Jade narrando.
Vou andando até a barreira do morro, começo a sentir aquele calor infernal que estava me fazendo melhor do que o ar-condicionado daquela casa. Eu poderia pegar um ônibus que me soltasse lá, mas eu fui andando, eu queria ver rostos de pessoas, eu queria sentir o vento no meu rosto. Vou andando até a praia mais próxima que era aproximadamente à uns 3km, mas eu não me importava de andar tudo isso, não agora.
Eu me sentia livre e era isso que importava, depois de andar muito encarando o nada chego na praia, imediatamente um sorriso meu aparece em meus lábios sentindo as lágrimas descerem descontroladamente, eu sentia meu peito doer sem parar, sentia minha respiração acelerar, era tantas emoções que eu sentia naquele momento que não dava pra caber no peito. Chego perto da água sentindo ela cobrir meus pés, parecia que todas as lágrimas que eu guardei veio à tona como um banho de água fria, levo minhas mãos até os cabelos, enquanto sorria sentia o peso das lágrimas. Eram como se toneladas saíssem do meu peito com intensidade, eu estava uma pilha de sentimentos enquanto encarava o mar.
Lembranças vieram com tudo de uma vez; quando eu ouvir a notícia da morte da minha mãe, a primeira vez que meu pai levantou a mão pra mim, a primeira vez que eu fugir de casa pra casa da minha madrinha, a vez que eu cheguei em casa e vi ele dizendo que ia me matar, a vez em que o Thiago foi me buscar no morro, até o dia que o pai se matou na minha frente me fez chorar.
Tudo veio como um peso sobre mim, meus sentimentos guardados no meu peito não cabiam mais, as lágrimas que eu tanto guardei não queriam mais ficar presas, o nó se instalava em minha garganta com tudo.
Encaro o mar e abaixo a cabeça pensando em tudo que tinha acontecido em um ano, em somente um ano, o ano que passou tão rápido em minha vida, o ano que me destruiu mas também me ensinou a ser forte e lutar.
Sinto uma presença atrás de mim e ignoro ficando cabisbaixa com os olhos fechados enquanto chorava, meu peito tinha uma tonelada de coisas em minha vida, eu estava prestes a fazer 18 anos daqui a um mês, mas ao contrário dos outros anos, eu não estava imaginando como seria se minha vida fosse perfeita e meu aniversário estava perto. Eu pensei em meus fardos e minhas lutas em minha vida inteira, eu pensei como com 18 anos tô aguentando tudo isso com força, eu nunca imaginei ser tão forte como tenho sido.
Sinto uma mão em meu ombro e fico intacta, eu já sabia como era seu toque, então sem eu querer ele me vira me fazendo erguer meu rosto encarando seus olhos, mas dessa vez eu chorava. Ele nunca me viu daquele jeito na verdade poucos me viram daquele jeito, seu semblante e olhar era tristonho, era de luto e sofrimento.
Aquele olhar era familiar.
Sinto seus braços me abraçarem, retribuo em silêncio, uma forma de ajudar ele por livre e espontânea vontade assim como ele estava me ajudando. Eu não sentia um abraço tão confortante que me fizesse chorar há anos, eu sentia meu ombro molhar que com certeza era suas lágrimas.
Não havia palavras, não precisava de palavras ao sentir seu coração palpitar perto de mim, era um abraço o qual não tinha maldade, não tinha um pingo de malícia, só tinha tristeza e luto.
Me solto do abraço ainda cabisbaixa, fico em frente ao seu corpo mas sem coragem de olhar em seus olhos, passo por seu lado mas sua voz me interrompe.
Pimenta: Eu te levo até o morro, tô de moto. - Dou um suspiro e assinto com a cabeça.
Fomos andando até a calçada em silêncio, pego o capacete colocando, espero ele subir na moto e subo logo em seguida me segurando no ferro de trás até ele dar partida ao morro, assim que chegamos na barragem encaro cada vapor, ao passar e subir ele para em frente a casa de minha madrinha. A Camila, Stephanie e minha tia estavam sentadas na calçada, desço da moto e deixo o capacete no colo do Luan e vou até elas. Assim que as mesmas me ver vem até mim me abraçando a cada lado, fico parada enquanto encarava o chão com as lágrimas correndo.
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A Fugitiva [Pausada]
General Fiction+16| Fugindo de todo mal que ele me faz... Fugindo do meu passado promissor... Fugindo daqueles que sempre me humilhou... Maria Jade é uma garota de 17 anos que está fugindo do pai alcoólatra que sempre a maltratou e espancou, vai para casa de sua m...