Três Desejos

29 - Fodido.

Durante três meses, não comi direito, não dormi mais de quatro horas seguidas por dia, bebi tanto whisky que meu sangue provavelmente foi reduzido a alcool.

Me arrastava no trabalho, em casa e no bar. Desde a primeira semana em que ela sumiu completamente da minha vida.

Tudo se resumia a uma repetição, e já estava me acostumando a aceitar. Ela pediu demissão como todas as outras, e eu nem mesmo pude intercepta-la. Pela primeira vez não queria que uma mulher fosse embora, e justamente ela resolveu ir, sem ao menos me dar a chance de uma explicação. E se ela queria se ver tão longe de mim, eu tinha que respeitar.

Não tinha me tornado celibatário na sua ausência, mas merda, sexo não era mais a mesma coisa, parecia genérico.

O ápice do fundo do poço foi procura-la em outras garotas. Não fazia meu estilo, mas passei investir em pessoas similares a ela, pequenas, simples. Todas igualmente chatas. Então sai atras das mulheres mais lindas que pudesse ver, mulheres que fossem dez vezes mais atraentes que ela. No fim da noite, nenhuma delas parecia chegar aos pés de Theodora.

Era um verdadeiro inferno. Um unico segundo tinha estragado tudo.

— Harry, está com uma cara pessima — nem percebi quando Melissa entrou na minha sala. A encarei, não muito simpático.

— O quê quer?

— Queria apenas convidar você para jantar com o Richard e eu, queremos anima-lo um pouco — se explicou. Suas roupas estavam particulamente extravagantes naquela tarde. O vestido, que ia até os joelhos e possuia mangas longas, era justo em um tom de roxo gritante e mostrava demais os seios. Que por sinal eram dignos de serem olhados.

— Porquê acha que quero ser animado?

Ela rolou os olhos.

— Vai ter comida e um bom vinho, Harry — alternou o peso entre uma perna e outra, usando saltos altissimos.

— Tem comida e vinho em todo restaurante no caminho até minha casa — sorrio com a maior falta de emoção que posso. — E Whisky.

Melissa ergueu suas mãos em rendição, desistindo, e foi embora.

Não queria ficar feliz, animado. Queria fazer meu trabalho, encher a cara e foder.

Theodora não precisava de mim, e eu não precisava de redenção. Havia feito merda, por um unico segundo. Um unico segundo eu havia fechado os olhos antes de empurrar Marjorye quando ela veio me agarrar sem aviso prévio. Por um segundo eu quis. E como Theo tinha deduzido ou visto, eu não tinha ideia.

Um segundo me custou uma garota. Não era surpresa, uma hora ou outra eu teria que ferrar com tudo, não tinha espaço para mulheres na minha vida. Não tinha espaço para amor, porque eu era fodido de diversas formas.

Uma batida ressoou antes que Alicia adentrasse a sala. Era um dia de visitas aparentemente.

Sem uma palavra, ela caminhou ate minha mesa e jogou os contratos recentes que estavam numa pasta de maneira nada delicada.