Capítulo 05.5 - Os Zífaros

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Um capítulo bem curtinho, que decidi subdividir do anterior para evitar que o capítulo ficasse grande demais. Reservarei os capítulos mais longos para os pontos cruciais da história.

Chegamos ao cemitério de Gnus pouco antes do entardecer e acendemos uma fogueira

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Chegamos ao cemitério de Gnus pouco antes do entardecer e acendemos uma fogueira. Cada um pôde apenas se dar ao luxo de um breve cochilo, tendo em vista que a caçada noturna se aproximava. Quando o sol começou a se pôr, iluminando o horizonte repleto de carcaças quase totalmente desprovido de grama, foi que o fenômeno aconteceu.

Um arco-íris noturno começou a se formar no céu com luzes fantásticas que começaram a bruxulear e se expandir, tinha tons de verde, amarelo e azul. Um fenômeno que eu costumava ouvir em histórias relacionadas às Terras Frias estava acontecendo no meio de uma savana. Conforme o sol sumia no horizonte, o espetáculo ficava mais e mais intenso e, lentamente, bolas brilhantes que pareciam cristais começavam a chover dos céus como flocos de neve, caindo lentamente em direção a terra. Meus olhos estavam vidrados.

– Eu sempre sonhei em poder ver isso!! – Exclamou Amélia, maravilhada.

– Roonc... AH! O QUE? O fenômeno Zifar já começou? – Se sobressaltou Roufus, que estava aproveitando seu turno de cochilo.

– Fenômeno Zifar? – Indaguei

– Ele está falando sobre essas bolas cristalinas que estão descendo dos céus, Nidav. É uma particularidade que só existe nesta planície. Olhe, olhe, já vai começar! – Amélia exclamou, apontando empolgada para as ossadas.

Pouco a pouco, as pequenas esferas cristalinas que caiam dos céus pareciam convergir e se juntavam em torno das ossadas. Elas se uniam e começavam a descer ao solo. Em seguida, inicialmente pontual, mas que logo foi se espalhando por todo o horizonte, chamas em tons de branco e azul claro começavam a serem vistas pelo horizonte, o que contrastava com o céu já quase completamente escurecido com o sol poente. Do ponto em que as chamas se ergueram, coisas que pareciam a silhueta de animais começavam a se mover.

– Estes são os Gnuzifars. Almas de gnus ancestrais que voltam à terra para proteger os animais de seus predadores, permitindo que o equilíbrio da savana seja mantido. Mesmo que depois de Demwild eles tenham se tornado pouco mais do que monstros... o fenômeno Zifar ainda é com toda certeza a mais bela visão natural de toda esta nação. – Narrava Roufus, com orgulho.

– Em Noursteen, tínhamos uma lenda sobre eles. Os bardos cantavam que as fadas, cansadas de verem os humanos matando os animais sem qualquer respeito em garantir-se de usar tudo o que fosse possível e matar apenas o necessário, resolveram descer à Terra e reviver os espíritos dos animais que sofriam injustiças. Eles ficaram conhecidos como os Zífaros. – Disse Amélia.

– Parece que no início, eles devolviam a vida a qualquer que fosse o animal para expulsar caçadores indesejados de suas terras. Como os Zífaros eram fadas noturnas, eles só podiam defender a Planície entre o pôr e o nascer do sol. Mas ainda assim, eles atacaram tantos caçadores que os humanos tiveram finalmente que corrigir seus modos. Quando finalmente os caçadores passaram a dar o devido respeito às suas presas, os Zífaros passaram a dar vida apenas aos gnus, animais herbívoros que ajudariam a manter alimentados os predadores, e assim evitar que os animais vivos de verdade acabassem diminuindo demais em número. – Ela continuou. – Eu sempre amei essa história, e ao vê-los realmente tenho certeza de que seu espetáculo só pode ser obra de fadas.

– Bom, sua história é bonitinha, coisa e tal, e apesar do fedor de história de elfo, ela obviamente tem alguns pontos errados. Os Zífaros estão revivendo um Elefante, o que prova que essa história de não reviver carnívoros é bobagem. – Resmungou Roufus.

– E desde quando um elefante é carnívoro?

– É claro que eles são. Já viu o tamanho deles? Acha que alguém fica grande daquele jeito comendo mato? É só olhar pra essa minha bela barriga que só se consegue com muita banha de porco e carne na manteiga. Se eu comesse só mato e fruta, acabaria mais frágil que um palito, como os elfos. É óbvio que os elefantes são iguais.

– Eu acho que vou demorar a esquecer essa heresia. – Disse Amélia, escondendo o rosto com a palma da mão.

– Resmungue o que quiser, minha querida. Ninguém vira o animal mais forte comendo só folha!

Roufus continuou falando asneiras mesmo quando levantamos acampamento e partimos para a caçada. Como as aparições do Elephanzifar podiam acontecer em duas áreas diferentes, tínhamos que atravessar o Cemitério de Gnus até o Cemitério de Elefantes se quiséssemos encontrá-lo. No caminho tivemos que evitar os Gnuzifars que agora infestavam a savana.

Em determinado momento, tivemos que nos abaixar para nos esconder de um deles que estava de passagem e pude observá-lo de perto. Era quase idêntico ao animal original, porém não tinha olhos. Havia apenas um vão onde antes ficavam suas órbitas oculares. Além disso, o corpo parecia ligeiramente etéreo, como se por vezes ainda fosse possível observar as ossadas revividas através do pelo completamente negro. Agora o mais intrigante eram as chamas brancas e azul bem claro, que ao mesmo tempo em que pareciam vivas, por vezes pareciam apenas parte do pelo. Como se fosse uma tatuagem viva do animal.

Ao observar aquele animal indo embora, não conseguia deixar de imaginar como seria o Elephanzifar.

Aparentemente, logo minhas dúvidas seriam respondidas. Ecoando pela savana ouvimos um bramido de elefante que soava relativamente próximo.

– Acho que o encontramos, pessoal. Os elefantes desta planície andam em grupos e dificilmente vêm para as áreas a leste do lago central da planície, nesta época do ano.

Dito isso, os demais começaram a preparar suas armas. Roufus deixou seu pequeno arsenal à mão, enquanto Amélia armou a besta e o mais silenciosa que pode, verificou a afinação do alaúde e da rabeca.

– Melhor tentarmos traçar uma estratégia agora. Eu ainda tenho dez virotes de besta, mas rearmar ela durante o combate pode ser problemático. Vou precisar que você e o Roufus cuidem de mim enquanto fico na retaguarda. Minhas músicas de ilusão não irão funcionar contra essa criatura, elas só funcionam em humanos e em criaturas que tenham consciência. Mas ainda poderei usar algumas músicas de autoindução, elas vão fazer vocês acreditarem que estão mais fortes, e vocês acabarão realmente ficando.

– Bah! Como se música tivesse algum poder de verdade. Você ficou lá fazendo showzinho pras hienas enquanto eu e minhas armas cuidávamos de tudo. Pode ficar de canto, querida. Só trouxe armas repletas de runas mágicas. Vai ver eu esmagar esse Elephanzifarzinho como se fosse uma noz. – Se gabou Roufus.

– Pois bem então, vou focar todos os meus poderes musicais no Nidav. Boa sorte sem suporte. E quanto a você Nidav, qual vai ser sua estratégia?

– Bom, eu só tenho algumas facas de arremesso e a minha faca, então é com elas e com a minha agilidade que eu vou contar.

– Isso é meio que quase nada, garoto. Uma faca contra um bicho que dá 4 de você não será muita vantagem. Se quiser, te passo algumas das minhas armas com runas. Por apenas 550 Ouros a mais.

– Não se preocupe, assim que eu terminar essa missão, eu vou pagar o que devo e você não vai ver mais nenhum centavo meu.

– Ei, ei, ei. Calma garoto. Eu te disse que só queria mesmo era trabalhar na sua faca. Eu estava curioso sobre a função da sua runa. Mas nem mesmo os meus mestres souberam o que diabos ela significa ou pra que serve. Se me mostrar o que diabos ela faz, eu até fico disposto a desconsiderar o trato.

Cheguei a quase acreditar, mas não era como se eu pudesse mostrar.

– Quietos, vocês dois! Estou ouvindo algo. – Disse Amélia, apurando os ouvidos e armando a guarda.

Pouco a pouco, o chão parecia tremer, e tremer. Eis que subindo uma colina, surge um imenso corpo negro em chamas brancas e azuis. O Elephanzifar acabara de dar as caras.

Legado de Sangue FeéricoOnde histórias criam vida. Descubra agora