Capítulo 25 - Execução

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Quatro noites, três dias. Foi o tempo que sobrevivi ao abandonar qualquer traço de sentimento. 

Apenas pela diversão deles, fui espancado e torturado sem qualquer razão aparente. Alguns diziam que eu era amigo de imundos e que devia ser purificado. Um deles achou divertido marcar minhas costas com ferro quente, deixando uma marca permanente.

Meu rosto estava completamente inchado, meu corpo cheio de hematomas e cortes abertos. Era um milagre ainda estar vivo. Eles sabiam parar exatamente quando eu parecia estar à beira da morte. 

Estava fraco e não comia nada além de pão mofado todos os dias. Já mal me lembrava o que era falar. Todas as últimas vezes em que minha boca se abria foram para gemer de dor. 

De manhã ouvi a chave da cela em que estava sendo mantido ser destrancada e a figura arrogante de Randir entrar.

– Espero que aprecie bem o sol hoje, meu querido. Pois vai ser a última vez que o verá antes de ter uma corda em seu pescoço. Mas para isso, preciso prepará-lo com carinho.

Com isso, Randir começou a tocar partes do meu corpo. Marcas arcanas começaram a surgir em minha pele, desaparecendo aos poucos. Nas minhas duas mãos, coxas, barriga, pescoço e rosto. 

Elas transmitiam uma sensação parecida com a de quando ele puxava as chamas negras de dentro do meu corpo.

– Bem! Com isso, assim que alguém der um furinho nesse lugar, seu fogo irá começar a queimar. Tudo bem, afinal ele não vai te machucar mesmo. – Disse Randir sorrindo. – Mas seus queridos espectadores não saberão diferenciar as chamas reais das suas pífias chamas residuais e tudo o que verão é um monstro imune às chamas, portando o tão odiado fogo demoníaco. Consegue imaginar qual vai ser a felicidade deles em te ver indo para a forca.

Eu ouvia a tudo, mas sequer mexia um músculo. Era como se a alma já tivesse abandonado a casca que era o meu corpo, apenas esperando que ele morresse de uma vez.

– Não é muito de falar, agora, não é mesmo? Isso é bom. Preciso que você não fale nada que possa colocar em dúvida nosso espetáculo. Cogitei em cortar sua língua, mas tive medo de deixar muito óbvio. Espero que se divirta bastante em seus últimos momentos. Quanto a mim, sinto muito mas não poderei assistir. Tenho alguns... compromissos no palácio.

Dizendo isso, ele foi embora, deixando-me sozinho numa cela improvisada ainda no galpão de carga. As sentinelas que me vigiavam eram membros da milícia, onde parecia haver muitos que eram subordinados ou espiões de Randir. 

Eu não sabia o que eles realmente queriam e já não me importava. Apenas deixava o peso de meus membros penderem ao chão.

Esperando a morte.



***  *  ***



Devia ser meio dia quando me tiraram do galpão. Aparentemente, devíamos estar na Cidade Alta, logo abaixo dos portos de embarque do Navio Flutuante, pois eu percebia a sombra de um deles indo em direção ao hangar. 

Eu arrastava os pés enquanto puxavam as correntes que me prendiam. Fui colocado em um tipo de elevador de madeira e descemos pelo canto dos muros até a Cidade Baixa, onde um palco estava montado.

Eu não me importava em olhar para os arredores. Meus olhos vazios e sem vida apenas observavam o pedaço de chão que precedia cada passo. Escadas, um palanque de madeira, e finalmente, correntes que prendiam meus pés e uma coleira apertada de ferro em meu pescoço. 

Legado de Sangue FeéricoOnde histórias criam vida. Descubra agora