Contrariando os pedidos de Sara, Tom, a obstetra, qualquer outra pessoa próxima e até mesmo os da minha consciência, volto para a faculdade um dia depois do enterro.
Não sei como, mas minhas pernas preguiçosas com tornozelos doloridos me arrastam para dentro do campus da UCL num típico dia chuvoso em Londres, e continuam a fazê-lo pelos dias que se sucedem. Não sei porque, mas a ideia de sentar num auditório cheio de olhares curiosos é melhor do que ficar no sofá de Sara, onde todos me encaravam como se eu fosse um experimento que deu errado e eles não soubessem o que fazer a respeito. Então, mesmo diante do meu pavor em pisar para fora de casa e ser cercada por uma horda de fotógrafos zumbis, voltei a percorrer a curta distância que me separava do campus pelas ruas de Bloomsbury e enfiei minha cara nos livros mais uma vez, tentando recuperar o tempo que perdi com as últimas tragédias.
Infelizmente, o universo não parecia colaborar e os bebês na minha barriga também não. Enquanto estou na biblioteca, vendo os primeiros flocos de neve caírem pela janela no meio de Outubro, logo atrás do meu Macbook, sinto um curto pontapé nas minhas costelas e faço uma careta, interrompendo meu seminário de radiojornalismo e massageando a área.
— Tire já seu pé daí. — murmuro, baixando o olhar para a minha barriga. Um novo pontapé me acerta e travo a mandíbula. — Não me faça ir até aí!
Quando ergo a cabeça novamente, um garoto emo, ruivo e sardento me encara incrédulo. Penso em dizer algo, mas simplesmente me volto para a tela do aparelho e continuo a massagear meu tronco, me perguntando se eles me deixarão estudar para as importantíssimas provas antes do recesso de fim de ano. Um novo chute me diz que não, e bufo sem paciência antes de esticar minhas mãos até meu pacote de bolachas pela metade, rezando para que a bibliotecária não o veja ou simplesmente o ignore, afinal, estou grávida... E bem grávida.
Meu celular vibra ao lado do macbook e o apanho, lendo a mensagem de Tom no visor.
"Como está o bebê?"
Solto uma risadinha.
"Está aproveitando o próprio privilégio gestacional e comendo na biblioteca! Um crime gravíssimo, eu diria!"
A resposta demora menos de um minuto.
"E você fala dele assim, por mensagem? Já pensou se a Interpol intercepta isso? Não quero que meus filhos nasçam na cadeia!"
"Cadeia?! Que namorado desnaturado é você?! Pensei que pagaria minha fiança, ou no mínimo um advogado!"
"Bom, se você sair e me encontrar no estacionamento nos próximos cinco minutos, posso pensar no seu caso..."
Lanço uma olhada aborrecida para meu Macbook, rodeado de livros velhos e post-its de todas as cores, pensando em todas as bombas que levarei neste semestre. Não é como se fosse conseguir me concentrar nem que ficasse aqui o restante do dia, mas não consigo evitar me sentir culpada por simplesmente largar tudo assim. De qualquer maneira, recolho meus materiais e os coloco na bolsa, seguindo rumo à saída em meio aos olhares curiosos queimando nas minhas costas.
Conforme a mensagem, encontro o carro no estacionamento e instintivamente olho para os lados, esperando que algum flash dispare no meu rosto através dos arbustos, mas depois que um processo começou a correr após o vazamento do endereço de Sara, não encontro nada além de estudantes e um zelador com fones de ouvido.
— A que devo a honra de sua presença hoje? — digo, deixando a bolsa nos bancos de trás e assumindo o do passageiro.
Tom inclina-se para beijar minha bochecha.
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All My Life | Tom Holland ✓
FanfictionOs planos de Reyna Sullivan sempre foram muito concretos: se formar na faculdade de jornalismo; conseguir um emprego no The Times; se mudar para um apartamento maior, em um bairro bom; construir seu próprio legado... Engravidar definitivamente era...