Elizabeth Clark caminhou pelas escrivaninhas do The Globe, tentando ao máximo não derrubar as pequenas montanhas de papéis acumuladas nas mesas de cada jornalista. Havia terminado de revisar a edição que seria impressa para o dia seguinte e estava arrumando suas coisas apressadamente antes que alguém surgisse com mais algum problema urgente para que ela resolvesse. Por mais que adorasse sua rotina no jornal, naquele dia em especial precisava de uma xícara de chá e uma massagem nos pés.
No momento em que Elizabeth estava em sua sala há mais de dez minutos e ninguém havia batido na porta pedindo alguma coisa, ela começou a acreditar que estava prestes a sair tranquilamente. Porém antes que ela pudesse comemorar, a senhorita James entrou pela porta anunciando animadamente:
- Senhora Irving, há um cavalheiro que está requisitando sua presença imediatamente.
Elizabeth fez uma careta, tentando pensar em uma solução para aquele dilema. Torceu nervosamente as mãos, franziu os lábios e pediu para a secretária:
- Você não poderia passar essa questão para algum dos editores que esteja trabalhando? Tenho certeza que eles conseguirão me passar o que seja que esse cavalheiro tem a dizer.
A mulher franziu as sobrancelhas, pensando sobre o assunto e respondeu simplesmente:
- Creio que não, senhora Irving. O cavalheiro requisitou especificamente a sua presença.
Bom, sua saída silenciosa já havia sido arruinada, poderia muito bem resolver esse problema. Não sabia o que o cavalheiro tinha a dizer, mas com certeza não levaria mais do que meia hora para ser discutido. Saiu da sala dela, em direção ao saguão de entrada, pensando nas maneiras de tornar aquela visita ainda mais rápida, quando viu a figura de seu marido parado com seus cabelos soltos e um sorriso travesso no rosto, como se ele estivesse prestes a fazer alguma coisa proibida.
Não conseguiu deixar de abrir um sorriso ao vê-lo, já havia visto seu marido milhares vezes, mas existia algo no fator inusitado tornava o cavalheiro ainda mais adorável. Como se por somente alguns instantes, estivesse vendo Dereck com outros olhos, os mesmos que enxergaram aquele rapaz belo e misterioso que ousava lhe dizer que não poderia circular livremente pelo Royale abrindo todas as portas das salas privativas. Aproximou-se dele e abriu um meio sorriso, comentando:
- Ora, se a senhorita James tivesse me dito que era essa a visita inesperada do dia, eu teria resistido muito menos para vir recepcioná-lo.
Os olhos de Duque brilharam com humor e ele respondeu sorrindo:
- Teria resistido somente um pouquinho, certo?
Elizabeth ampliou o sorriso que já tinha no rosto e rebateu colocando as mãos na cintura:
- Claro. Depois de anos de casado, eu ainda tenho que fazer algum charme. Caso contrário, as coisas ficariam muito fáceis para o senhor. Nós certamente não queremos isso.
Duque jogou a cabeça para trás e deu uma risada sonora, que fez com que Elizabeth quisesse ainda mais que os dois pudessem sair da vista dos olhares curiosos das pessoas entrando e saindo do The Globe. Não era todo dia que se via um casal flertando em público, ainda mais os dois que estavam casados há seis anos.
- Mas me diga, meu querido marido. A que devo sua tão ilustre presença neste final de tarde?
O moreno deu de ombros, numa tentativa de parecer ingênuo e a única coisa que ela queria fazer naquele momento era se enroscar nele.
- Acompanhar minha esposa até em casa. Talvez conseguir algo no caminho dentro da carruagem- Duque enlaçou a cintura da esposa e encostou o nariz na raiz do cabelo dela. Sentiu o corpo de Elizabeth tremer com a risadinha que ela soltou ao escutar quais eram as intenções dele.
- Imagino que as crianças estejam em casa jantando- Elizabeth comentou tranquilamente.
Duque franziu o cenho e soltou lentamente:
- Não, elas estão se aprontando para o jantar com a família Clark. Nós vamos até a mansão Clark hoje para comemorar que há um ano a senhora Elizabeth Irving está a frente do The Globe como chefe da redação. Achei que você não fosse se esquecer desse jantar, levando em conta o quanto sua irmã falou a respeito.
Elizabeth arregalou os olhos e soltou um pequeno gemido. Pelo visto, sua ideia de ir para casa tomar um chá quente e uma massagem nos pés seria adiada para bem mais tarde.
- É verdade. Nem acredito que estamos realmente fazendo esse jantar.
Duque deu de ombros, olhando a esposa de cima a baixo.
- Conhecendo você e a sua irmã, é o suficiente para saber que ela insistiria em fazer uma celebração e você insistiria em não ter. Mas como todos da família querem celebrar o seu trabalho brilhante no jornal, eu receio que não tenha muita escolha e ficar calada enquanto a louvamos. Pobrezinha, não sei como sobreviverá esta noite
Ele tinha um sorriso irônico no rosto, mas que ao mesmo tempo carregava um certo orgulho. Elizabeth não tinha palavras para descrever o quão exultante ficava ao ver como Duque sempre se mostrava orgulhoso com suas conquistas. Não era algo que se podia dizer de muitos maridos.
- Está bem, está bem. Acredito que não tenha muita escolha neste momento. Vamos logo para que essa tortura termine o mais rápido possível- Elizabeth fez um gesto dramático, fingindo que estava sofrendo quando na realidade ficava feliz em ter o apoio de sua família.
E exatamente por isso que quando chegou na mansão Clark, acompanhada por Duque e seus dois filhos, Agatha e Nathan, ela recebeu com carinho os abraços felizes de seus irmãos, de seu pai, cunhados e até Ethan que não tinha nenhum laço de sangue com os Clark, mas era sempre convidado para todas as comemorações em família. Ela sentou-se à mesa, comeu, riu e aproveitou a noite. Não poderia pedir nada melhor do que ser uma Clark.
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Exílio do Amor (Livro I da Série "Família Clark") [COMPLETO]
Historical FictionInglaterra, século XIX Elizabeth Clark não era nem um pouco parecida com outras damas da alta sociedade. Estava já em sua sexta temporada, o que automaticamente a fazia uma solteirona. Mas ao contrário da maioria das damas, ela não se incomodava nem...