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Por Gregori

Ter que se mudar daquele jeito era um desafio, pensou ele.
Levando em conta tudo o que acontecera, seria mesmo uma fase boa para clarear os pensamentos e conhecer gente nova.

Depois que arrumou suas coisas no apartamento, precisou de um banho urgente. Foi bondade de sua tia ceder o espaço para que ele pudesse seguir seu próprio rumo, embora ela não soubesse o real motivo dele ter feito aquilo. Ele só não queria mais saber de ninguém fosse homem ou mulher. Só queria ficar sozinho para colocar tudo em ordem na sua mente e tinha certeza de que as coisas iriam se ajeitar.

Assim que terminou e se arrumou, foi no campus da Universidade, se inscrever no curso que estava na outra cidade. Só esperava que tivesse vaga e que o aceitassem mesmo na reta final do segundo semestre. Por sorte a diretora o integrou na turma que ainda tinha vaga.
Justo no primeiro dia de aula dele, o professor aplicaria uma prova. Gregori grantiu a diretora de que iria estudar o assunto já que ela mesma fez questão de lhe informar qual era.

Gregori passou a maior parte dos dias estudando. Não queria ficar de recuperação em nenhuma matéria. De acordo com a data que lhe informaram, ele teria três dias para estudar e ficar por dentro do assunto. Por sorte, seu antigo professor estava revendo o mesmo conteúdo, então tudo ficou mais fácil para ele.

Ele ocupou sua mente de todas as formas para evitar que pensamentos infundaveis viessem à tona. Às vezes era em vão, pois aqui e ali, os fantasmas do passado o assombravam. Tanto Ming quanto Deniel o assolavam em pensamentos. Por várias vezes dormira com a cabeça doendo de tanto chorar. Gregori vivia se perguntando até quando viveria assim. Ele esperava que o fato de ingressar num novo Campus o trouxesse mais variedades de pensamentos, além dos estudos.

Quando o dia chegou, ele foi até mais cedo para evitar qualquer tipo de atraso. Não queria ser motivo de reclamação.
Sua sala não ficava no térreo e ele subiu até o respectivo andar. Estava procurando o número da sala quando uma senhora o chamou.

- Precisa de ajuda, querido?

- Hmm... Acho que sim. Eu estou procurando esta sala - Gregori lhe mostrou o papel com a numeração da sala e descrição do curso.

- Ah sim. Eu irei dar aula nesse exato momento lá. Que bom que o encontrei. É por aqui.

Gregori agradeceu a ajuda e seguiu a professora. Ela perguntou seu nome, de onde era e se estava morando na cidade há muito tempo.
Antes de entrarem, ela pediu que ele aguardasse um instante que ela o anunciaria para a classe. Ele aguardou e após alguns segundos, ela o chamou.

Gregori ficou envergonhado por ter tantos olhares sobre si mas mesmo assim não baixou a cabeça. Informou a professora de que estava ciente do assunto e foi sentar-se, afinal iria fazer uma prova.
Assim que se dirigiu até a carteira, percebeu que um garoto do cabelo preto e liso o observava mais do que os outros alunos. Gregori ficou um pouco incomodado e depois de acomodar-se o observou também de longe, mas discretamente. "Que garoto lindo", pensou ele. Será que ele iria se deixar levar assim, logo de cara por um garoto que ele nem sabia quem era?
Decidiu afastar os pensamentos e focar na aula. A professora fez uma breve revisão do assunto. Como ele havia estudado nos últimos dias, não estava tão difícil assim e mesmo com a atenção voltada a aula, ele não deixou de encarar aquele novo colega. De vez em quando ele recebia uns olhares.
"Droga! Não posso me deixar levar por nenhum garoto. Não agora", ele falou consigo mesmo esperando que sua mente não ficasse criando falsas esperanças.

Quando a prova acabou, ele foi até o banheiro. Ela não tinha sido complicada, mas assim como qualquer outra, não era tão fácil também. Na verdade ele tinha ficado mais nervoso pelo fato de ter trocado olhares com o garoto da sala. Ele tinha que confessar, aquele rapaz era lindo. Mas mesmo assim ele tentaria não se envolver.
Iria ser difícil manter aquela promessa pois eles se encontraram novamente no banheiro masculino. Gregori ficou nervoso e tentou não encará-lo. Passou por trás dele e lavou as mãos. Seu coração acelerou. Sentiu uma vontade imensa de puxar assunto, de sorrir e se enturmar. Mas ele ainda estava abalado com tudo o que vivera há algumas semanas atrás.

O silêncio foi quebrado quando o garoto o questionou sobre ele estar encarando-o na sala de aula. Gregori tentou não olhar, mas em vão. Rapidamente o olhou através do espelho e baixou a cabeça. Quando o rapaz chamou sua atenção novamente, ele respondeu que não estava encarando-o e que ele prestasse mais atenção. Gregori queria que ele o visse como uma ameaça e assim não se proximasse.
Depois saiu do banheiro e retornou a sala de aula.

Após algumas horas a aula acabou. Gregori ouviu quando um rapaz chamado Andry falou o nome do mesmo garoto que ele havia tombado. Hian. Seu nome era lindo tanto quanto ele. Gregori só não sabia se Andry era namorado de Hian, pois estavam sempre juntos. Se futuramente Gregori tentasse algo, iria odiar ser interrompido por outra pessoa e esperava sinceramente que eles não fossem namorados.
Quando Andry chamou Hian para sair, Gregori Sentiu umas vontade imensa de perguntar. Quando se deu conta, já estava segurando no braço dele.

Gregori perguntou se Andry era seu namorado. Hian parecia mal humorado. Respondeu sarcasmente que não era da conta dele.

- Não, realmente não é - Gregori retribuiu o tom de sarcasmo. - Só queria saber.

- Pois não vai.

Hian respondeu e logo saiu da sala. Gregori percebeu o olhar de Andry sobre ele. Se eles fossem namorados, iria ser difícil Gregori ter alguma chance. Só restava pedir aos céus que fossem somente amigos.

Enquanto voltava para o condomínio, Gregori pensou muito no seu primeiro dia naquela universidade. Ele gostaria de ter feito algum amigo, mas acabou conseguindo meio que um desentendimento. Lembrou dos olhares que havia trocado com Hian e não podia negar que havia adorado. Em seu íntimo, ele queria ter ao menos puxado um assunto decente com ele.

Quando chegou em casa, tomou um banho e ficou deitado observando o teto. Ele gostaria de se achegar mais em Hian e ficou bastante curioso. Mas sentia o peito doer, pois toda vez lembrava de Deniel. Será que valeria a pena se envolver mais uma vez? E se ele errasse novamente? E se Hian não fosse de fato gay, como ele iria reagir? E se ele fosse e falasse que Andry era seu namorado?
Gregori pensou em várias opções e acabou adormecendo. Uma boa noite de sono poderia ajudá-lo a raciocinar melhor.

Quando ele acordou, sentia-se melhor. Sentou na cama e espreguiçou-se. Depois disso fez um café, colocou em uma xícara e foi para a varanda. Ele dormia sem camisa, mas mesmo assim não ligou de alguém vê-lo ali fora, seminu.
Ele colocou a xícara em uma mesinha que havia do lado e olhou os prédios ao redor.
Pensou em como seria sua vida dali para frente, o que faria para esquecer tudo o que havia acontecido. Por um momento desejou ter feito tudo diferente. Desejou ter dito sim, ao invés do não. De ter acreditado mais em seus sentimentos.
Mas agora era tarde. Não havia nada que pudesse fazer para mudar aquilo. Só esperava que o que acontecesse a partir daquele momento, fosse coisas boas e positivas.

Gregori notou que a porta da varanda de um outro apartamento quase de frente com o seu se abriu e alguém apareceu e sentou-se no chão. O outro prédio não ficava tão distante e ele soube quem era. Mas como podia aquilo ser verdade?

Hian.

Gregori não estava acreditando. Hian morava ali ao lado. Seria coincidência? Premeditado? Ele pôde observá-lo por vários minutos. Estava de shorts, tomando café, imaginou. Até de longe ele era lindo. Seu cabelo preto brilhava sob os raios do sol. Ele desejou gritar seu nome, lhe desejar bom dia, perguntar se tinha dormido bem, se tinha acordado bem. Hian lhe causava um misto de sensações boas com uma dose de nervosismo.
O vento fez com que o shorts de Hian descesse um pouco e deixou suas coxas à mostra. Gregori sentiu um desejo imenso de tocar aquela parte do corpo de Hian. Fazê-lo se arrepiar e rir com a situação. Aquilo era um pouco erótico e ele estava adorando. No entanto como ele não podia fazer nada daquilo, ficou só olhando de longe.
Mas não demorou muito até Hian olhar lentamente em sua direção. Assim que notou que estava sendo observado por ele, desviou o rosto e subiu o shorts.
Gregori sentiu-se feliz por ele tê-lo notado. Mas sua felicidade durou pouco. Hian rapidamente entrou e fechou a porta.
No mínimo havia ficado envergonhado. Gregori prometeu a si mesmo que ainda apreciaria Hian bem de perto e veria com detalhes cada parte do corpo dele.

Depois disso ele entrou e resolveu arrumar o quarto. Só esperava que Hian o visitasse algum dia. Seria bom acordar com ele ao seu lado.
De vez em quando ele olhava da sua varanda para ver se Hian aparecia, mas não obteve nenhum sucesso. Ele tentaria se achegar a Hian. Não sabia como, mas tentaria. Não desistiria tão fácil.

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