- Elizabeth, o que está acontecendo? - Gregory perguntou, franzindo o cenho. Sua cabeça estava inclinada, enquanto ele fitava a noiva.
A dama abriu ligeiramente os olhos, saindo dos seus devaneios. O Pandemonium seria naquela noite e desde o momento que havia despertado, sua mente não conseguia pensar em outra coisa. Quase havia esquecido a visita aos pais de Gregory para acertar os detalhes do casamento. Uma cerimônia que tinha dois noivos totalmente desanimados. Ela conseguia ver no semblante de Gregory o quão desconfortável era para ele aquela situação.
Nos últimos dois dias, Elizabeth estava pensando muito sobre toda a sua situação. Estava tentando arranjar uma maneira de dizer para Gregory o que havia acontecido entre ela e Duque. Sabia que ele não ficaria especialmente magoado pelo beijo, mas ainda assim sempre quando ela ameaçava abrir a boca e dizer alguma coisa, as palavras simplesmente não vinham. A moça sentia um aperto no peito e as borboletas no estômago se revirar.
Encontrar os pais de Gregory ainda dificultavam duas vezes mais uma tarefa que já era difícil. Durante toda a visita, o senhor Smith parecia analisá-la de perto, percebendo cada pequeno movimento e expressão facial que Elizabeth tinha. Nunca havia se sentido tão observada e isso era muito difícil de acontecer, já que havia debutado na alta sociedade inglesa. Ser observada faz parte de todo o pacote. No entanto, o olhar do senhor Smith não era uma mera curiosidade bisbilhoteira, mas sim algo próximo do repreendedor, como se ela fosse uma criança aprontando alguma travessura.
A dama agradeceu aos céus quando o mordomo da casa entrou na sala, dizendo que havia um assunto urgente para o senhor Smith resolver. E ainda mais aliviada quando a mãe de Gregory aproveitou a deixa para ir até a cozinha verificar se havia mais sanduíches para serem servidos. Elizabeth tinha a impressão de que ela estava dando um espaço para os noivos ficarem a sós. A senhora Smith tinha na cabeça que o compromisso firmado entre os dois não era simplesmente por conveniência.
- Não, Gregory. Está tudo bem. Só estou um pouco cansada, os últimos dias na mansão Clark andam sendo agitados- o que não deixava de ser verdade, mas não era exatamente esse o motivo que a estava fazendo ficar inquieta e distraída durante aquela visita.
O cavalheiro arqueou uma sobrancelha e não parecia nada convencido com a justificativa de Elizabeth. Ele inclinou o corpo e pegou na mão dela:
- Se há algo que a está incomodando, pode me contar. Eu a conheço bem para saber que não é nada. Tenho até meus palpites.
Ele fez uma pausa, esperando que ela dissesse alguma coisa. Quando o silêncio ainda assim prevaleceu, o olhar azul dele prendeu o castanho dela e ele sussurrou:
- Pode me contar, somos amigos acima de tudo.
Elizabeth apertou a mão mais forte de Gregory a abriu a boca. Começou a sentir as palavras virem à tona, mesmo que estivesse apreensiva. Não podia deixar o amigo no completo escuro. Não era justo com ele e nem consigo mesma. E ela realmente teria dito tudo que estava pensando, caso não fosse a mãe dele entrando no recinto e anunciando:
- Gregory, mil perdões por interromper, mas eu havia esquecido dessa visita do alfaiate para o seu terno do casamento.
Quando Gregory parecia prestes a retrucar a mãe e pedir um tempo para terminar a conversa com Elizabeth, a senhora Smith continuou falando:
- Na minha cabeça havia marcado para amanhã, mas como ele já está aqui, acho rude mandar o homem embora. Será rápido, prometo.
O rapaz suspirou pesadamente, olhou novamente para Elizabeth e levantou-se. O andar dele era pesado e sua cabeça virou-se pela última vez antes de sair da sala, deixando a dama sozinha. Ela jogou suas costas no encosto da cadeira e deixou a cabeça pender de cansaço. Seu coração estava batendo forte pela confissão que estava prestes a fazer. Do pedido de desculpas que iria dizer por não poder cumprir sua promessa de casar-se com ele, de basicamente tudo que estava acontecendo.
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Exílio do Amor (Livro I da Série "Família Clark") [COMPLETO]
Narrativa StoricaInglaterra, século XIX Elizabeth Clark não era nem um pouco parecida com outras damas da alta sociedade. Estava já em sua sexta temporada, o que automaticamente a fazia uma solteirona. Mas ao contrário da maioria das damas, ela não se incomodava nem...