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Por Gregori

Naquela manhã, ele acordou meio impaciente. Não sabia bem o por quê, afinal havia dormido bem. Mas tinha a impressão de que seu dia renderia.
Tentando não pensar nisso, Gregori colocou a roupa suja para lavar. Depois que ligou a máquina, foi varrer a varanda e organizar o apartamento.
Estava quase terminando quando sentiu vontade de olhar em direção ao apartamento de Hian e ao fazer isso, viu Andry de longe.
Gregori só colocou uma camisa e disparou para o outro prédio. Não sabia o que ele estava fazendo no quarto de Hian e esperava que ele não ficasse enchendo o saco.

Quando bateu na porta, Hian atendeu e ficou surpreso na mesma hora. Gregori teve que mentir, dizendo que tinha ido fazer uma visita. Hian quase gritou dizendo que a casa era dele e que os dois rapazes teriam que se respeitar.
Impossível.
Assim que os rapazes se encararam, começaram soltar farpas. Gregori não sabia o que Andry tinha ido buscar ali, depois do que havia acontecido na noite passada, queria mais que ele sumisse da vida de Hian. Mas infelizmente aquilo não era possível.

Ele e Andry continuaram discutindo enquanto Hian pedia para os dois pararem. Gregori não tinha medo de Andry mesmo ele sendo mais alto. Ele dizia que quanto mais alto for o homem, maior a queda.
Andry também não dava descanso. Disse que não precisava de plateia para conversar com Hian e que Gregori não precisava ficar ali.

Gregori resolveu provocar ainda mais. Disse que não sabia o que Hian havia visto em Andry para torná-lo seu amigo.
Aquilo foi a gota d'água para Andry.
Ele levantou-se e foi para cima de Gregori que também ergueu-se. Não fosse Hian se interpor entre os dois e os empurrar, eles teriam entrado nos socos e pontapés.
Gregori estremeceu quando viu Hian desmoronar em sua frente passando mal, sentindo dores estomacais.

- Hian! - Ele gritou na mesma hora que Andry e ambos o ampararam.

Depois de ajudarem Hian a se sentar na cama, Gregori segurou em uma de suas mãos. Andry fez o mesmo.
Hian pediu que os dois não ficassem brigando, que sabia que eles haviam começado errado mas que não valia a pena ficarem assim.

Depois de relutar, Gregori resolveu baixar a guarda e disse que iria tentar suportar e conviver com Andry mesmo que fosse um desafio. Andry por sua vez o chamou de incômodo, mas disse que iria tentar viver em paz.
Hian se deu por satisfeito e assim decidiu fazer almoço para os três. Gregori adorou, mas poderia ter sido melhor sem a companhia de Andry. Mas conformou-se assim mesmo.
Ouviu quando Andry chamou a atenção de Hian sobre ele ir ao médico para saber mais sobre aquelas dores que vinha sentindo. Nisso Gregori concordou. Hian vinha se sentindo mal há algum tempo e também recomendou que ele marcasse um exame.

Andry comentou sobre a viagem a um acampamento que aconteceria em algumas semanas por parte da Faculdade. Gregori se prontificou de ir mesmo Andry dizendo que iria. Os dois pelo visto iriam competir até nisso.

Gregori falou a Andry que morava no condominio ao lado, que se Hian precisasse, ele estaria ali ao lado mesmo Andry estando ou não. "Isso é coisa de tarado!" Andry comentou. Gregori não deu importância e continuou conversando com ele. Aos poucos os dois foram se entendendo. Falaram um pouco sobre como era morar só, sobre a vida no litoral. Andry confessara que se pudesse, moraria perto da praia. Ele adorava o mar.
Gregori não gostava tanto assim, talvez pelo fato de ter crescido perto do oceano.

Após um tempo, Andry disse que iria embora. Gregori pela primeira vez, se despediu formalmente dele, sem cara feia ou discussão. Ele esperava que Andry perdesse aquela má impressão que tinha dele e que assim pudessem conviver em harmonia para o bem de todos.
Assim que ele saiu, Hian pegou algumas cervejas. Gregori fez menção para que ele sentasse ao seu lado na varanda.

- Hmm... Adoro essa cerveja - Gregori disse depois de tomar um gole do líquido.

Depois ele comentou que achava que Andry já não o odiava tanto assim. Ele não tinha nada contra o amigo de Hian e no fundo achava que Andry sentia algo por Hian.
Ele não acreditou, achava um absurdo aquilo mesmo explicando que o amigo era hétero e muito galinha. Conhecia Andry há anos e jamais suspeitou nada. Se ele sentia algo, deveria estar bem lá no fundo, ocultado às sete chaves.
Foi fitando os últimos raios do sol que Hian indagou Gregori sobre quem ele era. A princípio ele não quis falar. Gregori tinha marcas em si por conta do passado e não queria reviver aquilo. Mas pensou bem e viu que Hian precisava saber. Se eles seriam um casal, Hian teria todo o direito de saber.

Gregori começou falando de si, como seu nome, sua cidade e sobre os pais. Falou também como era morar no litoral e envergonhado falou do motivo pelo qual veio morar na capital.
Ele não gostava de tocar naquele assunto. Aquilo mexia demais com ele e não queria logo na frente de Hian parecer um fraco.
Mas achava necessário.
Ele falou de Ming, que já haviam sido namorados há alguns anos. Falou sobre ela ser uma pessoa traiçoeira.
E com um certa melancolia ele falou de Deniel.
O peito de Gregori pesava toda vez que ele lembrava. Tocar no nome de Deniel o fazia se sentir pequeno, envergonhado, culpado e de uma certa forma assustado.
Deniel havia sido seu primeiro amor e quem o fizera mais homem. Ele tinha feito Gregori sentir o que era amor, o que era desejar e ser desejado. Deniel tinha feito ele sentir o que é ser homem, o que é sexo de verdade.
Chorando, Gregori falou para Hian como tinha expulsado Deniel de sua vida. Ele arrependia-se amargamente por ter feito tudo aquilo. Hian ouvia tudo de boca aberta e inerte em todas as palavras que saiam da boca de Gregori.
Quando anoiteceu, Gregori já tinha chorado mais que tudo. Ele nunca tinha falado sobre Deniel para ninguém e de certa forma, conversar com Hian fez dele um cara mais seguro de si.
Gregori sabia que corria o risco de Hian não querer mais tentar algo com ele depois de ter ouvido tudo. E no lugar de Hian, qualquer pessoa também ficaria. Mas mesmo assim, assumiu o controle da situação e falou até o fim. Ele se culpou pelo que havia acontecido e disse que carregava aquela mesma culpa até o fim de seus dias.

Hian o beijou e Gregori se sentiu melhor.
Pediu que Hian não desistisse deles e perguntou se ele permitia que Gregori entrasse em sua vida. Hian confirmou e pediu que ele também o deixasse entrar em sua vida
Para Gregori aquilo era mais uma chance que o destino estava lhe proporcionando de fazer a coisa certa. Ele não iria deixar que Hian sofresse, que nada daquilo que fizera com Deniel, faria com Hian. Jamais.
Ele se sentia mais íntimo de Hian depois que conversou com ele. Havia tirado um peso enorme das costas e da mente.

Ele agradeceu a Hian por tê-lo ouvido e de algum modo aquilo o ajudou a desabafar. A culpa sobre o passado diminuíra e ele esperava que o futuro fosse mais promissor, que os erros que havia cometido há anos atrás não se repetissem no presente. Ele estava disposto a estar com Hian onde quer que fosse e sabia que Hian também estaria ao seu lado.

Gregori estava pronto para amar novamente.

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