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- Hey, porque não termina o sanduíche no quarto?

Meus pais a encaravam de um modo que eu fiquei desconfortável, quem dirá ela. Lisa não relutou, apenas foi, sentia e via o seu corpo tremer um pouco, e culpei meus pais por isso. Eu os encarei durante um bom tempo, tentando adivinhar o motivo pela visita surpresa.

- Quem é aquela garota, Jennie?

- Essa não é questão, o que querem?

- Você se lembra do restaurante do seu tio? Aquele que íamos todas as sextas-feiras?

- Lembro, ele estava fazendo um sucesso danado quando eu sai de casa.

- Ele passou para o nosso nome.

- Que bom?

- Nós estamos falidos, Jennie, não conseguimos investir corretamente naquele prédio e o arrancaram da gente, tentamos recuperar mas perdemos mais dinheiro, não temos nada. Absolutamente nada.

- Sinto muito, vocês me procuraram para o que exatamente?

- Para você nos ajudar.- eu levantei daquele sofá rindo, a mágoa havia tomado conta de mim.

- Pra ajudar vocês? Uau, que ironia não é, mamãe? Vocês me ajudaram quando eu entrei em depressão? Me ajudaram quando eu disse que queria fazer uma faculdade? Me ajudaram ao menos, a arrumar um emprego no mercado da esquina pra mim poder pagar a minha faculdade sozinha? Me ajudaram a comprar esse apartamento? Me ajudaram a ter o emprego que eu tenho hoje? A vida que eu tenho hoje? Não ligaram para saber se eu estava bem, se eu ainda estou me medicando, se eu tenho comida na geladeira se ao menos, tenho um lugar para dormir! Sabe o que vocês fizeram ao invés disso? Me culparam por algo que eu nem sabia o que era! Culpar uma adolescente de dezessete pela morte da irmã é a coisa mais sem sentindo que vocês fizeram, me machucou... por anos eu vivi machucada... por anos tive que tomar remédios... por anos, eu só desejei a morte... e agora vocês aparecem, e querem a minha ajuda?

Nesse exato momento a imagem e a voz da minha irmã apareceu em minha mente, ainda do mesmo jeito que eu me lembrava, aquele vestido azul, ela amava aquele vestido, eu era obrigada a falar o quão maravilhosa ela estava quando o colocava. Aquele penteado que foi um dos primeiros que eu aprendi a fazer, uma simples trança que ela adorava. Eu a sentia do meu lado. "Unnie, isso que  você está fazendo não é legal! Poxa eles são os nossos pais, eu sei o que eles fizeram e que foi errado também. Mas eu sei que você tem um coração bom, e que não irá deixá-los nesse estado, seja bondosa, igual você é com a sua namorada Lisa. Eu amo você!"

Eu me senti fraca, como se a minha energia fosse sugada, me senti traída por aqueles que me deram a chance de viver. E principalmente, eu me senti sozinha, completamente abandonada.

- De quanto vocês precisam? Não posso dar muito, mas posso ajudar a pagar algumas dívidas, e se algo sobrar final do mês, eu ajudo com as compras no mercado.

- Eu sabia que você não ia nos decepcionar, Jennie.

Coloquei um bom valor no cheque e entreguei a eles, e vê-los saindo pela porta, sem sequer me parabenizar pela casa, pelo o meu emprego ou até pelo o meu ato me deixou ainda mais machucada. Me vi com dezessete anos, me vi com uma frequência vontade de acabar comigo mesma. Sabendo que tinha dois responsáveis por perto, mas que fingiam que aquela adolescente era inexistente.

Eu olhei em volta, olhei para os quadros que eu mesma havia feito para dar ao apartamento uma decoração, olhei para aquele sofá que eu tanto trabalhei para comprar e na primeira semana que ele chegou eu me sentava no chão apenas por ter medo de estragá-lo. Olhei para a TV, um presente da Chae, Jisoo e do Seung, que eu me lembro bem de ter chorado ao ganhar.

Sem motivo eu caminhei até a varanda, olhando os pequenos vasos com mudas de plantas querendo crescer, por fim, olhei para baixo. Era alto, eu morava no décimo segundo andar, e uma enorme vontade de pular veio em minha cabeça. Eu não tinha nada a perder. Eu estava sozinha.

- Jennie!- eu senti uma mão me puxando para longe dali, uma mão macia e delicada, olhei para cima e vi uma menina. Aquela menina. Aquela menina que eu tanto gostava. Eu ainda estava em outro mundo mesmo a vendo, mesmo longe.

- Lili...- eu acabei por balbuciar algumas palavras antes de me acabar em lágrimas. De ódio, desespero, dor e medo. O silêncio foi preenchido com os meus soluços profundos. Eu estava sendo de novo aquela mesma menina de dezessete anos.

- Não... não chore, por favor...- a ouvi sussurrar, e senti quando seus braços me envolveram de uma forma que a tempos atrás eu havia feito com ela quando viu uma agulha. Eu agarrei a sua cintura me afundando em seu peito me permitindo chorar cada vez mais.- Eu estou aqui, Nini, não chore mais, posso fazer outro sanduíche se quiser. Eu comi aquele mas faço outro bem rápido...

Ela deu menção em me soltar, mas eu me agarrei ainda mais ao seu corpo, me sentindo salva e segura ali.

- Eu só preciso que você me abrace, querida... apenas isso...- e ela ficou. Durante um bom tempo ficamos assim, até que as minhas lágrimas secaram, e aquele sentimento de impotência passou. Olhei para ela que mantinha os olhos fechados e deixava beijos no topo da minha cabeça. Quando ela me viu, se abaixou um pouco e aqueles beijos doces foram aplicados em meus lábios.

- Você fica esteticamente linda com o rosto vermelho. Não chore de novo, mesmo ficando esteticamente linda. Apenas não chore de novo, se não eu vou chorar também.

- Não quero que chore.

- Eu vou fazer o seu sanduíche, me ajuda?

Mas no fundo eu me sentia leve por ter ajudado eles. Uma coisa que eles nunca fizeram em questão a mim.

Wake up, my dear ( Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora