A minha primeira aula do dia era História do Teatro. Era uma das matérias mais focadas na teoria do curso, mas isso não me desanimou. Sempre me interessei por tudo que tenha a ver com o teatro. A minha grade de horário era extensa e o curso de Artes Cênicas tomava quase meu dia inteiro. Fiquei animada ao ver que diversas das minhas aulas eram mais práticas do que teóricas.
Descobri que Elisa tinha se inscrito no mesmo curso que o meu, o que nos fez criar uma afinidade quase instantânea. Assim como Emily, uma amiga minha, ela também tinha uma mania de colecionar All Stars. A mala fechada que eu vi no dia em que nos conhecemos, na verdade, era onde ela guardava quase todos os All Stars que ela conseguiu trazer.
Coloquei todos os materiais que precisaria em uma mochila e caminhei junto com ela pelo campus. Os estudantes já estavam espalhados por ali e eu me impressionei com a quantidade de gente que esbarrei pelo caminho. Algumas pessoas estavam com violão nas costas e um grupinho de garotos tocava uma música do Vitor Klein perto das escadarias de entrada do campus.
— Eu tenho um fraco por músicos. — Comentou Elisa, encarando o grupo furtivamente.
— Eu também tinha, até reparar que eles são muito concorridos. — Nós passamos pelo grupo e subimos a escadaria, mas notei que Elisa continuou a encarar o menino que cantava, gesto que quase a fez cair de cara no chão no primeiro dia de aula.
— Acho que me apaixonei.
Eu segurei seu braço para ampara-la e dei uma risada. Hoje eu estava tão ansiosa e animada que decidi usar um visual mais vibrante para esconder minha verdadeira emoção predominante: A ansiedade.
Sempre fui muito boa em esconder meus sentimentos, e minhas roupas sempre me ajudaram nisso. Da mesma forma que posso expor como estou me sentindo, eu também posso camuflar muito bem minhas emoções.
Lembro-me de que comecei a fazer isso no começo do ensino médio, porque queria chamar a atenção dos meus pais, que começaram a pegar ainda mais no meu pé quando comecei a fazer parte de um grupo de teatro itinerante. Nós fazíamos algumas peças pelo bairro, e quando eles foram embora, queriam que eu fosse junto. Claro que meus pais proibiram e ainda ameaçaram processar os organizadores do grupo de teatro, alegando que eu era menor de idade e que estavam tentando corromper o futuro brilhante que eu tinha pela frente. Acho que eles nunca entenderam de verdade o que eu queria. Para eles, eu desejava desafia-los. Quanto a mim, eu só queria viver meu sonho.
Como Elisa elogiou meu look antes de sairmos, provavelmente este tinha vencido o look colorido de ontem.
O corredor da faculdade era extenso, e o bloco em que estávamos era o D. Nossas aulas seriam quase todas ali, exceto pelas práticas, que irão ocorrer em um dos muitos auditórios que existem.
Assim que pus os pés dentro da sala, fui golpeada por uma bola de papel.
Acho que voltei para o ensino médio e esqueceram de me falar!
Agarrei a bolinha de papel, furiosa, e encarei o dono daquele gesto grosseiro e infantil. Foi fácil identifica-lo porque ele ria como uma hiena naquele momento. Caminhei a passos largos e parei em sua frente com uma raiva absurda.
— Você esqueceu de sair do ensino médio, garoto? Você poderia ter me deixado cega! — Exclamei, indignada, devolvendo a bolinha de papel com brutalidade. Ele a segurou antes que caísse no chão.
— Não seja dramática! Foi sem querer! E eu nem acertei seu olho.
Apesar de eu ser alta, ainda tive que levantar um pouco a cabeça para encara-lo. Eu até o teria achado bonito se não estivesse com tanta raiva.
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Por trás da Máscara [CONCLUÍDA]
Chick-LitMaria Madalena Vitorino de Almeida - Ou Madalena/Madá para os íntimos - está empolgada por ser a caloura em uma das melhores Universidades de artes cênicas do Rio de Janeiro. Claro que ela estaria mais empolgada se não tivesse se inscrito no curso e...