O Casal Mais Maneiro

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 Assim como tem ocorrido nos últimos oito anos, meu dia começa cedo.

 Pela primeira vez desde que nos conhecemos, Tom e eu dormimos brigados. Claro que discutimos muitas vezes durante tantos anos de casamento, mas nunca a ponto de dormir virados em direções contrárias porque não conseguimos nos encarar. Dessa vez, entretanto, as palavras na cozinha reverberam na minha cabeça quando a casa está no mais absoluto silêncio, servindo como impedimento para que meus olhos se fechem.

 Imagino que também não tenham o efeito tão satisfatório que Tom previu, já que não o ouço ressonar até às 3h da manhã, que é quando o sono finalmente me domina e deixo de ouvir qualquer coisa.

 Quando o despertador ressoa, sinto como se houvesse areia nos meus olhos, me impedindo de mantê-los abertos totalmente. Dou uma olhada rápida para o meu lado, mas só consigo distinguir uma silhueta maior subindo e descendo devagar, mostrando que Tom ainda dorme, então deixo o lugar o mais silenciosamente possível, me amaldiçoando mentalmente por me preocupar com seu maldito sono.

 Acordo os meninos delicadamente. Theo dorme abraçado com Tessa numa conchinha desajeitada, mas desperta coçando os olhos quando peço para ir se arrumar para a escola. Josh, por outro lado, ronca baixinho atravessado na cama, os braços pendurados em uma extremidade e as pernas na outra, enrolado nas cobertas e com o travesseiro no chão. Dou um sorrisinho, recolhendo o item antes de pedir para que desperte, recebendo seus olhos cansados em resposta. Seu pequeno cérebro parece demorar alguns instantes para processar o que eu disse, mas logo Josh se levanta e vai até o guarda-roupas.

 Estou cansada demais para pensar em superproduções, então retorno ao quarto, escolho roupas básicas no closet e sigo para o banheiro. A sensação de incômodo pelo torpor do sono me deixa tão letárgica que passo pelo contorno adormecido de Tom e sigo para o banheiro, me enfiando debaixo da ducha fria. As gotas glaciais caem sobre meu corpo quente e solto um palavrão baixo com o choque, mas é o suficiente para me fazer entrar em alerta. Quando saio, vestida com meus jeans rasgados e um suéter cor de café com leite, estou completamente acordada.

 E Tom também está.

 Dou de cara com ele sentado ao pé da cama, o olhar sonolento fixo no meu.

 — Reyna... — recomeça cauteloso, com a voz rouca de sono. — Reyna, eu não quero mais brigar. Eu não queria dizer aquilo, tudo bem? Sinto muito.

 — Engraçado, você parecia bem seguro do que disse ontem. — respondo ácida, seguindo até o closet.

 — Sim, porque as pessoas dizem coisas ruins em momentos de raiva...

 Ele me segue enquanto escolho um par de tênis brancos, já surrados com o tempo.

 — Isso não foi só uma "coisa ruim", Thomas. Não foi só um "comentário idiota". — me viro para ele quando retornamos ao quarto, e jogo os sapatos no chão para apontar o dedo em sua direção. — Eu nunca pedi a merda do seu dinheiro! Quantas e quantas vezes eu recusei essa porcaria, não é mesmo? Mas você sempre fez questão de enfiá-lo goela abaixo. Quer saber? Foda-se se você banca meia dúzia de brinquedos caros! Você é pai deles! Se tem condições de fazer isso, não faz mais do que sua obrigação como pai... Aliás, pelo menos essa obrigação como pai você tem que cumprir, não é mesmo?

 Me assusto quando ele avança, afastando meu dedo com as costas das mãos e me segurando pelos ombros. Sinto meu corpo se retesar com o leve aperto de suas mãos, mas não é nada comparado a sensação de ter seu rosto ali, tão próximo do meu, os olhos fixos como se houvesse algo lhe impedindo de desviá-los.

 Sinto o choro subir e não demora até que precise me esforçar para enxergá-lo por trás das lágrimas, cujas quais travo a mandíbula para impedir de sair.

All My Life | Tom Holland ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora