Danger Zone

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Harlie e Daryl passaram o resto do dia entrando e saindo de pequenas cidades e subúrbios, coletando o máximo de recursos possíveis. Alguns estavam mais vazios que os outros. Em outras palavras, cada vez que se aproximavam mais de Washington, mais as lojas, mercados e hospitais estavam mais vazios. Fazia sentido. O surto havia afetado as cidades grandes muito mais que as pequenas.

Perto do pôr-do-sol, os dois havia terminado de esvaziar uma loja de armas perto de Leesburg, um subúrbio que um dia poderia ser considerado agradável, que agora estava mais para uma cidade fantasma. O trailer estava tão cheio que, se dependesse deles, já voltariam para Alexandria naquele mesmo dia. Mas as regras eram claras, Harlie só poderia voltar daqui a um dia.

Agora, os dois estavam sentados no teto do trailer, comendo um lanche e esperando anoitecer. O veículo havia sido estacionado em uma parte mais alta, numa abandonada mansão, que um dia já fora luxuosa e agora se encontrava saqueada e quebrada, aos arredores da pequena cidade, de forma que ficasse longe do alcance de errantes. Mesmo assim, a típica corda com penduricalhos estava amarrada em volta do trailer, pois qualquer precaução era pouca.

— Pode falar, você quer voltar para casa, não quer? — Harlie perguntou. — Já deve estar enjoado de olhar para a minha cara.

Em resposta, o caçador soltou um de seus típicos grunhidos e empurrou o ombro de Harlie levemente.

— É, acho que algumas pessoas não conseguem viver sem mim. — Harlie o provocou, com uma risada. — Falando nisso, eu imagino o que as loucas da Tara e da Rosita estão aprontando na minha enfermaria comigo fora da comunidade...

Ela sentia falta de lá, isso era notável. Não dava para deixar um único terror tirar dela a experiência de ter um lar outra vez. Por mais que as lembranças do ocorrido com Pete ainda assombrassem a mente dela, as experiências positivas ainda eram muito maiores. Praticamente todos os seus pacientes a tratavam bem, a quantidade de comida era maior do que qualquer coisa que ela já tinha visto desde o começo do apocalipse, ela pode ter água quente e uma cama macia outra vez... sem contar o fato de que foi lá onde ela finalmente se arrumou com Daryl.

— Vamos voltar amanhã à noite. — Daryl respondeu, em um tom baixo, com o sotaque altamente carregado. Era uma das características que Harlie mais gostava nele.

— Casca grossa, eu já disse que acho esse seu sotaque caipira do sul sexy demais? — Harlie perguntou, o encarando com aquele típico olhar misterioso, com os olhos semicerrados e as bochechas coradas.

Ela queria beijá-lo. Bem na frente do pôr-do-sol, tal como naquelas cenas de filmes românticos tão clichês que chegavam a ser enjoados. Contudo, mesmo depois de tudo o que os dois passaram, ainda havia a questão do consentimento. Daryl era imprevisível. Ela nunca saberia se ele está consentindo ou não, sem perguntar. E ela nunca teria coragem de forçá-lo a fazer algo que ele não queira.

Dessa vez, ela não precisou perguntar nada. Os dois eram famosos pela comunicação através de olhares, que era muito mais frequente que a verbal. Ele era como um enigma, que ela se esforçou para aprender a decifrar. E esse era um momento em que estavam tão em sintonia que eram como notas harmoniosas de uma música muito bem composta.

Descrever Daryl assim era quase um eufemismo, quase um ultraje. Era mais fácil ligar a imagem do caçador com algum animal selvagem, ao invés de uma música. Um animal selvagem e imprevisível. Porém, como diz o ditado, a música amansa as feras. E Harlie era a música que o acalmou.

Ele deixou a comida de lado, pôs as mãos no rosto dela e juntou seus lábios. Ela estava começando a se acostumar com esse lado mais afetuoso dele. Era quase como se ela tivesse ultrapassado a barreira por completo. Era tudo tão novo e tão familiar ao mesmo tempo. Por mais que Harlie já tivesse tido vários outros relacionamentos durante sua vida, esse era estranhamente melhor. Ela não se sentia tão bem com um parceiro há muito tempo. Ao menos, desde antes do início do apocalipse.

𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒 𝐀𝐍𝐃 𝐃𝐄𝐌𝐎𝐍𝐒 | daryl dixonOnde histórias criam vida. Descubra agora