou.
Por que eu me importo com essa maldita magrela? Ele se perguntava. Afinal, já houve dias em que ele queria trucidá-la, como o dia em que a conheceu, o dia que ela fugiu do hospital... o dia em que Beth morreu...
Por dias ele achou que a culpa era dela. E aquilo estava o destruindo por dentro aos poucos. Mas não mais do que estava a destruindo. Ela o evitou por vinte dias. Nenhuma palavra, apenas poucos olhares tristes e rapidamente desviados. E então ele percebeu que ela também se culpava. O que o fez se culpar por culpá-la.
E quando ele a encontrou na floresta, no meio de uma caçada, e ela implorou para que ele ficasse... foi quando ele entrou em conflito. Era muita coisa para ele processar. Era querer estar com ela, mas não poder pela culpa, pelo medo de perdê-la, pelo receio de "se prender" a alguém, por ser taxado de maricas... e por não saber se conseguiria tratá-la direito. Ele conseguia ser bastante grosso e explosivo em certos momentos, e eventualmente iria machucá-la com palavras caso não conseguisse se controlar.
Ao mesmo tempo lhe ocorreu a dúvida. Harlie poderia até ter algumas habilidades especiais, como saber caçar, mas ela parecia ser uma garota da cidade. Quer dizer, ela fez até faculdade, enquanto ele nem terminou a escola. Estaria ela... o enganando? Pois, o que mais uma garota como ela iria querer com um caipira bruto como ele além de um "guarda-costas"?
Devia ser por esse motivo que quando ela o pegou de surpresa se lamentando na floresta, ele usou a palavra "mimadinha" para se referir a ela. E então ela o beijou... uma, duas, três vezes... várias chances. Como se o destino quisesse que ficassem juntos. Foi a primeira vez que ele realmente desejou uma mulher em muito tempo.
Quando ela o deixou tocar suas cicatrizes... e tocou as dele... toda a definição de "garota da cidade" caiu por terra. Harlie era forte. Ela conseguia aguentar toda e qualquer merda que esse mundo jogasse em cima dela. Estar com ela foi... inexplicável em palavras. Poderia ter durado dias. Daryl não se arrependia desse momento, nem um pouco.
Porém, todos os seus medos e inseguranças pessoais voltaram para lhe assombrar. E ele se sentiu o maior covarde do mundo ao deixá-la sair daquele celeiro daquele jeito brusco e totalmente errado. Ela era uma chama pequenininha de esperança. Uma chama que suportava chuva, vento, gelo, o que quer que fosse. Mas ele sabia que essa chama não ficaria acesa para sempre.
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𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒 𝐀𝐍𝐃 𝐃𝐄𝐌𝐎𝐍𝐒 | daryl dixon
FanfictionHarlie é uma sobrevivente do falso "santuário para todos", Terminus. Após a explosão de seu lar, ela vê uma oportunidade de redenção e encontra uma nova família com o grupo de Rick Grimes. Não sendo aceita facilmente por alguns, ela intriga um membr...