Capítulo 27 - Sem Teto

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Existem momentos em nossa vida que parece que tudo ao nosso redor fica em câmera lenta. Geralmente, dizem que isso ocorre quando estamos perto da morte. Por uma fração de segundos, tudo para, e você vê a sua vida toda passando diante dos seus olhos.

Eu sentia que estava perto da morte. No meio dos aplausos, meus pais estavam ali em pé, no meio da plateia. Eles não me aplaudiam, só me encaravam com um olhar horrível e acusador. Era quase como se eu tivesse cometido um crime.

Me retirei do palco correndo, já sentindo que as minhas mãos tremiam. Isis e Elisa pararam para falar comigo, mas naquele momento eu estava ligada no piloto automático e não as respondi. Se aquilo era o que antecipava a morte, então eu estava mesmo muito ferrada.

Eu saí do auditório por uma saída alternativa e encontrei meus pais já me esperando do lado de fora. Caminhei sem coragem alguma de ir até eles, mas eu sabia que não adiantava adiar aquele momento, afinal, eles já tinham me descoberto.

— Eu posso explicar... — Mas eu não podia. Quero dizer, que explicação eu teria para isso? Eu menti para meus pais e falsifiquei documentos para poder estudar e ser livre. Para pais controladores como os meus, isso era equivalente a matar uma pessoa.

— Explicar o que? — Minha mãe perguntou, me olhando de modo decepcionado — Que nos fez de idiotas por todo este tempo?

— O que vocês estão fazendo aqui?

— Nós soubemos do evento e viemos ver as pinturas. — Meu pai respondeu, com os braços cruzados e os olhos frios — Um amigo nosso é um grande entusiasta de artistas desconhecidos e nos fez vir com ele. Ele foi embora no momento em que você entrou no palco. Imagina a nossa surpresa ao vermos a nossa filha, que pensávamos estar estudando direito na UFF, realizando um show como se fosse uma palhaça de circo!

— Vocês estão sendo injustos comigo! — exclamei, já aumentando o tom de voz — Eu só queria fazer o que eu amo, não estou fazendo mal a ninguém.

— Não, só a si mesma. Você está arruinando o seu futuro! Você tem uma carreira brilhante pela frente como advogada e está estragando tudo brincando de ser atriz!

— Eu não estou brincando! Isso não é um capricho! — gritei, já sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto — É assim que eu sou. Eu AMO o teatro! Eu não amo o direito, nunca amei! Vocês querem que eu seja algo que eu não sou, mas eu não vou ser uma advogada.

As palavras de meu pai abriram feridas em meu peito. Eles não entendiam que eu nunca seria feliz se eu seguisse os seus passos, e isso era horrível.

— Profissão não é amor, é sucesso. Maria Madalena, você é uma menina ingênua. Acha mesmo que vai conseguir ser atriz nesse país de merda? Acha mesmo que seu "talento" vai te levar a algum lugar? Você não passa de uma garotinha inconsequente que acha que tem algum talento. Aliás, com essa roupa você parece uma puta. Talvez em filmes pornôs você consiga ser reconhecida. — Dei um passo para trás, ofendida com as palavras duras e horríveis de meu pai.

— NÃO FALE ASSIM COMIGO! — Meus pais não se abalaram com meus gritos, e eu não me importei que muita gente assistia a nossa discussão. Eu estava ferida e irritada demais para me importar com o que os outros estariam pensando. Meu pai não tinha o direito de me ofender daquela forma. Ele até podia não apoiar e não acreditar em mim, mas já tinha ultrapassado todos os limites possíveis ao me chamar de puta.

— Nós vamos embora daqui agora e eu vou reparar seu erro te matriculando na faculdade correta. Já falei com o reitor da UFF e ele irá permitir que você ingresse lá. — Ele se aproximou de mim e fez que ia segurar meu braço, mas eu me desvencilhei de suas mãos.

Por trás da Máscara [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora