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Eu entrei em um site de anúncios precisando de alguma ajuda em hospitais alternativos. Vasculhei vários sites, vários hospitais, mas o único que realmete me interessou ficava a duas horas da onde eu morava. Porém, o salário era muito bom, e eu não seria uma estagiária, e sim uma médica de verdade, bom se eu passasse na entrevista. Mandei o meu currículo, e fechei o meu laptop, torcendo para que eles me respondessem logo.

Observei Lisa sentada no chão, concentrada em uma tarefa que eu havia dado a ela, olhando o seu progresso a cada pequena coisa que ela fazia. Os olhos verdes fitavam a tabela de palavras enquanto copiava tudo atentamente. A borracha que antes era bem usada por ela, praticamente o tempo todo, começava a ficar esquecida, e necessária apenas em palavras complexas. Era um enorme avanço.

- Acho que você está pronta para escrever uma redação, querida.

- Isso me parece ser entediante, Nini.

- Você está certa, que tal... uma história? É agradável, não?

- Eu vou poder fazer a minha própria história? Eu quero!

- Vou te comprar um caderno novo, assim poderá começar em breve.- ela sorriu.- Você vai me contar o porque estava com pressentimento ruim?

- Sabe a Nayeon?

- Sei.

- Ela... ela ligou aqui, em um dia que você estava no trabalho, eu não achei estranho, como vocês são amigas é normal terem o número uma da outra. Ela me convidou para tomar sorvete-

- Você foi?

- Não. Falei que não podia sair sem você, como me explicou, ela me falou que você é má, me prende, e que iria me tirar daqui. Por isso eu andei pensando... Jennie, você me prende aqui?

- Não! Claro que não, Lisa! Céus, não acredite no que ela fala, Nayeon não é uma pessoa boa.

- Ela é minha amiga, ela disse que é a minha amiga, e que eu posso confiar nela, porque não me deixa confiar nela? Porque não me deixa confiar em quem eu quero, Jennie?

- Ela não é a sua amiga, Lisa. Ela é uma pessoa má, e eu não quero que fique conversando com ela, ou perto dela.

- Você está parecendo a minha mãe. Me dando ordens igual a ela! Eu quero ter amigos.

- E você tem, a Chae, Jisoo e o Seung são seus amigos.

- Não, eles são os seus amigos! Eu gosto de conversar com a Nayeon, pelo o menos eu não fico sozinha. Me sinto presa igual antigamente!

- Isso é egoísmo sabia disso? Eu cuido de você dês que chegou naquele hospital, te examinei, eu infrigi duas regras do hospital para achar a sua origem, estava com você o tempo inteiro. E agora que uma pessoa, que eu sei que não é do bem te chama para tomar a droga de um sorvete significa que ela agora é a sua melhor amiga? Não é bem assim que funciona.

- Ela só queria conversar comigo, qual é o problema nisso!?

- O problema é que você não enxerga o problema, pois é inocente demais para ver o quão mau as pessoas podem ser.

- Que nem você está sendo agora? Não me deixando viver de fato? Tenho que ficar aqui enquanto está trabalhando, tenho que escrever palavras chatas o dia inteiro, não posso abrir a porta pra ninguém além de você, tenho que sair apenas com você ou com os seus amigos. Que eu saiba, eu já vivia assim antes, não estou vendo diferença.

- Então porque não volta? Porque não vai ficar com a sua mãe trancada em casa? Já que você não vê diferença alguma! Não deve ser diferente uma pessoa que te trancou durante vinte e quatro anos com outra que tenta fazer de tudo para te fazer sorrir. Porque não vai embora? Não há diferença entre estar trancada e estar protegida pra você mesmo, não é?

- EU VOLTAVA SE AO MENOS SOUBESSE LER!

Foi a última coisa que eu ouvi dela antes de se trancar no quarto.

Eu havia sido uma babaca total naquele momento.

Bati a cabeça no encosto no sofá, sentindo a dor que as palavras dela me causaram em relação a saber ler e ficar trancada em casa igual antes. Eu não queria mantê-la trancada, claro que eu não queria. Mas ela não sabia nem ao certo qual era o andae do apartamento que morávamos, quem dirá sair na rua sozinha, ou até pegar um ônibus. Ela poderia se perder, alguém da máfia poderia encontrar ela, poderia ser o seu fim, o meu fim. Fui percebendo o quanto de estragado aquela Nayeon estava fazendo na minha vida. Eu e Lalisa nunca, nunquinha havíamos brigado ou discutido, nunca falei de modo ríspido com ela, nunca havia sido necessário.

Talves fosse a carga daquele dia. Ter perdido o emprego, sendo que duas loucas trabalhavam naquele departamento me fez ficar revoltada e estressada, resultando no meu descontamento na menina, que se sentia frustrada por ter que me esperar, apenas sair comigo, ela me pedia permissão para praticamente tudo! Ela estava vivendo sim igual antigamente.

Pensei durante um longo tempo em como me redimir de um modo marcante para ela, mesmo sabendo que naquele momento, a minha cara era a última coisa que ela queria ver. Me apoiei na porta olhando a chave do carro.

- Escuta... eu não queria falar aquilo, você sabe... fiquei com você ao seu lado durante dois meses, todos os dias, querendo apenas que você acordasse, queria te libertar, mas acabei de prendendo aqui pra mim, não foi certo. Quero sim que tenha amigos, só que a Nayeon... conversamos sobre ela depois... eu vou sair, quero te dar uma surpresa, só por favor... por favor, Lisa, não saía daqui, apenas isso... não saía, me espere e prometo que nunca mais se sentirá presa... eu posso confiar em você?- eu esperei por sua resposta, por um longo tempo até.

- Não demore...

Wake up, my dear ( Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora