Antes de dormir, imagino por alguns instantes como lidarei com a falta de Tom nas próximas semanas. Penso no quão doloroso será acordar pela manhã sem me virar e esbarrar a barriga enorme em seu corpo; na sensação de poder tomar uma jarra inteira de café ou jantar batatas fritas por três dias consecutivos, sem ter alguém para me repreender; de não levar um beliscão no traseiro cada vez que nos esbarrarmos pela casa; ou de simplesmente não vê-lo chegar com os ombros cobertos por esparsos flocos de neve após levar Tessa para um passeio. O sentimento me parece demais para aguentar, então me encolho mais contra seu corpo adormecido e entrelaço nossos dedos, tentando me deixar levar pela inconsciência.
Mas quando o ouço saindo cedinho no dia seguinte, após me dar um beijo atrás das orelhas — provavelmente imaginando que ainda estou dormindo —, rolo na cama e deixo que minha enorme barriga force meu corpo para baixo, encarando o teto do quarto. Ouço Tessa soltar um muxoxo entristecido no andar de baixo assim que a porta bate, o ruído surdo do carro sendo ligado na frente de casa, e então, quando ele corre a rua o suficiente para que não o ouça mais, o silêncio me engole, mas não consigo deixar de notar que não me sufoca mais.
Ele vai voltar.
Ele sempre volta.
E com isso, me adapto à rotina.
Logo no primeiro dia, opto por arrancar o band-aid de uma só vez: sigo decidida para a UCL e tranco a matrícula. Tenho um momento de recaída enquanto aguardo os papéis para assinar, me perguntando se não seria capaz de dar conta quando vejo alguns alunos percorrendo o campus. Talvez com aulas à distância, eu consiga manter os estudos, quando os dois dormirem e eu não estiver exausta demais por ter que alimentá-los, niná-los, banhá-los, vesti-los, botá-los para arrotar, limpá-los de possíveis vômitos, trocar fraldas...
Respiro fundo e assino o termo, deixando de ser uma aluna de jornalismo da UCL assim que a caneta se desencosta do papel.
Apesar dos motivos que me levaram a aquele lugar valerem mais do que a pena, sinto como se uma parte minha se desprendesse e caísse ali, quebrando em pleno chão da secretaria.
E então, quando viro as costas para ir embora, consigo sentir uma ligeira pressão no abdômen, o suficiente para me fazer dobrar para frente. Arregalo os olhos, levando as mãos para a barriga de imediato enquanto minhas pernas tremem, lutando para aguentar repentinamente o peso desestabilizado do meu corpo. As pessoas correm em minha direção rapidamente, pegando minha bolsa, me fazendo sentar, perguntando por contatos de emergência, me trazendo copos d'água.
Uma nova contração vem e, sem pensar direito, disco o número de Sara.
— Estou em trabalho de parto na secretaria. — anuncio, ouvindo-a prender a respiração repentinamente.
— Fique onde está! — ela grita e desliga.
Sara chega em menos de cinco minutos, sobre botas de saltos grossos com canos que cobrem seus joelhos. Com a ajuda dos curiosos, ela me conduz até o estacionamento e me coloca dentro de seu carro, manobrando-o num movimento digno de filme de ação para deixar o campus.
— Acho que não estou mais... — murmuro enquanto o furacão loiro cruza sinais vermelhos.
E é verdade. As contrações param quando estico as pernas sobre o painel, ouvindo mentalmente a voz de Tom me mandando baixá-las por conta do risco de acidentes.
Sara me encara de rabo de olho.
— Não vamos brincar com isso. — diz, feito uma mãe mandona. — Já estamos aqui, então vamos até o hospital.
Por um momento, imagino como será seu instinto maternal com seus futuros filhos. Provavelmente quatro crianças de cabeças louras, com os olhos de Harrison e a língua afiada da minha melhor amiga.
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All My Life | Tom Holland ✓
FanfictionOs planos de Reyna Sullivan sempre foram muito concretos: se formar na faculdade de jornalismo; conseguir um emprego no The Times; se mudar para um apartamento maior, em um bairro bom; construir seu próprio legado... Engravidar definitivamente era...