A ideia de Tom indo embora, mesmo que por poucos dias, já parecia assustadora o suficiente na minha cabeça, mesmo que eu soubesse que seria mil vezes pior quando ele fosse de verdade.
A única coisa que eu não contava era que ele notaria o meu desconforto.
Nos dias que se sucederam anteriores a viagem, assisti Thomas Holland me seguir a qualquer lugar, ganhando até mesmo da minha sombra. Ele me obrigou a comer mais coisas verdes em uma semana do que eu comi nos últimos 22 anos, sentava-se atrás de mim nas aulas de Yoga para garantir que eu seguia a professora ao invés de dormir no tapete, e me abraçava e beijava atrás da minha orelha todas as noites antes de dormir, para impedir que os sonhos ruins me alcançassem.
Sempre soube que ele fazia aquilo numa tentativa de suprir a falta que faria quando embarcasse naquele avião rumo ao outro lado do globo, mas quando o abracei na despedida e senti seus lábios nos meus por um curto minuto antes dele se afastar pela trigésima vez — enquanto eu tentava arrastá-lo pela mão para dentro de casa mais uma vez para impedi-lo de ir —, a abstinência me atingiu feito uma guilhotina ao vê-lo acenar e se afastar.
— Cuide do meu bebê! — ele gritou de dentro do carro.
— Eles estão seguros aqui! — apontei para a minha barriga.
— Mas eu estava falando de você... — Tom deu uma piscadela, me lançando um beijo no ar antes de dar a partida e sumir em poucos minutos ao contornar a esquina.
A questão é que os bebês não se cuidam sozinhos, e eu gostava da minha babá. A falta dela esquentando o outro lado da minha cama me faz ficar acordada por horas durante a noite, trocando de posição a cada cinco minutos e praguejando mentalmente todas as vezes que não consigo achar um encaixe confortável para minha barriga.
Por volta das 3h, solto um resmungo e me levanto, caminhando nas pontas dos pés até o closet numa tentativa de não acordar Sara no quarto ao lado. Atrás de duas pilhas de roupas, pego o frasco de perfume que surrupiei das coisas de Tom antes dele ir e volto para cama, borrifando duas vezes no travesseiro que ele costumava usar. Sacudo o objeto algumas vezes para tirar o excesso e me deito novamente, apoiando a barriga nele e o abraçando o mais firme que consigo.
Pareço ter acabado de fechar os olhos quando retorno a consciência, ouvindo um toque de celular que se torna mais alto conforme desperto. Me enrosco no travesseiro e nos cobertores ainda mais, na esperança de que quem quer que esteja ligando desista ou que o celular simplesmente exploda, mas o universo infelizmente não conspira a meu favor. Resmungo irritada e estico a mão até a mesa de cabeceira, tateando até apanhar o aparelho.
O nome de Tom no visor me faz despertar imediatamente.
— Alô?
— Ei. — A voz dele do outro lado é pior que qualquer entorpecente, já que me faz acordar por completo. — Você sabe se deixei meu perfume ai?
— Ér... — murmuro, encarando o vidro na minha mesa de cabeceira. — Acho que não, pelo menos eu não vi nada.
Um flash da minha mão afanando rapidamente o frasco de dentro da mala e o escondendo na velocidade da luz enquanto ele estava no banho cantando alto algo de Billy Elliot surge na minha mente, mas nego com a cabeça para espantá-lo.
— Que droga. — Tom responde após alguns minutos de silêncio, o que me faz questionar se ele comprou minha mentira. — Mas voltando, acordei você? — resmungo em concordância, esfregando o rosto contra o travesseiro. — Você não tem um ultrassom em algumas horas?
— Faltam quase duas horas. — digo contra o tecido, sentindo meu estômago roncar.
— Certo, e depois trabalho... — Noto certo desgosto em sua voz. — E então Yoga.
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All My Life | Tom Holland ✓
أدب الهواةOs planos de Reyna Sullivan sempre foram muito concretos: se formar na faculdade de jornalismo; conseguir um emprego no The Times; se mudar para um apartamento maior, em um bairro bom; construir seu próprio legado... Engravidar definitivamente era...