Capítulo 22

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Mirae

    A culpa caia em cima de mim com tanta força que parecia arrancar o ar de meus pulmões e os amassá-los. Toda aquela guerra estava acontecendo porque eu havia me apaixonado por ele, Seraphina contou o meu segredo porque eu não estava lá. Nunca conseguiria culpá-la por tal motivo, eu deveria estar em casa, mas meu coração falou muito mais alto... E eu fui atrás dele.

    É estranho pensar que momentos tão bons como aqueles pareciam ser levados aos céus junto com a poeira dourada que uma vez foi anjos.

    Mas eu tinha que acabar com tudo aquilo, a magia parecia formigar em minhas mãos, pronta para acabar com toda aquela guerra e proteger a vida que ainda restava ali. Mas antes mesmo de me levantar sinto uma mão agarrando meu ombro de forma forte, cravando as unhas curtas em minha carne.

    Viro minha cabeça rapidamente e vejo ali Gadreel. Seu olhar era algo assustador, quase como que um retrato da guerra, era um olhar da mais sólida tristeza, junto com raiva, ódio e um enorme pesar.

    — Por que você fez isso com seu povo, Mirae!? — ele levanta sua outra mão com uma machado de guerra enorme que brilhava com sua magia. — Por que fez isso com sua família? — ele desceu seu machado com força arrancando uma das minhas asas. Soltei um grito agudo que parecia não ter sido ouvido naquela confusão caótica e triste.

    — Mirae... — a voz dele parecia tão distante.

    — Por que fez isso comigo? — sua mão com o machado se levantou novamente, meu sangue parecia brilhar como diamantes sobre a pouca luminescência. — Por que você não me amou ao invés daquele demônio? — uma lágrima caiu de seus olhos ao mesmo tempo em que seu machado impiedoso cortou minha outra asa e um grito ensurdecedor meu se elevou naquele campo de batalha.

    — MIRAE! — ele parecia desesperado à minha procura. Será que havia escutado meus gritos?

    — Se eu não posso ter seu amor, ninguém pode! — ele colocou seu machado no chão ao meu lado e então pegou meu braço e me levou em uma direção que eu não podia enxergar.

    Não sei como ainda era capaz de chorar, mas agora a dor que eu sentia em meu coração parecia tão dolorosa quanto aos dos calombos em minhas costas que um dia foram asas.

    Meu corpo passava por cima de corpos brilhantes que viravam poeira e de armas largadas ao chão manchadas tanto de um sangue rubro que era a principal cor em todo aquele caos, e sangue negro. E eu via meu vestido que uma vez fora branco se tornar cinza e com manchas de sangue das duas raças que guerreavam.

    — MIRAE! — sua voz parecia ainda mais perto, e eu não conseguia fazer anda além de chorar.

    As lágrimas quentes pareciam um ótimo consolo naquela hora.

    Não demorou muito para uma luz lilás iluminar tudo que eu via. Era uma luz tão bonita e encorajadora que pensei que tudo estava bem naquele instante. Mas esses pensamentos sumiram quando Gadreel me levantou com seus braços fortes e então pude ver o portal.

    Ele era um enorme buraco no céu cinza, sua volta parecia uma mistura de raios de tempestade, fumaça brilhante roxa e um pedaço do céu noturno coberto de estrelas. Era até que uma linda visão, se não fosse por sua escuridão que deixava uma dúvida de onde ele iria dar.

    — Por favor... Não... Gadreel... — clamo por minha vida, para pelo menos poder acabar com tudo aquilo.

    — Você já machucou pessoas de mais! — sua voz era dura, cheia de ódio e tristeza, isso fez com que outra lágrima rolasse por meu rosto. — Você não é mais um anjo, Milagre! — suas palavras apunhalavam meu coração, já massacrado pela culpa, sem nenhuma piedade, nem as lágrimas quentes que caiam em meus olhos eram capazes de acabar com aquela dor horrível que eu sentia.

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