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Achei estranho os meus pais não me ligaram aquela semana, a mesma semana na qual depositei uma quantia razoável na conta do meu pai. Minha mãe sempre me ligava quando eles sacavam o dinheiro, nunca para me agradecer ou saber como eu estava, e estranhamente, na última ligação ela me parecia bem estranha, falava que o Kai estava a assustando, eu nunca sabia o que responder, sempre falei para ela se afastar do Kai, mas ela nunca me escutou e não seria agora que me escutaria.

Eu estava ansiosa aquele dia, o primeiro dia que Lisa voltaria para a casa sozinha, passei algumas semanas pensando, mas de tanto que ela me implorou eu concordei. Tudo indicava que ela chegaria primeiro que eu, estava tensa não podia negar.

No elevador, aguardei mais uma vez pela ligação da minha mãe, até pensei em ligar, mas o que eu falaria afinal?

Oi, mamãe, fiquei preocupada por não ter me ligado pra falar sobre o Kai e as meninas que ele leva para dentro da sua casa.

Estava parecendo que eu estava me importando, e eu não estava. No fundo estava pra falar a verdade. Mas não, não estava.

Ao abrir a porta, me deparo com a garota ajoelhada na frente da porta segurando um grande e lindo buquê de tulipas brancas. Ela sorriu pegando Tom em seus braços quando eu por fim aceitei aquele presente.

- Você conseguiu...- sussurrei sentindo uma felicidade surreal tomar conta de mim.- Amor, você conseguiu voltar para casa sozinha!

- E ainda passei na floricultura, eu lembrei de você quando vi essas flores, você gostou?

- Eu amei, querida. Muito obrigada. Oi, Tom.

Depois de colocar as flores em uma jarra no centro da mesa, segui para o nosso quarto não querendo atrapalhar Lisa que lia um livro bem concentrada na sala. Olhei mais uma vez para o meu celular, e nada. Até quando eu estava pronta para entrar no chuveiro recebo uma ligação, no entanto era Jisoo.

- Atrapalhou o meu banho, espero que seja importante.

- Uma mulher dizendo que a mãe da Lisa apareceu aqui querendo, exigindo, falar com você.

- Espera, mãe da Lisa? Como assim? Aquela senhora?

- Não, Jennie, não é aquela senhora, era uma mulher mais jovem, e muito, muito parecida com a Lisa. Mas não temos certeza que é de fato a mãe dela.

- Merda... logo agora que as coisas estavam dando certo... o que você falou?

- Chaeyoung pediu para ela retornar amanhã. E se for realmente a mãe dela?

- O que essa mulher quer? Se for realmente mãe da Lisa não poderá fazer nada, ela abandonou a filha com uma mulher que a deixou trancada durante vinte e quatro anos. Deixa ela pensar em querer ver a Lisa, apenas pensar em trocar uma palavra com ela, que aquela arma que Tzuyu me deu ainda está intacta no meu guarda roupa e louquinha para ser estreiada.

- Você é um perigo quando se trata da Lisa. Até mais.

Relaxei os músculos quando a água morna bateu em minhas costas. Mãe da Lisa. Um ser humano que fez a filha ficar trancada em casa pode ser chamada de mãe?

E incrivelmente, a única coisa que eu mais queria, era que a minha mãe me ligasse, mesmo não tendo a melhor relação com ela, ouvir a sua voz sempre me fazia ficar leve, me fazia lembrar da minha irmã, a mesma suavidade ao me chamar de Jen. Oito anos sem a minha Doha. Ela faria aniversário em poucos meses, e eu nunca me esqueci do seu pedido.

"Unnie! De aniversário eu quero um sobrinho! Já está na hora de me dar um"

De tantas coisas ela me pediu a mais improvável de todas. Mesmo sentindo falta dela, as lembranças que eu tinha de Do Hanna era as melhores, e sempre me faziam sorrir em meio as lágrimas. Doha sempre foi uma menina cheia de luz, era assim que eu gostaria de lembrar dela.

- Está tudo bem?

- Ela faria dezenove anos em setembro, Lili... eu imagino como seria se ela tivesse aqui comigo agora, como estaria linda, chata, e divertida... vivia pra lá e pra cá com aquele vestido rosa cantando aquela música chata dos Smurfs, como eu odiava aquela música, Lisa... mas quando ela se foi, no seu leito de morte, eu estava ao seu lado, segurando a sua mão, ouvi ela cantarolar pela última vez aquela música... antes daquele barulho repetido tomar conta do quarto, e a sua mão se soltar da minha... e eu nem consegui dizer o quanto ela era incrível, o quanto ela era inteligente, habilidosa, encantadora, linda, eu não consegui dizer o quanto eu a amava... que eu não conseguia viver sem ela... eu guardo o seu ursinho de pelúcia favorito no fundo do meu guarda roupas, mas sempre que o vejo, a sua imagem vem em minha mente e uma saudade dela toma conta de mim... eu queria que ela me perdoasse... se eu não fui uma irmã boa o suficiente, se eu não brinquei com ela o suficiente, se eu não dei atenção para ela o suficiente, se eu não disse que a amava o suficiente... eu me senti insuficiente quando ela se foi... me sinto assim as vezes... eu sinto falta dela...

Não consegui terminar o meu desabafo, me afundando em seu peito sentindo a dor tomar conta de mim, ela me ouvia, acariciava as minhas costas, enquanto eu contava o quão fantástica minha irmã era, segurando um foto antiga que eu tinha dela.

Lisa não falou nada, e de algum modo eu não queria que ela falasse qualquer coisa, o seu coração batendo por si só já me acalmava.

E na minha cabeça só pensei em uma coisa que não consegui dizer no dia que era preciso.

Descanse em paz, Do Hanna... eu te amo muito, pequena.

Wake up, my dear ( Jenlisa G!P)Onde histórias criam vida. Descubra agora