|Prólogo|

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Sentada em uma das cadeiras de balanço na área da casa da avó, Isabella pode ver perfeitamente o momento em que o irmão mais velho passou pelo portão, desta vez, acompanhado por outro garoto alguns centímetros mais alto, mas resolveu ignorar a cena, segurando o livro que lia com força em suas pequenas mãos.

A garota cruzou as pernas em cima da cadeira, com muito cuidado enquanto ajeitava seu vestido vermelho de bolinhas e passava os dedos pelos fios de seu cabelo, sabia que seu irmão estava se aproximando com seu convidado, podia ver isso pelo canto do seu olho, mas, aos 08 anos, já sabia se comportar perfeitamente, graças à boa educação dada pela avó, então, assim que chegassem mais perto, deveria cumprimentá-los, apenas para ser educada.

Poucos segundos depois, escutou a cadeira ao seu lado afundar, e logo em seguida a que ficava em sua frente, forçou-se a fechar o livro e encarar o irmão ao seu lado, os olhos azuis encarando-a com curiosidade.

– Bella! – chamou o irmão devagar, a voz calma, enquanto deixava a cabeça cair um pouco para o lado – O que estava lendo? Aliás, vovó não te disse que deveria ir brincar com a filha da Dona Ana?

– Não tenho mais idade para brincar de bonecas. – a garota protestou em voz baixa, não querendo que o convidado ouvisse a conversa dos dois.

– Você só tem 08 anos! – resmungou Peter franzindo a testa enquanto puxava o cabelo para trás.

– E você tem 10 anos, e nem por isso eu o vejo brincando de carrinho por ai. – a pequena garota rolou os olhos para cima e só então se lembrou do menino sentado a sua frente – E quem diabos é você?

Isabella sabia que não deveria falar desse modo com os convidados, mas vejamos bem, ela nunca foi fácil de lidar, e se a avó lhe ouvisse, tinha certeza que ficaria de castigo por pelo menos 02 dias, não que fosse lhe fazer muita diferença, já que ela nem mesmo saia de casa ou tinha alguma amiga.

– Impressão minha ou você acabou de me chamar de diabo? – pela primeira vez, Christopher abriu a boca desde que entrou na propriedade da avó do novo amigo.

O garoto estava assustado, tinha acabado de se mudar para a cidade e deu sorte de encontrar com Peter enquanto caminhava pela pequena e única praça que existia na cidadezinha que continha um pouco mais de 15 mil habitantes. Em poucos minutos, os dois se tornaram amigos e ele foi convidado para conhecer a casa de Peter, só não contava que o mesmo tinha uma irmã. E que ela iria o insultar antes mesmo de lhe cumprimentar.

– Isso não responde minha pergunta. – a garota com os cabelos de cor avermelhado cruzou os braços enquanto o irmão ao seu lado negava com a cabeça, fazendo o cabelo loiro escuro balançar.

– Meu nome é Christopher, mas eu prefiro só Chris mesmo. – ele se levantou, estendendo a pequena mão em direção a garota que agora levantava as sobrancelhas.

– Isabella. – com receio, ela estendeu o braço, apertando fraco a mão do garoto.

– Ótimo, agora somos todos amigos. – Peter levantou em um pulo ficando no meio dos dois – Vou procurar pela vovó, quero saber se posso convidar o Chris para jantar aqui.

– Por que? Você acabou de o conhecer. – a garota falou alto o suficiente para os dois escutarem, fazendo o rosto de Christopher atingir um tom avermelhado e os olhos do irmão quase saltarem para fora do rosto.

Isabella nunca soube quando ficar quieta. Isto era um fato.

– Bella, não seja mal educada, ele é meu amigo!

Depois de murmurar um pedido de desculpas, o irmão entrou correndo para dentro de casa gritando pelo nome da avó.

Isabella encarou o garoto à frente, sem vergonha nenhuma, enquanto ele se encolheu desconfortável. Depois do que pareceu longos anos, Christopher criou coragem para iniciar uma conversa com ela.

– Ainda não entendi o porquê de eu ser um diabo.

– Argh! – ela grunhiu levando as mãos ao rosto – É modo de falar, meu Deus, garotos são tão burros.

– E você é uma metida. E chata. – ele ficou bravo de repente, perdendo a pouca paciência que tinha ao levantar de pé cruzando os braços.

– Estou tão triste por você não gostar de mim e me considerar metida. – ela fez um biquinho fofo em claro deboche.

– E se eu sou o diabo você deve ser o próprio fogo do inferno.

– Mas escuta aqui seu... – antes que pudesse continuar sua frase bem construída e com muito mais palavrões do que uma garota de 08 anos deveria falar, sua avó e seu irmão voltaram de mãos dadas.

Isabella cruzou os braços se jogando de volta na cadeira enquanto bufava baixinho, um ato que não passou despercebido por Eleanor, a avó, que depois de alguns minutos convidou o menino para o jantar.

Naquela mesma noite, depois de colocar seu pijama azul bebê e dar um beijo de boa noite em sua avó e ignorar seu irmão, Isabella deitou na cama e respirou fundo, tinha certeza que o dia tinha sido péssimo, mas que com sorte, não voltaria a se repetir, alias, Peter trocava de amigo toda semana.

Mas, de fato, ela não poderia estar mais enganada.

Para meu inimigo, com amorOnde histórias criam vida. Descubra agora