Capítulo 2

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    Tantos lugares para ir e eu decidi ir para lá. Poderia estar indo até para a biblioteca, com certeza Shakespeter, Stebão Butler ou até mesmo Lisa Starlight iriam me fazer esquecer tudo aquilo, mas naquele momento a Floresta das Fadas parecia mais acolhedor do que qualquer outro lugar.

    Segurei a touca simples cinza com a boca enquanto enrolava meus cabelos em um coque apertado e coloco a touca, cobrindo todos os meus fios de cor chamativa, brilhante e amaldiçoada. 

    Tive que aprender a escondê-los, assim não chamava tanto a atenção, e não era alvo de tantos comentários, muitos não eram elogios e outros com entonação de dó. Seguro meu livro de capa azul apertado no peito, tentando me lembrar de uma história sobre alguém sem poderes, ou pelo menos algum boato! Se soubesse que não era a única talvez me sentisse mais consolada.

     Minhas pernas doíam, era uma distância grande da minha casa até a Floresta, não havia pensado em pegar uma Bolha Mágica ou até mesmo uma Centobuspeya, só queria sair correndo.

    Então cheguei na floresta com a aparência horripilante que ficará por causa da ausência de magia, um lugar assim como eu.

     Muitos tinham medo da Floresta alegando que ela era amaldiçoada. Eu não tinha medo, pois quando eu entrava lá via a floresta que um dia foi e tinha esperança que ia voltar ao normal. Por isso eu também acreditava que eu ia ter meus poderes um dia. Apesar de ambas as coisas serem uma esperança fútil e tola.

    Enquanto andava pela grama alta de um verde acizentado umas luzes douradas subiam, como vagalumes-dragões, gostava de os chamar de Resquícios de Magia, porque, nada pode sumir completamente, sempre resta alguma coisa, só para demonstrar que mesmo juntando todas as partes que sobraram não chegaríamos nem perto de alcançar o que era antes...

    Fui me aprofundando ainda mais na floresta até chegar onde eu queria. No balanço, que eu montei no meio da floresta, com cordas e madeira que havia achado jogadas em um terreno baldio. Havia decorado com algumas flores, só para dar um ar mais alegre, mas tudo ali parecia apagado e cinza.

     Me sentei no balanço e abri o meu livro, folheando as páginas com textos e desenhos que eu mesma havia feito. Havia muitas criaturas, quase todas, ainda faltavam umas, mas sabia que um dia conseguiria registar todas, porque uma vez registrado em um livro nenhuma história seria esquecida. E já que sumiriamos, pelo menos seríamos lembrados.

     Inclinei minha cabeça para cima, olhando a lua por entre as folhas que um dia haviam sido coloridas. Meus dedos apertavam o livro em meu colo, assim eu tinha uma mínima sensação de conforto. Então lágrimas escorreram pelo meu rosto. Por que eu era a única sem poderes? Isso era tão injusto! Por que só havia acontecido isso comigo? O que eu tinha de errado?

    Fecho meus olhos para sentir melhor o vento com pólen das fadas pelo meu rosto, o cheiro de várias espécies de plantas e a melodia dos pássaros e outras criaturas mágicas. Sentia o vento quente e seco secando minhas lágrimas, mas era questão de tempo até que outra escorresse, molhando-o novamente. Assim, com os olhos fechados, apenas sentindo, parecia que a floresta havia voltado a ser o que era antes, se me concentrasse conseguiria escutar as vozes finas e claras das fadas falando, como pequenos sinos.

     Até que sinto uma presença. Abro meus olhos e fico em alerta, repasso em minha mente todas as técnicas de derrubar alguém que havia aprendido com mestre Zen.

    Escuto o barulho de um graveto quebrando. Alguém havia pisado nele e estava se aproximando. Em um pulo me levanto e me viro na direção do barulho, chuto o que acho ser o abdômen de alguém parado quase perto de mim, coloco toda a minha força nesse chute. E assim que meu inimigo cai, vejo quem era.

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