O Jantar

4.2K 377 238
                                    

— Rey, você está me ouvindo?

Não, não estou.

Já fazem o que? Três horas que estou sentada no chão da cozinha, acabando com o estoque de Häagen-Dazs que Sara mantém no congelador, para os dias em que decide esquecer que é uma musa fitness e come algo além de nabos e ovos.

— Reyna?

Estou grávida.

Deus do céu, estou grávida!

Respiro fundo, engolindo mais uma enorme colherada de sorvete de chocolate. Não consigo chorar, não consigo levantar, não consigo sequer me mover se não for para levar o talher a boca.

Estou grávida de um cara que só vi uma vez na vida. De uma celebridade que só fui descobrir quem é no dia seguinte, quando ele saiu da minha casa e tinham fotógrafos na frente do prédio.

Estou grávida de um maldito super-herói!

Enfio a colher com tanta força na boca que a bato nos dentes de cima e solto um gemido de dor.

Sara se abaixa ao meu lado, arqueando a sobrancelha.

— Me dê. — diz ela pacientemente, esticando as mãos rumo ao meu pote de sorvete.

Rosno.

Sim, feito um cachorro.

Rosno e afasto o pote.

— Reyna...

Desvio o olhar, comendo mais um pouco.

— Sullivan, raciocine um pouco. Não sei o que vocês vão decidir, mas até segunda ordem, você está grávida. Não pode ficar comendo essas coisas como se o mundo fosse acabar amanhã.

Oh, droga!

Encaro o pote de sorvete em minhas mãos, de repente sentindo meu estômago revirar. Quantos potes desse comi nas últimas horas? Quantos potes desse ele comeu?

Oh meu Deus, bebê! Eu sinto muito! Sinto tanto!

E no instante seguinte, minhas pernas magicamente se lembram o porquê delas existirem, já que me levanto na velocidade da luz e disparo rumo ao lavabo do corredor, caindo de joelhos enquanto litros e mais litros de sorvete de chocolate são expelidos antes do previsto.

Agarro a porcelana fria e ouço Sara atrás de mim, se ajoelhando e segurando meus cabelos no alto.

— Eu realmente não vi essa vindo. — diz ela, num tom maternal.

Muito mais maternal do que o que minha mãe usaria se fosse ela a segurar meus cabelos.

Com o corpo trêmulo, aciono a descarga e caio sentada no piso frio, sentindo Sara esfregar minhas costas.

— O que eu faço agora, Sara? — choramingo, sentindo o turbilhão de pensamentos me atordoar.

— Não é óbvio, Reyna? — a encaro com descrença. — Ora essa! Falar com o pai, não?

Meu estômago revira mais uma vez e aperto o vaso ainda mais forte, pronta para regurgitar o que quer que ainda tenha no meu sistema digestivo, mas nada sai. Sinto uma pontada e levo uma das mãos ao abdômen, me contorcendo por um instante.

Instintivamente, ela desce um pouco mais, parando logo acima do meu ventre.

O que será de nós agora?

— Não sei se posso fazer isso. — murmuro quase que inaudivelmente.

— Reyna Sullivan, olhe aqui.

All My Life | Tom Holland ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora