Ereri/Riren

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Ah... dever favores a amigos é um saco, você não acha? Pior ainda é dever a familiares. Por isso não gosto de pedir nada a ninguém. Contudo é impossível viver sem precisar de ajuda em algum momento, e recentemente precisei de um favor de Mikasa, minha prima de terceiro grau, foi algo símples, pedi que cuidasse da minha casa, a mantivesse limpa e alimentasse o meu gato enquanto eu fazia uma viagem de trabalho, fiquei fora apenas duas semanas. Mas foi suficiente para dever uma a ela, e a cobrança veio quatro meses depois, quando Mikasa pediu que eu hospedasse seu irmão adotivo por um tempo. Aparentemente, o rapaz desistiu da faculdade e não tinha onde ficar já que não queria voltar para sua cidade. Acabei aceitando. Eu morava sozinho numa casa grande, talvez nem precisasse lidar diretamente com ele, quero dizer, ele ficaria no canto dele e eu no meu, nem um de nós precisava se meter na vida do outro.
Ele chegou uns dias depois que Mikasa me pediu -lê-se implorou- para que eu o recebesse, e devo dizer, foi deveras estranho... primeiro porque não nos conhecíamos, sabe, eu sou aquele parente que se afastou da família e prefere distância a qualquer mínimo contato. Salvo Mikasa que foi a única com quem mantive uma relação amigável. Nos procuramos quando precisamos de algo. Outro ponto que contribuiu para a estranheza foi a diferença de idade, Eren tinha dezenove e eu vinte e sete, acredite, oito anos fazem uma diferença impressionante. Em fim, eu o mostrei o quarto em que poderia ficar e o deixei lá para que arrumasse suas coisas. No dia em questão fiz jantar para nós dois e impús algumas regras:

1) Faxina aos sábados, a partir das 08:00 A.M.

2) Nada de visitas sem aviso préveo.

3) Tarefas domésticas alternadas.

4) O dia de lavar roupa é quarta-feira.

5) Manter a casa organizada e sem poluição sonora.

6) Cada um cuida da sua vida!

Claro, depois de alguns dias tive que fazer pedidos expressos a ele, como parar de deixar as roupas espalhadas pela sala de estar e se lembrar de colocar o gato para fora antes de dormir, afinal, o cheiro de mijo felino é bem desagradável, e a mancha no estofado é ainda pior. Seguimos relativamente bem por um tempo, eu ia para o trabalho de manhã e voltava apenas no fim da tarde, nos fins de semana, quase sempre, ele saía na sexta e voltava no domingo a tarde e, apesar de fugir do dia de limpeza, eu não me importava, era melhor para mim arrumar tudo sozinho mesmo, assim poderia deixar do meu jeito. Quando não saía, até ajudava, mas de qualquer modo eu tinha de refazer o serviço mal feito dele.
Mas o meu inferno pessoal começou num domingo, no começo do mês do dia dos namorados. Isso é relevante. Em fim, era por volta de oito da manhã quando fui acordado com batidas na minha porta, quando fui ver quem era o idiota que interrompia meu sono no único dia em que eu posso dormir até mais tarde, me deparei com Eren e sua cara de ressaca de quem passou o fim de semana todo fora.

--- Qual seu problema, Jaeger? --- Questionei mal humorado. Não que isso fosse uma novidade, é claro. Quem me conhece diz que sou um rabugento por natureza.

--- Me desculpe, Levi. É que eu perdi minhas chaves. --- Respondeu coçando a nuca meio envergonhado.

Eu dei espaço para que ele entrasse mesmo querendo o trancar novamente para fora para que aprendesse a ser mais responsável, e sem mais, voltei para meu quarto para tentar voltar a dormir. No entanto, mais batidas me atrapalharam, dessa vez eram na porta do meu quarto, Eren novamente.

--- O que quer agora?

--- Eu me esqueci de avisar, o meu chuvreiro queimou... --- Revirei os olhos mediante seu sorrisinho sem graça. --- Então... posso usar o seu? --- Antes de responder, dei uma boa olhada no garoto a minha frente, ele tinha uma toalha, esponja de banho e sabonete nas mãos, os cabelos castanhos estavam bagunçados e eu tinha medo de imaginar o que tinha feito os fios lisos ficarem duros a ponto de estarem para cima. Ele cheirava a suor e ainda usava a mesma camisa e calças de quando saiu na sexta-feira.

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