Capítulo 34 - Dia Bom

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Fazer terapia começou a me fazer muito bem. Já no fim da primeira sessão, a psicóloga Bianca me fez ter certeza de que nada do que havia acontecido era minha culpa. Nem com Heitor e nem com Danilo. As vezes eu ainda me pegava tendo raiva de mim mesma, mas o sentimento passava quando eu me lembrava que eu não tinha motivos para direcionar tanto rancor para mim mesma. Demorou um pouco, mas eu finalmente entendi que o único culpado era o meu agressor.

Também conversamos muito sobre a questão dos meus pais, e a cada sessão, era como se um pouco do peso que eu carregava no peito era retirado.

Elisa e Isis sempre me esperavam ao fim das sessões e as vezes Vicente também aparecia. Ele sempre me levava para comer em algum lugar e nós ficávamos encarando o mar no Niemeyer.

Heitor estava foragido até então, mas as investigações concluíram que o próprio barman tinha me dopado a mando de Heitor. Soube que eles eram amigos e que o barman tinha alegado que eu havia comentado com Heitor que queria ter um barato naquela noite, mas que a droga foi fornecida pelo próprio Heitor, e que o barman não tinha consciência de que me faria mal.

Sua confissão não o fez ser absolvido da culpa e ele foi preso. Porém, foi liberado mediante ao pagamento de uma fiança, o que fez tanto eu quanto meus amigos ficarem irados.

Faziam poucas semanas desde o que havia acontecido, e por mais que eu me sinta melhor, eu ainda não conseguia andar sozinha na rua em lugares desconhecidos. As vezes, eu deixava de agendar o estúdio para ensaiar porque não teria ninguém para ficar comigo.

Na primeira semana depois do quase estupro, Vicente vendeu os bolos de pote que fizemos. Eu tinha me esquecido completamente da existência deles, de modo que me surpreendi quando ele apareceu com o dinheiro das vendas para mim no fim do dia.

Fazer os bolos se mostrou ser uma terapia impressionante, assim como escrever. Eu comecei a redigir o roteiro de uma encenação com dança sobre tudo o que eu sofri e passei. Ainda não tinha comentado isso com ninguém, mas iria precisar da ajuda de Elisa, Isis e Vicente para essa tarefa. Pelo menos na minha cabeça, a ideia era genial. Assim que eu a terminasse, iria mostrar a proposta para meus amigos e para Fabio e Cecília. Se eles gostassem, talvez dessem um jeito de eu apresentar em algum evento da faculdade.

Já era de noite, e Vicente tinha acabado de sair do banho. Eu estava escrevendo loucamente no notebook de forma concentrada.

— Já sabe o que vai fazer pra aula da Rosana? — Rosana era a nossa professora de Maquiagem Cênica. Soltei um suspiro.

Ela havia passado uma tarefa de casa que consistia em maquiar uma pessoa representando as maquiagens de alguma das fotos que ela nos passou. Eram maquiagens difíceis e eu já sabia que não conseguiria reproduzir sem querer chorar de desespero.

— Ainda nem escolhi a maquiagem que vou fazer. Pensei nessa daqui. — Peguei meu celular e fui até a galeria, clicando em uma das fotos que a professora nos mandou. Apontei a tela do celular para Vicente e ele o pegou da minha mão para ver melhor.

— Essa parece fácil, mas é bem complicada. Esses riscos embaixo do olho você só consegue com muita precisão.

— Que ótimo, vou levar bomba nessa matéria. — bufei, apoiando a cabeça de qualquer jeito no encosto do sofá.

— Fica tranquila, eu posso te ajudar. Melhor fazer essa daqui. — Ele passou o dedo pela tela do meu telefone até parar na foto que queria. Vicente apontou a tela do meu celular na minha direção — Ela é um pouco difícil, mas nada comparada com as outras. Sem contar que nessa você pode ser um pouco mais livre nos detalhes. É melhor para quem tá começando.

Por trás da Máscara [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora