Reconforto

3.8K 341 156
                                    

— Como você está? — a voz de Sara se pronuncia.

Paro por alguns instantes, observando-a na porta da cozinha.

Eli acabou de ir embora, e o relógio do meu celular indica que já passa da meia noite. Enquanto isso, minha melhor amiga está encostada no batente, detonando o restante das batatinhas do pacote enquanto alguns fios louros se desprendem de seu coque mal feito, assistindo apreensiva enquanto preparo a chaleira.

Não sei. Como estou?

Pondero por alguns minutos.

Ter o apoio dela e de Eli nas últimas horas realmente melhorou meu humor, mas é impossível apagar o que está prestes a acontecer. Nada no mundo seria capaz de tirar essa angústia incômoda no meu peito, nem meus melhores amigos.

— É uma pergunta simples. — ela diz enquanto apanho a caixa de Twinings no armário.

— Mas não é uma resposta simples. — murmuro, despejando a água quente na minha xícara favorita.

Um boneco de neve sorri para mim através da porcelana, me lembrando do quanto amo o Natal. O feriado me lembra momentos felizes e despreocupados, muito diferentes do que estou passando agora.

O que eu não daria para passar o dia seguinte inteiro jogada na neve, balançando os braços e as pernas na tentativa de fazer um anjo enquanto o cheiro de biscoitos recém assados me segue do lado de fora.

Jogo um saquinho de chá na xícara ao mesmo tempo em que sinto as mãos de Sara em meus ombros, me abraçando por trás e deitando a cabeça na minha.

— Vai ficar tudo bem. — diz, usando aquele velho tom maternal que faz meus olhos se encherem de lágrimas.

Engulo o bolo na minha garganta, balançando o saquinho de chá com mais força que deveria.

Vai mesmo? Tudo irá ficar bem? Então por que sinto exatamente o contrário?

O choro sobe mais uma vez e eu olho para o teto, tentando a todo custo mantê-lo dentro dos meus canais lacrimais, mas Sara me aperta mais um pouco e ele começa a transbordar...

Oh, droga! Quando foi que virei uma maldita cachoeira ambulante?!

Meu celular apita e me desvencilho do abraço tão rápido que quase derramo chá quente em nós duas.

— Eu vou... Vou... — pigarreio, tentando disfarçar a voz de choro. — Vou dormir. É... Boa noite.

Sara ri baixo, pegando a chaleira.

— Boa noite, Rey. — ela pisca. — Grite se precisar de algo.

Minha expressão vacila.

Como Sara consegue ser a melhor pessoa do mundo tão naturalmente? Eu mal chego aos pés dela!

Aceno em concordância por fim e vou aos pulinhos para meu quarto, fechando a porta ao passar. Deixo o chá sobre a mesinha de cabeceira e desbloqueio o celular enquanto me enfio debaixo dos cobertores.

"Não me diga que dormiu."

Reviro os olhos ao ler a mensagem de Tom, mesmo que mal consiga conter um sorrisinho. Dou um gole no chá antes de responder.

"Boa noite. Aqui é a Inteligência Artificial R.E.Y.N.A., pois a Reyna Sullivan original está dormindo. Deixe seu recado após o sinal."

Ele não demora nem dois minutos.

"Espero que sua Inteligência Artificial seja um robô para abrir a porta pra mim, pois eu detestaria ter dirigido até Bloomsbury para nada. :("

All My Life | Tom Holland ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora