Zeus é um lixo

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-- Que Merda é essa ? Que merda é essa ? -- O asiático repete automático e fraco, sua cabeça ainda tem resquícios mínimos da bebida. Quer acordar deste terrível pesadelo.

         Marco bem em sua frente, se encontra destruído. A pele parece envelhecida, e seus olhos esbugalhados. Um lunático dentro do moletom  branco. Nem de longe lembra o viscoso e belo jogador de basquete do colégio. Essa visão do rapaz corroeu sua alma.

           O garoto está elétrico e anda de um lado pelo outro no grande ambiente. Incomodado Hiroki, o para com as mãos. Lhe segurando os ombros e fitando, intensamente seus olhos. Está tão decepcionado com ele e consigo.

          Como não observará está autodestruição do melhor amigo.

-- Eu queria que fosse mentiras, as palavras de Susan. -- Pensa alto e expõe.

-- Me solta  -- Exclama, puxando os braços tentando se desvincular do melhor amigo. -- QUEM MANDOU VOCÊ ESTAR AQUI ! SAI CARA ! SAI DAQUI ! -- Ordena em gritos a plenos pulmões, transtornado.

            Marco empurra o garoto, fazendo com que o mesmo bata as costa nas paredes. Hiroki geme baixo e mostra careta de dor.

         Não é mais o Marco, o Zeus de sua vida. O cara equilibrado e calmo. É agressivo, louco e lhe proporciona medo. O pó branco da felicidade, está lhe matando.

            Em um impulso leve, o asiático lhe abraça por trás. Um abraço fraternal e forte. O imobilizando, no entanto o jogador resiste. Tenta se debater, está sob efeitos da coca. Mas logo desanima. E se aquieta.

-- Cara você é meu irmão. -- Responde baixo Hiroki, sentindo um cheiro de súor.

-- Estou perdido ... -- Sussurra e uma tensão palpável. As drogas que lhe criaram asas, são as mesmas que o encaminham para o precipício.

            Tem medo mas precisa se salvar.

-- Eu estou ferrado ... -- Prossegue sua linha de pensamento . -- Machuquei meu joelho, tá difícil treinar, era só uma uma válvula de escape.

-- Você é mais que isso, cara.

-- Eu não sei, quem eu sou ! -- Declara se recordando do livro "Alice no País das maravilhas", as pessoas mudando tanto a cada segundo que mal sabem no final da história, quem são.

-- Eu sei quem é tu. -- Retruca em tom alto, que ecoa por aqueles azulejos brancos. -- É Marco, meu melhor amigo.

        O jogador começa a chorar como uma criança, as lágrimas escorrem copiosas em sua face. Em uma necessidade ardida de esconder a própria vergonha. De ter sua alma nua, para outra pessoa.

       Não queria expor sua dor e vícios. Não queria mostrar que é humano.

           Ambos nessa altura do discussão estão exaustos e se soltam. Logo em seguida o jogador caminha em direção ao espelho. Se encara, olha o próprio reflexo.

      O ópio das drogas. Todos têm uma válvula de escape, algo que transcende e faz fugir da realidade. Alguns, gostam de desenhar e outros de fumar maconha.

         É uma linha tênue entre o certo e o menos doloroso. Tu que é escolhe. E Marco escolheu a cocaína. O basquete não era mais tão reconfortante, quando se tornou uma obrigação. E de obrigações o garoto está cheio.

             Abre o registro da torneira, e forma uma concha com as mãos na necessidade previsível de molhar o rosto e os cabelos castanhos. Quer oxigênio e oxigenar a alma.
     

           Hiroki o acompanha silêncio com os olhos. Marco não é apenas mais um playboy da metrópole. Não para ele. 

-- Eu quero ir para o espaço sideral, nesta vida passageira eu vou contigo até o fim. Porque os bons amigos são raros, como as conexões mentais. -- Afirma Hiroki, cerrando seus olhos puxados. --  A vida é além do colégio, faculdade e emprego.

-- Eu tenho vergonha de mim. -- Suspira profundamente com as mãos na nuca.

-- Não fuja de tu, eu posso te ajudar.

-- Meu moletom suado, meu rosto com aparência de velho. -- Pigarreia ignorante. -- As noites que chorei por ter tido o meu coração despedaçado ... Os amores que acreditei ... As notas ruim que tirei. O bom filho que sempre tento ser.

-- Você não é apenas dores. -- Interpõe. -- Cara, tu foi uma das poucas pessoas daquele colégio que me acolheu. Mesmo eu não sendo, um metido a popular e nem um pouco atlético. Quando ninguém mais queria ficar perto de mim, tu esteve lá. Não vou te abandonar.

            Te molhei sem querer achei que era sete mares. "BACO" . O asiático observará uma pixação mínima a parede.

-- Eu me abandonei. -- Assente perdido em suas amarguras.

-- Marco, ou você me manda embora ou me deixa ficar. Para te ajudar a resolver esse caos. -- Explica afetuoso.

-- Coração partido espero que você repare, essa cara é de quem não vale nada ! -- Sorri sem graça. -- Até o amanhecer  ... Queria ser outra pessoa e no meio desses estranhos, ser mais um.

-- Podíamos sair dessa festa bizarra, e andar pelas luzes de São Paulo. -- Sugere lhe pegando pela mão. -- Ir para o labirinto místico que o Criolo tanto fala.

       Bruscamente o garoto lhe afasta, ainda está atordoado pela cocaína e com psicose.

-- Não me liga mais, Hiroki. Não me procure. Finja que eu fui apenas um delírio ... -- As palavras cospem de seu ser, quer fugir. -- Eu não sou mais aquela cara, sorridente e cheio de vida. Eu morri.

-- Não fala bobagens.

-- Tá tudo confuso, não era para ser assim. Tenho medo de me conhecer, e ser algo além do que um jogador de basquete e se não gostar de mim mesmo. Eu não quero me envolver.

-- Mas eu quero -- Rebate o asiático com truculência.  -- Mesmo que tu tente, eu sempre serei o seu melhor amigo.

      É responsabilidade inumerável comprar o inferno do outro. Mas o amor, não é isso ? Responsabilidades infinitas. Se envolver.

        Não existe um manual para o que é certo ou errado na vida, regras e etiquetas cabem a sociedade. Não no dia-a-dia, com tamanhas verdades de emoções e situações.

      Condenar as escolhas do outro que sofre por suas consequências é cruel. Hiroki poderia nessa infinita possibilidades de perspectivas, ter saído do banheiro e abandonado Marco. Pois por Saturno, não foras ele que se abandonou a própria sorte ?

        Ninguém solta a mão de ninguémNão é apenas quando tu acha necessário, nem os próprios deuses gregos foram tão mesquinhos em relação a lealdades. Entretanto os humanos, não matam deuses.

            

Quem é você Hiroki ? [ Romance GAY ] História Concluída Onde histórias criam vida. Descubra agora