Cap 7

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Chegámos a casa da Alexandra e esta dá-me o seu sorriso mais seco. Acredita filha, estás tão feliz por me ver como eu a ti.

Lá estava ela com um vestido justo, curto vermelho, mas este não era decotado (menos mal).

- Estão tão lindas. Esta noite vai ser inesquecível. A Taty vai jantar connosco e depois o pai virá buscá-la. E segue-se: girls night!!

Alguém que lhe dê um calmante por favor! Parece que nunca saiu de casa.

Entrei na casa dela (uma pequena moradia) e fiquei a olhar para a decoração a tentar perceber melhor esta amiga da minha mãe.

Ela tinha razão. Tinha bom gosto. A sala em tons de cinza e azul celeste, com alguns pormenores na cor branca. Tinha muitos quadros a preto e branco de várias cidades do mundo e em todas as mesas e prateleiras continham pelo menos uma foto dela ou da filha.

- Mãe! Viste a minha camisola nova? Aquela com um ursinho branca?

E saiu do corredor uma menina. Deduzi logo que deveria ser a Tatiana. Sabia que ela tinha 4 anos. Era muito bonita. Tinha uns cabelos compridos castanhos e uns olhos castanhos. Usava um vestido verde simples. Parecia a fotocópia da mãe. Mas tinha um ar de marota, de rebelde, enquanto que a sua mãe tinha cara de quem cheirava sapos mortos de manhã.

- Acho que a deixaste em casa do teu pai. E espero bem que ele a tenha lavado a seco, pois foi caríssima e estraga-se facilmente. – agora fiquei com pena do homem.

- Mas eu queria usá-la hoje. Não quero ir de vestido para casa do pai.

- Não te esqueças que o teu pai tem roupa tua. Não precisas de levar. Prepara é um ou outro brinquedo que queiras e coloca na tua mochila. Leva filmes que pode-te apetecer ver algum, mas não te preocupes com mais nada.

- Está bem. Olá pessoas. – pronto, é mesmo filha da mãe dela. E nisto correu corredor fora para ir acabar de arranjar as coisas.

- Parece que está cada vez maior. Quando deres por ela está mais alta do que tu.

- É verdade. Parece que ainda ontem era uma bebé. E, se sair a ambos, irá ser alta.

A conversa prolongou-se e o tema era os filhos. Contaram histórias que supostamente eram engraçadas. Nisto lembrara-se que tinham fome e sentamo-nos na mesa.

A Alexandra chamou a filha e foi buscar o jantar.

Lasanha de vegetais. Pelo menos até estava boa.

Durante o jantar praticamente só a minha mãe e a sua amiga é que falavam. Eu fiquei frente-a-frente com a Tatiana.

- A minha mãe contou-me que não tens pai – disse-me ela e fiquei em choque. E senti que a minha mãe e a Alexandra estavam como eu.

- TATIANA – gritou-lhe a Alexandra. – Não podes dizer essas coisas.

- Só estava a tentar criar conversa. E é a única coisa que temos em comum.

- Bem, ambas têm pais, só que estes estão separados. – afirmou a minha mãe.

Eu já não pensava no meu pai há muito tempo. Separou-se da minha mãe quando eu tinha 10 anos e nunca mais o vi, ou falei com ele sequer. E aquela conversa levou-me a pensar naquilo que a vida poderia ter sido se o tivesse na minha vida.

Teria tido uma vida um pouco mais facilitada? Talvez.

O meu pai é relações públicas. Apesar de já não ser muito novo, continua a aparecer em algumas revistas sempre rodeado de celebridades. Já não é o homem que eu reconheço como pai. Já tem algumas brancas e umas rugas, mas continua a fazer frente a muitos jovens que por aí andam.

Estou a mergulhar nos meus pensamentos quando no meio da conversa ouço a pequena a dizer que não o considera como pai.

- Mas o que é que ele te fez de tão mal para estares a dizer isso? Eu já não falo com o meu há 7 anos, mas tu estás com ele pelo menos uma vez por semana – disse-lhe.

- Ele nunca me liga nenhuma. Está sempre a ler e a trabalhar. Estou lá a ver filmes e a brincar. Depois quando há alguma urgência deixa-me em casa dos avós.

- Isso é porque ele tem um trabalho muito chato, filha. Mas se ele não se importasse contigo não te ligava todos os dias, nem tentava estar contigo, nem que seja só por uma hora.

- Eu sei disso. Mas não me tentes enganar. Vocês nem sequer se dão bem.

- Isso não quer dizer que não te possas dar bem com ele. Pede desculpas à Diana. Ela sim, é que podia dizer isso.

- Está bem, mãe. Desculpa.

- Não faz mal.

A minha mãe estava branca. Ela nunca me contou o motivo por se terem separado, talvez por achar que era nova, mas agora também não me interessa.

Nisto o toca o telefone da Alexandra. Ela desligou e foi à janela. E disse à filha:

- Vai buscar as tuas coisas. O teu pai já está lá fora.

A miúda tinha razão. Os pais não se davam bem. A Alexandra acompanhou a filha até ao pequeno portão do seu pequeno jardim. Viu-a entrar no carro do pai, acenou e entrou em casa.

Nem disse uma palavra quando entrou, mas notava-se o seu desconforto face ao pai da filha.

A minha mãe abraçou-a logo. E depressa ela animou-se.

- Bem, então vamos para a night.

Não me posso queixar. Até foi animado. Para lá fomos no carro da Alexandra que me pediu desculpas pelo comportamento da filha e a minha mãe deu-me um grande abraço, apesar de saber que não me incomodava nada falarem sobre o meu pai.

Depois fomos para um bar onde estivemos à conversa com vários amigos delas (atenção! Também haviam mulheres, não eram só homens).

Depois fomos para a discoteca onde vários homens (desesperados) se tentaram meter connosco, mas não tiveram muito sucesso.

Descobri uma coisa que nunca tinha reparado: existem cada vez mais homens divorciados à procura da que acham ser a sua mulher  ideal.

E aqui a minha mãe e a Tatiana têm vantagens. São ambas bonitas, inteligentes, ambiciosas e interessantes.

Acho que apesar de todos os defeitos que ela possa ter, não lhe posso tirar o mérito pelo facto de andar a criar a sua filha quase só. Do modo como ela falou do seu pai, deu para notar que não gosta nada dele. No entanto, idolatra a mãe.

Por isso, ela deve estar a fazer isto do modo correto.

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Por terem sido tão pacientes deixo-vos um novo capítulo. Dos maiores até agora.

Espero que gostem :)

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Fragilidades do Coração - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora