12

109 10 5
                                    

Por Gregori

Gregori teve que ir ao supermercado fazer compras. Como sua tia não usava o lugar havia algum tempo, então ele teve que abastecer a despensa. Sua mãe ligara naquela tarde e perguntou como ele estava. Pediu que ele fosse visitá-la pois seu pai havia viajado e ela estava se sentindo um pouco sozinha. Gregori havia lhe informado que ja iniciara na faculdade e com isso o seu tempo diminuiria. Depois disso sua mãe se lamentou e se vitimizou, alegando que ele não tinha mais tempo para os próprios pais, que agora ela mal veria o filho e blá blá blá.
Gregori revirou os olhos e avisou que precisava desligar pois estava indo fazer compras. Sua mãe bufou do outro lado mas desligou mesmo achando ruim. Apesar de ele amar os pais, sua mãe as vezes era muito pegajosa.

Assim que ele entrou no estabelecimento, colocou os fones de ouvido e apertou play em uma de suas listas de músicas no celular. Ele não tinha o hábito de fazer compras. Quando morava com os pais, só ajudava a mãe, ela quem se encarregava de não esquecer nada. Mas nas atuais circunstâncias, ele quem faria aquilo e muitas outras vezes.
Quando estava no corredor dos enlatados, Gregori teve a sensação de que estava sendo observado. Olhou para os dois lados do corredor mas não reconheceu ninguém e não viu qualquer pessoa olhando-o. Seguiu para o outro corredor onde teve a mesma impressão.
Após alguns minutos ele foi para a fila do caixa. Sentia o olhar de alguém sobre ele. Mas quem?
Assim que pagou ele seguiu para o estacionamento onde havia deixado o carro. Antes que descesse a rampa ele pressentiu que estava sendo seguido.
Aquela sensação foi se trnsformando em raiva e ele de súbito virou-se.

Não podia ser verdade.

- Ming?

- An... Oi Gregori.

- O que você está fazendo aqui?

- O mesmo que você.

Sua ex namorada estava ali na sua frente com várias sacolas de compras. Gregori não estava acreditando. Agora sabia quem o estava bisbilhotando durante todo aquele tempo.

- Agora entendi - a ficha dele caiu. - Era você que estava me observando dentro do supermercado.

- Err... Era. Desculpe. Eu fiquei com medo de chegar até você e aí fiquei te seguindo.

Eles ficaram lado a lado e foram até o subsolo onde encontrava-se o carro de Gregori. Ming estava diferente e ele havia notado isso. Contou que havia se mudado para a capital há pouco tempo e que estava num novo negócio. Gregori preferiu não tocar no passado. Ele achava que tanto ele quanto Ming não haviam conseguido curar totalmente as feridas.

- E você, o que tem feito de bom?

- Bom... Eu comecei a faculdade ontem. To morando num apartamento da minha tia, fica a alguns quarteirões. Nada surreal, mas para mim está ótimo.

- Entendi. É bom ter sua independência, poder fazer o que quiser, dormir a hora que quer, levar quem quiser para casa - Gregori notou um pouco de ironia na última parte. Sabia onde ela queria chegar. - Eu estou morando com uma amiga por enquanto. Ela não se importou em dividir o aluguel comigo. Pelo menos até eu me estabilizar.

- Isso é muito bom, Ming. Fico feliz por você.

Ela sorriu. Ambos ficaram em silêncio e Gregori odiou aquilo.

- Você está de carro, ou alguém vem te buscar?

- Eu vim de transporte público. Nosso apartamento não fica tão distante também - respondeu ela.

- Quer uma carona?

- Ai, você se importaria?

- De forma alguma. Vamos.

Durante o trajeto, eles conversaram mais sobre o trabalho de Ming. Ela deu detalhes de sua função e Gregori foi ficando entediado. Mas pensando bem, era melhor aquilo do que ela querendo saber da sua vida. Ming jamais soube do que havia acontecido de fato com ele, muito menos do Deniel e era melhor que continuasse assim.

Gregori estacionou no condomínio e retirou as compras da ex. Tentou não olhar nos olhos dela para evitar qualquer pergunta indiscreta que fosse mas em vão.

- Obrigado pela carona. Você sempre foi gentil - ela sorriu e sentiu saudades da época em que ele a visitava. - Gregori?

- Sim?!

- Senti saudade de você por todo esse tempo.

Gregori não sabia o que falar. Não poderia mentir para ele informando que também sentia aquilo. Tudo havia acontecido muito rápido e nem ele havia se recuperado totalmente do trauma envolvendo Deniel.

- Ming... Eu... Preciso ir agora - ele tentou disfarçar mas ela insistiu.

- Qual o problema? Não gostou de me ver?

- Não é isso. Eu só... Eu só passando por um momento difícil e mais na minha, sabe?

- Entendo. Espero que possamos nos encontrar mais vezes ou até mesmo sair qualquer dia desses.

- Qualquer hora dessas a gente se vê. Preciso ir agora.

- Seu número ainda é o mesmo? Posso te ligar depois para marcar?

Gregori abriu a porta do carro e só balançou a cabeça positivamente. Não queria ser rude com Ming, mas não sabia como dizer um "NÃO" educadamente.

Quando voltou a sua casa, arrumou as coisas e ficou pensativo. Ming voltara a assombrar sua vida. O que ele não sabia era como ela havia adivinhado onde ele estaria. Não sabia como reatar com ela e nem tinha vontade de fazer isso. Apesar de sua ex ser linda e ser alguém que ele havia amado no passado, seu presente e futuro estavam ligados a outra pessoa. Mas ele ainda estava tentando entender essa coisa de "gostar de homem". Era tudo ainda confuso. Hian era diferente de Deniel que era diferente de Ming. Três personalidades em sua mente que faziam com que ele ficasse ainda mais perturbado.
Ele foi até a janela e olhou em direção ao apartamento de Hian, mas ele não estava lá.
Resolveu então fazer uma pipoca e assistir um filme. Ele não era do tipo baladeiro. Gregori amava ficar em casa mesmo que fosse sem fazer nada.
Naquele momento, ele desejou ter uma companhia. Ficar abraçado a alguém assistindo um filme. Era um pensamento bem clichê e ele estava começando a sentir o gosto da solidão. Como foi criado em um ambiente com várias pessoas, aquela fase de adaptação seria cruel para ele.

Após algumas horas, seu celular vibrou. O nome "MING" surgiu na tela. Ele deu um longo suspiro mas não atendeu. Não queria dar esperanças a ela. Odiava fazer aquilo mas teria que ignorá-la por um bom motivo. Depois ele acessou seu perfil no Instagram. Como tinha alterado seu nome, ninguém desconfiava que era ele, desse modo poderia navegar sem problema algum. Clicou no campo "pesquisar" e digitou "Hian". Era óbvio que aparecessem vários Hians. Então ele foi na página da faculdade e buscou nos seguidores.
Ele estava lá.
Gregori implorou antes de acessar que a conta não fosse privada. Por sorte era pública.
Hian não tinha muitas fotos, mas mesmo assim Gregori clicou em cada uma e o admirou. Ele era de fato lindo, ainda mais quando sorria. Sentiu vontade de clicar em "Seguir". Mas recuou. Eles haviam se conhecido há pouco tempo e não havia sido como ele esperava. Salvou algumas fotos em sua galeria e dormiu olhando uma delas. Ming lhe enviou uma mensagem de texto, mas ele continuou ignorando.
Antes de pegar no sono pediu ao universo que se fosse para dar certo com Hian, que ele tivesse um sinal.

Gregori não havia se dado conta de que Hian, assim como Deniel, estava mexendo com seus sentimentos. Dessa vez não era nada carnal ou erótico. Hian estava fazendo ele sentir algo diferente, descobrir um sentimento que há muito tempo ele havia esquecido devido aos acontecidos.
Naquela noite, sonhou com ele. Hian sorria e o abraçava. Era incrível por que mesmo em sonho, ele o fazia sentir algo realmente bom, um sentimento de carinho e singeleza. Seus corpos colados em um abraço demorado e nada mais se via.
Gregori acordou na madrugada e lamentou por ter sido somente um sonho. Hian já estava de fato em seus pensamentos. Desejou mais que tudo que aquele sonho se realizasse. Que Hian o ajudasse a superar aquele trauma do passado e o fizesse esquecer as sensações ruins que trazia consigo.
Depois olhou novamente a foto de Hian salva em sua galeria e a marcou como "favorita". Esperava ter uma foto deles dois juntos futuramente e no que dependesse dele, teriam várias.

Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora