6. Eu Me Enganei

8.7K 526 121
                                    

Eu sentia como se meu corpo estivesse sendo sugado pelo chão enquanto caminhava pelos corredores escuros do colégio. Estava exausta, mal sentia minhas pernas, havia permanecido por horas em uma fila consideravelmente grande no auditório e ainda teria de encarar sessenta minutos de falatório em relação à astronomia dentro da sala de aula. Porém, embora o meu cansaço falasse mais alto, eu sabia que todo aquele sacrifício me compensaria no fim, afinal, eu estava prestes a me tornar um membro do Clube Musical do colégio, algo que, definitivamente, sempre foi uma das coisas que eu mais desejei em toda minha vida, mesmo que aquilo tivesse me causado terríveis bolhas nos pés naquele dia.

Algo em minha mente gritava por atenção enquanto eu caminhava. Não sabia ao certo o que era, algo como um mau pressentimento estava me rodeando naquele momento, talvez, o que me fez à princípio ficar atordoada. Sempre quando passava por aquela sensação algo justificava tal fato, sendo, como sempre, uma notícia ruim ou algum acontecimento inesperado que absorviam todas as minhas energias psicológicas.

Eu voltei a caminhar, parando em frente à minha sala ainda com aquele pensamento em mente. Algumas vozes começavam a me rodear, sendo tais consideravelmente graves como à de uma mulher rouca, mas não à ponto de conseguir identificar a quem as mesmas pertenciam. Minha cabeça e olhos doíam intensamente, como se tivesse sido atingida por uma energia negativa. Não estava me sentindo bem. Minhas pernas tremiam como nunca, tendo os pelos de todo o meu corpo arrepiados de pavor enquanto sentia aquelas vozes sobre mim. Por que estavam me perseguindo? Eu apenas queria que parassem.

Venha, Camila, Venha. Junte-se à nós, Camila. Oh! Sua namorada faz tão bem, Camila... – Chamou a voz grave novamente. Uma onda de risadas altas e cobertas de deboche dominou os meus ouvidos naquele momento. Eu mantinha meus dedos apertados contra a maçaneta de ferro enquanto sentia meu peito subir e descer devido a respiração ofegante. Precisava entrar ali, mas alguma coisa me atraia e ao mesmo tempo me impedia.

Porém, em questão de segundos a porta foi aberta de forma repentina, sem nenhuma interferência de meu corpo ali. Uma pontada de dor e decepção invadiu o meu peito no exato momento em que meus olhos se depararam com a cabeça de Ashlee entre as pernas de Lucy, que soltava gemidos altos de prazer enquanto a morena fazia o seu trabalho de uma forma que parecia lhe agradar muito. Eu não conseguia me mover, mesmo se quisesse. Era como se meus comandos estivessem fora de meu controle. Os olhos das duas garotas me encararam no mesmo momento, juntamente com um sorriso safado no rosto de ambas. Eram imagens distorcidas ao meu redor, como se estivesse nas últimas horas enchendo a cara com LSD e outras drogas ilícitas, e as cores e sons agudos me invadiam com intensidade. As paredes pareciam derreter em uma mistura de tons coloridos e formas estranhas diante de mim, o que fez-me perguntar a mim mesma se meus olhos estavam brincando comigo. Mas eu sabia que aquilo era real, no entanto só conseguia na tamanha blasfêmia que via.

– Venha, Camila, venha! Junte-se à nós! Oh, merda... Sua namorada faz tão bem, Camila – Dessa vez, pude reconhecer a quem a tal voz pertencia. O tom vocal de Lucy Vives invadiu os meus ouvidos de forma rouca, alta e intensa, porém dessa vez nítida enquanto Ashlee explodia em altas gargalhadas. Ela estava rindo de mim, estava debochando de mim. Os seus olhos transmitiam desejo e ternura enquanto fazia o seu trabalho em Lucy. Oh, céus. Eu queria desmoronar de tanto chorar. Tudo ao meu redor estava tão confuso, retorcido, sem sentido. A minha cabeça parecia querer explodir como uma bomba e eu me sentia como se estivesse presa à uma jaula de concreto por, em hipótese alguma, conseguir soltar o berro estridente e raivoso que ameaçava rasgar com brutalidade as minhas cordas vocais.

Mas, de repente, todo aquele peso esvaiu-se de meu corpo, e era como se eu acabasse de entrar para uma outra dimensão. Os meus olhos buscavam as duas garotas ao meu redor com tensão, mas tudo que enxergava eram as paredes cor de creme daquele cômodo. Não havia barulho algum por ali. Tudo se baseava em silêncio, eu apenas ouvia os meus batimentos cardíacos dentro de mim. Eu podia também, sentir o lençol molhado debaixo de minhas costas enquanto meu peito subia e descia compulsivamente devido à respiração ofegante, e tudo o que eu mais queria era me levantar dali e ir embora. Eu apertei meus olhos de forma desesperada, tendo as mãos trêmulas de nervosismo quando me deparei com um par de olhos castanhos me encarando assim que os abri novamente. E então, eu soltei o grito mais potente que poderia obter em toda a minha vida.

Forbidden Path (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora