Levi Ackerman

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Enquanto cavalgo ao lado dos pirralhos e do Erwin em direção ao Bestial, meu coração bate forte no peito, sinto o vento gelado contra meu rosto, meus dentes estão cerrados e noto os nós dos meus dedos brancos apertando as rédias, com isso e a respiração entreconrtada identifico um sentimento que há muito pensava que jamais voltaria a sentir: medo. E tudo que me vem à mente é ela. Amélia Rivera. Dizem que a vida passa a frente dos olhos quando se está prestes a morrer, talvez seja um bom sinal apenas aquela mulher teimosa e viciante estar rondando meus pensamentos, trazendo de volta lembranças tão vívidas e detalhadas que me assustam.

Tudo começou num dia ensolarado na base da Tropa de Exploração, me lembro de estar limpando o vidro da janela da minha sala quando a vi se aproximando à cavalo, de longe eu apostaria que tinha no máximo uns dezessete anos, no entanto não foi seu rosto que me chamou atenção, e sim o símbolo do unicórnio gravado em sua capa, fazia parte da Polícia Militar. Desci ao refeitório onde os pirralhos estavam reunidos esperando a hora de comer e me direcionei à porta encontrando-me com Erwin que vinha acompanhado da garota que sorria simpática, mas que me lançou um olhar sufocante, ergui a cabeça a questionando:

--- O que foi, criança?

--- Criança? --- Ela repetiu arqueando uma das sobrancelhas, certamente continuaria, mas Erwin a interrompeu:

--- Levi, se lembra que a condição para que você supervisionasse o Eren foi que alguém da PM os acompanharia? --- Assenti desinteressado. --- Esta é Amélia Rivera.

--- Tsc, e mandaram uma criança para ficar de olho em mim? --- A analisei de cima a baixo sem disfarçar. Cabelos castanho claros, grandes olhos da mesma cor, rosto infantil, mas postura firme e estatura bem baixa.

--- Deixa eu ajudar, Amélia, a capitã da Polícia Militar, designada para vigiar Eren Jaeger e Levi Ackerman na Tropa de Exploração. Suponho que seja você, o capitão Levi. É um prazer te conhecer pessoalmente. --- Ela estendeu a mão num gesto de cumprimento, pronunciando meu sobrenome errado. A ignorei. Tudo que conseguia pensar é: "como uma pirralha podia ser tão petulante?"

--- Ackerman, não Ackermen. --- Corrigi. Antes que mais algo pudesse ser dito, vi uma das recrutas novatas se levantar gritando e correr se atirando nos braços da oficial.

--- Mas quem 'tá viva sempre aparece! --- Dallilah Rivera... claro que a pirralha mais escandalosa seria parente da Criança petulante...

--- Meu Deus, irmã! Pensei que já tinha morrido aqui... bem que dizem que vaso ruim não qubra... --- Revirei os olhos esperando o reencontro familiar se findar.

--- Idiota! E você não está mofada de não fazer nada como imaginei. --- De repente parecia que só haviam as duas ali e o assunto parecia nunca ter fim.

--- Rivera, termine seu almoço de pressa. Não é porque sua irmã está aqui que vou tolerar atrasos. --- Ela assentiu e voltou à mesa resmungando. --- Você venha comigo, vou explicar o que vai fazer aqui e os protocolos que deve seguir. --- Apontei com o queixo para Amélia, esperando por um protesto que não veio.

E foi assim que nos conhecemos, o Erwin como sempre não ficou muito, logo voltou para a cede em Trost e nos deixou lá. A Rivera não me interrompeu uma vez sequer enquanto eu lhe explicava tudo, não reclamou nem contestou, o que provou que era ao menos boa profissional, já que seria uma dor de cabeça por ser tão irreverente.
Durante esse dia não houve nada demais, apenas os treinos diários e as refeições. A tortura de conviver com Amélia começou no dia seguinte logo pela manhã quando me desaltorizou na frente dos cadetes, segundo ela meu modo de disciplina era exagerado, ela não gostou de como repreendi o Jaeger durante uma das aulas explicativas sobre como lidaríamos com a transformação dele em titã, e veio se meter. Me irritei muito mas tentei controlar, pedi entre dentes que ela se calasse e deixasse que do meu esquadrão cuidasse eu. A maldita me enfrentou, debateu e argumentou comigo, então me sentei na mesa entregando-lhe o giz e pedindo para que ela desse continuidade já que sabia mais do que eu. Admito que fiz de propósito, uma pequena vingança pessoal por ela ter me deixado naquela situação. A Polícia Militar só tinha as informações que dávamos, e que para evitar outras audiências nos questionando do porquê de cada mínima ação, Hanji ocultava muitos detalhes. Não tinha como a Amélia me substituir. Um sentimento de vitória me consumiu quando ela bufou e voltou ao seu lugar, decidi ignorar os insultos que eram proferidos contra mim e seguir de onde havia parado.
Era sempre assim, Amélia gostava de me desafiar, batia de frente comigo sem um pingo de medo ou respeito. Questionava minhas ordens, me desobedecia, se negava a limpar como eu mandava, entre outras coisas.

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