Por favor

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Tom.


 O tempo congela ao meu redor, apesar de conseguir ver os ponteiros do relógio se movendo acima das portas duplas.

 As portas das quais passei ao deixá-la.

 Minhas mãos tremem tanto que, mesmo ao apertá-las, não consigo fazê-las parar. Alguém toca meu ombro, mas não me viro para ver de quem se trata.

 Espero que algum médico saia dali e tire a imagem da minha cabeça. Que diga que estou errado e os olhos sem vida que me encararam daquela maca não passaram de uma ilusão idiota provocada por pânico. Que Reyna está bem e aguarda no quarto, eufórica a espera dos filhos. Que em alguns dias, nós quatro iremos para casa e fingiremos que isso não passou de um susto sinistro. Que ela vai se balançar naquela cadeira esquisita e ninar um de cada vez, ou os dois ao mesmo tempo, pois sempre foi teimosa demais para acatar ao que digo.

 Nada acontece.

 As portas permanecem fechadas enquanto as encaro com a mandíbula travada, como se pudesse mexê-las com o poder da mente feito algum herói idiota.

 A quem estou tentando enganar?

 Não sou merda de herói nenhum. Não acho que consiga ser algo sem ela.

 Uma mulher surge num pijama cirúrgico cor de rosa, o rabo de cavalo balançando atrás de sua cabeça enquanto se adianta em nossa direção. Me levanto imediatamente, aguardando as notícias que sei que lhe acompanham, e preciso reprimir ao máximo o impulso de pegá-la pelos ombros e sacudi-la em busca de respostas quando seu olhar me analisa de cima a baixo.

 Foda-se a porra do traje!

 — Reyna Sullivan? — ela arrisca, incerta. A essa altura, já há uma horda de pessoas ao seu redor, os olhares ansiosos. — Os bebês estão bem. Um pouco abaixo do peso, já que um tem 2,6kg e o outro 2,4kg, mas é comum para uma gestação gemelar.

 — Um deles estava roxo... — minha mãe começa, o nervosismo fazendo sua voz tremer. Não me lembro de ter lhe dito esse detalhe, mas minha mente não parece confiável no momento.

 — Vias aéreas obstruídas, mas foi resolvido. — a médica assegura. — Ele já passa bem.

 Não me contenho e dou um passo em sua direção.

 — E a Reyna? — as palavras saem rapidamente, meus batimentos acelerando tanto que consigo ouvi-los.

 O cenho dela se franze, os lábios despencando ao me encarar.

 Não, não, não!

 — Infelizmente só estive com as crianças. — ela se desculpa e penso se não irei desmaiar. — Mas vou procurar alguém que possa atualizá-lo melhor sobre a mãe.

 Sem aguardar pela resposta, vejo-a assentir e sumir após passar pelas malditas portas duplas. Eu pisco, atordoado, e ouço o soluço desesperado de Sara ecoar pela sala de espera.

 Apoio as duas mãos em cada lado da cabeça, sentindo como se ela estivesse prestes a se rachar no meio e eu precisasse manter todos os pedaços no lugar. Meus dedos afundam nos cabelos e meus olhos ardem mais uma vez, mas me pergunto se eles ainda têm lágrimas para expelir.

 — Vem, querido. — minha mãe toca meu rosto com pena, e vejo seus olhos cheios d'água, como se tentasse segurá-las ao máximo ali. — Você precisa trocar essa roupa.

 — Ela morreu. — digo com a voz embargada, sentindo a dor se alastrar do meu peito para todos os cantos do meu corpo. — Meu Deus, ela morreu.

All My Life | Tom Holland ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora