Capítulo 18 - Revolta

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A chegada do outono e a queda de temperatura fez a Madalena emo ficar ainda mais latente em meu ser. Agora, eu me vestia de preto até para dormir. Não tive mais nenhuma interação com Vicente pois decidi me afastar para poder me recuperar.

Isis e Elisa continuaram frequentando o Bar com os meninos, e até foram na Cantareira, um point que é muito procurado pela galera durante às quintas feiras. Eu preferia o Bar, mas de qualquer forma, a Madalena emo não gostava de sair.

Passei a ocupar meu tempo com coisas da faculdade e quando não estava fazendo nada relacionado a isso, eu ficava lendo um livro ou assistindo alguma coisa na Netflix. As vezes eu via Vicente bem próximo de uma garota, mas eu fingia que não tinha visto nada.

Ele não fazia coisas explícitas nem quando eu estava por perto, mas não tinha como Vicente saber toda a vez que eu ia aparecer no mesmo lugar que ele. E, quando isso acontecia, eu acabava vendo alguma coisa que me magoava.

Eu estava do lado de fora do campus, na rua, com cara de bunda. Minha mãe tinha me mandado uma mensagem dizendo que havia dado meu número de telefone para o bosta do Danilo. Ele ainda não tinha feito contato, mas era só questão de tempo para isso acontecer. Agora eu teria que me desfazer de um número que usava há anos por causa da minha mãe e da sina do meu ex.

Tentei ligar novamente para ela, mas só dava caixa postal. Eu estava com tanta raiva que olhei para o céu e gritei:

— MALDIÇÃO! — Chutei uma lata de lixo que caiu para o lado. O lixo que estava dentro ficou espalhado pelo chão. — Não, não, não!! — Me abaixei para catar os papéis e embalagens que caíram, já me preparando para correr para o banheiro mais próximo para desinfectar a minha mão.

— Que bicho te mordeu?

— Nenhum, mas se ficar me incomodando eu vou morder você! — Me levantei, enfurecida, e dei de cara com o mesmo menino lindo que eu vi no evento beneficente. Fiquei vermelha de vergonha e a raiva logo se dissipou. — Me desculpe, eu meio que me descontrolei.

Ele dobrou o cotovelo e colocou a mão atrás da nuca enquanto ria.

— Relaxa. Eu não sabia que você curtia ACDC. — Ele apontou para a blusa que eu usava.

Quando comprei a camiseta, eu não curtia a banda, mas me obriguei a ouvir as músicas para não pagar de poser. Comecei a gostar das músicas deles, apesar do rock não ser meu gênero favorito.

— Nem eu. — Fui sincera. — Veio fazer o que aqui?

— Vim resolver algumas coisas em relação a minha matrícula. Vou entrar no segundo período. — Ainda faltava um pouco para a chegada do segundo período, mas não muito. Lembrei que a minha mão deveria estar cheia de bactérias e que o menino tinha visto toda a cena grotesca e senti vontade de me enfiar naquela lata.

— Que ótimo. Seja bem vindo.

— Gostei de te ver. Estou ansioso para sermos colegas de classe. — Ele deu uma piscadela e entrou no campus da faculdade. Suspirei.

— Ei! — gritei. Ele se virou para mim. Com o vento, seu cabelo voava na frente do seu rosto. — Qual é o seu nome?

— Heitor! E o seu?

— Madalena!

— Prazer em te conhecer, Madalena. — Ele acenou e seguiu seu caminho. Levantei a lata de lixo. Lembrei que estava com as mãos sujas e corri para dentro dos dormitórios. Eu precisava lavar as minhas mãos.

Depois de desinfetar minhas mãos, eu saí do banheiro com o celular preso a orelha. Como minha mãe não atendeu, eu mandei um áudio irritado para ela.

— Eu não dei permissão para você dar meu número para o Danilo. Não me interessa se vocês querem que eu case com esse cara, eu NUNCA mais quero ter contato com ele! Torça para ele não entrar em contato comigo, porque se entrar, eu juro que vou trocar meu número e VOCÊ NÃO VAI SABER QUAL É! — encerrei a mensagem já aos berros, espantando quem passava pelos dormitórios. Enviei o áudio e enxuguei algumas lágrimas que caíam. Encostei minhas costas na parede e fechei os olhos, tentando me acalmar.

Lembrar de Danilo me fazia desenterrar memórias horríveis que eu não gostava de ter acesso. Sua mão no meu braço, seu acesso de raiva e todo seu descontrole voltaram à minha mente. Eu não queria mais saber dele, mas meus pais sempre davam um jeito de querer que Danilo estivesse na minha vida.

— Madalena, você tá bem? O que houve? — Vicente colocou a mão em meu ombro, preocupado.

— Nada, não foi nada. — Enxuguei a lágrima do rosto bruscamente na mesma hora em que vi a garota que acompanhava Vicente. Alta e linda como uma top model. O empurrei para o lado e saí marchando como se fosse um soldado.

Meu celular vibrou com uma mensagem da minha mãe:

Eu apaguei a mensagem que enviei para ele com seu número. Satisfeita?

Eu estava com tanta raiva que decidi nem responder. Agora só me resta torcer para que o imbecil não tenha visto a mensagem antes da minha mãe apagar.

— Eu devo ter jogado pedra na cruz para ter esse encosto na minha vida. — murmurei para mim mesma, voltando para o campus da faculdade.

— E aí, conseguiu resolver com sua mãe? — Isis perguntou um pouco mais tarde, se referindo ao fato de minha mãe ter dado meu número para Danilo.

— Parece que sim, porque o babaca ainda não entrou em contato comigo.

Eu, Isis e Elisa resolvemos bater perna no Plaza shopping. Nós não compramos nada, mas estávamos lá só para fazer alguma coisa diferente. Nós lanchamos, tomamos milk shake e ficamos conversando em um dos muitos bancos de madeira que ficavam espalhados pelo lugar.

— Sua mãe e seu pai são duas amebas. Sem ofensas. — Elisa disse, me lançando um olhar que temia que eu tivesse me ofendido com o "xingamento".

— Eu concordo contigo. Acho até que ameba não é a palavra correta para definir o que os dois são.

Isis e Elisa estavam sentadas de frente para mim. As duas arregalaram os olhos ao mesmo tempo e encararam algo que estava um pouco atrás de onde eu me encontrava.

— Não olha agora! — Isis pediu, mas eu já tinha me virado. Lá estava Vicente com a tal Top Model. Ele lhe dera um selinho no exato momento em que olhei para trás. Tentei ser rápida para que não me visse, mas Vicente olhou na direção em que eu estava no mesmo momento em que eu já fazia o movimento para me virar de costas.

— Merda! — exclamei.

— Vamos sair daqui.

— Não precisamos sair. Não é como se eu já não o tivesse visto com alguma garota desde que paramos de ficar. — dei de ombros e passei a encarar as minhas mãos.

— Vem, vamos procurar algo melhor pra fazer. — Elisa se levantou e estendeu a mão para mim. Eu a segurei e me levantei também.

Enquanto saíamos dali, não vi mais Vicente em lugar nenhum.

Por trás da Máscara [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora